Da Função Transcendente ao Rêverie

Na clínica Junguiana temos na técnica da imaginação ativa uma importante contribuição de Jung para a prática da psicoterapia, através da qual o paciente poderia estabelecer uma relação objetiva com imagens e personificações do inconsciente, possibilitando a integração de conteúdos inconsciente.

A função transcendente é conceito chave para entender a imaginação ativa, assim como outras possibilidades de aproximação ao inconsciente. A partir da função transcendente vamos pensar o conceito de função alfa de Bion, como correlatos que servem de base para pensar a imaginação ativa, visão imaginal de Schwartz-Salant e rêverie de Bion, fenômenos similares que nos ajudam a pensar o processo simbólico do analista durante a análise.

A Função Transcendente e a Visão Imaginal

No texto “A Função Transcendente”, escrito em 1916, Jung traz uma importante discussão, tomando como base a questão “De que maneira podemos confrontar-nos com o inconsciente?” (JUNG, 2000). O texto apresenta diferentes níveis de compreensão acerca da função transcendente, como aponta Damião Jr

Esse texto pode ser lido em diversos níveis de hermenêutica, ou variados modos de compreensão, são metadiscursos que se compõem a partir de outros discursos.

– Em um primeiro momento, pode ser entendido como um trabalho técnico/clínico, no qual se desenvolvem técnicas para acesso ao inconsciente e para o processo de iteração entre consciente e inconsciente, com ênfase propriamente na criação de imagens;

– Num outro nível, um texto epistemológico, pois como se verá ele aborda o problema dos modos de conhecimento do inconsciente e do consciente. Modo de distinção feita entre uma ênfase que seria dada no aspecto estético do símbolo ou em sua compreensão, tratando, também, da questão da “visão sintética”, um modelo de ciência que se basearia no sentido, em vez da explicação. Nessa perspectiva, existe um aspecto metodológico do uso do termo como função e como processo;

– Por fim, pode-se entendê-lo em seu aspecto ontológico, ao caracterizar o processo de formação do indivíduo, como se originando a partir do “confronto” e diálogo entre consciente e inconsciente. (DAMIÃO JR, 2019, p. 2-3)

A partir dessa perspectiva vamos nos ater ao aspecto técnico/clínico, considerando as possibilidades de acesso ao inconsciente, em especial à formação. No texto de Jung, a função transcedente emerge como um princípio organizador e integrador das tendências da consciência e do inconsciente. A função transcendente não seria um produto “artificial”, mas um princípio natural, uma função que se manifesta nos sí mbolos. Dada a importância do diálogo interior, como possibilidade de elaboração simbólica e integração do inconsciente, Jung desenvolveu, a partir da própria experiência, a imaginação ativa, como capacidade estabelecer um diálogo interior, de modo equilibrado, sem perda do inconsciente ou da consciência, ativando ou potencializando a função transcendente do paciente.

De forma geral, falamos da imaginação ativa como técnica a ser usada com e pelo paciente. Nosso foco não é aborda-la nesse contexto, mas pensar por parte do analista através da constratransferência. Sobre este ponto Jung afirma

Assim, um analista reage a uma “transferência” com uma “contratransferência”, quando a transferência projeta um conteúdo de que o próprio médico não tem consciência, embora exista realmente dentro dele. A contratransferência é adequada e plena de sentido ou inibidora como a transferência do paciente, na medida em que tende a estabelecer relações mais favoráveis que são indispensáveis para a percepção da realidade de certos conteúdos inconscientes. Mas justamente como a transferência, também a contratransferência possui qualquer coisa de compulsivo, de mecânico, porque implica uma identificação “mística”, isto é, inconsciente, com o sujeito. Ligações inconscientes desta espécie suscitam sempre resistências que são conscientes, se as disposições do sujeito são de tal natureza, que lhe permitam dispor livremente de sua libido, recusando-se a cedê-la por engodo ou sob pressão, e inconscientes, se o sujeito se compraz em que lha tomem. É por isto que a transferência e a contratransferência, quando os seus conteúdos permanecem inconscientes, criam relações anormais e insustentáveis que tendem para a própria destruição. (Jung, 2000 , p.221)

A influência exercida pelo paciente sobre o analista, se expressa na contratransferência, e possibilita que o analista entre em contato com o inconsciente do paciente atráves do próprio inconsciente. Cabe ao analista compreender essas manifestações – que podem ser sentimentos, sensações somáticas, lembranças pessoais, lembranças de filmes ou narrativas ou mesmo elementos aletórios do cotidiano do analista – devem ser consideradas como reações ou reverberaçōes do inconsciente do analista e precisam ser consideradas à luz da história ou transferência do paciente, para assim esse processo ser transformado em informações úteis ao analista.

A advertência que Jung aponta é o estado de inconsciência no paciente ou no analista. Através da contratransferência o analista se “faz de função transcendente para o paciente, isto é, ajuda o paciente a unir a consciência e o inconsciente e, assim, chegar a uma nova atitude” (Jung, 2000, p. 145).

Mas, como fazer a função transcente para o paciente? Jung nos dá uma direção importante:

O meu esforço consiste justamente em fantasiar junto com o paciente. Pois não é pouca a importância que dou à fantasia. Em última análise, a fantasia é para mim o poder criativo matemo do espírito masculino. No fundo, no fundo nunca superamos a fantasia.(…) Toda obra humana é fruto da fantasia criativa. Se assim é, como fazer pouco caso do poder da imaginação? Além disso, normalmente, a fantasia não erra, porque a sua ligação com a base instintual humana e animal é por demais profunda e íntima. É surpreendente como ela sempre ‘chega a propósito’. O poder da imaginação, com sua atividade criativa, liberta o homem da prisão da sua pequenez, do ser “só isso”, e o eleva ao estado lúdico. O homem, como diz SCHILLER, “só é totalmente homem, quando brinca”. (Jung, 1999, p 43)

A fantasia ou mais propriamente a imaginação é a capacidade de expressar em imagens e palavras o processo vivenciado com o inconsciente. De forma que o conteúdos sejam objetivados, permitindo que o ego estabeleça o diálogo interior. Na análise, ocorrerá a transposição da vivência da contratransferência em símbolos (imagens, palavras, sentimentos, sensações), através de uma dialética interior, que no momento propício será compartilhado ao paciente na relação terapêutica.

De modo similar, porém muito particular, o analista Nathan Schwartz-Salant, que trabalhou com casos-limite ou borderline, em quem a dificuldade de elaboração simbólica é pronunciada, desenvolveu a experiência de “imaginar junto” como uma possibilidade da simbolização e elaboração de conteúdos proto-simbólicos, da parte psicótica da personalidade, integrando-os e favorecendo o fortalecimento e organização do ego dos pacientes.

Schwarzt-Salant denominou essa técnica de visão imaginal, e diz

A visão imaginal é como a imaginação ativa, mas, ao utilizar a visão imaginal na terapia, e essencial que 0 inconsciente do terapeuta seja constelado por meio de sua contratransferencia. Por exemplo, só depois que me tornei consciente de minhas tendências de cisão e de um afeto pouco modulado que nao atraia às partes psicóticas de John, pude começar a usar esta reação de contratransferência. Submetendo-me de modo consciente a esse estado induzido de contratransferência e ficando incorporado, pude deixar que a imaginação me levasse a perceber a sua sondagem no segundo plano.


A esfera imaginal não se manifesta necessariamente através de imagens visuais; 0 sentimento e a sensação cinestésica são também canais naturais. É possível que a natureza do ato imaginal seja matizada pela função inferior do terapeuta, de modo que um terapeuta verá “visivelmente”, enquanto outro verá “sentimentalmente”. De qualquer forma, 0 processo exige que 0 terapeuta se deixe afetar pelo material do paciente sem ter que recorrer a interpretações, que, na melhor das hipóteses, se revelariam uma manobra defensiva.

A imaginação é um ato nascido do corpo. Surge de uma matriz de confusão e desordem. A fé, e não tanto a vigência da compreensão, e a parteira.(SCHWARTZ-SALANT, 1992, p,214)

A visão imaginal é uma variação da imaginação ativa realizada pelo analista, não ouvimos muito no cenário junguiano falar dessa modalidade de relação ou manejo com a contratransferência. A visão imaginal não ganhou força ou presença no campo junguiano, diferente de seu correlato psicanalítico, o conceito de rêverie, que desde que foi apresentado em 1962 por Bion, foi incorporado é trabalhado por vários autores. A semelhança dos dois conceitos nos possibilita pensar e amplifciar a visão imaginal a partir das discussões acerca do rêverie.

A função Alfa e o Rêverie

W.R Bion foi um dos mais criativos e inovadores psicanalistas do século XX. A amplitude e produndade de sua obra, desenvolvimento de técnica psicanalítica que, como é bem conhecido, em vários aspectos se aproxima e tangencia a obra de Jung.

Bion desenvolveu sua teoria ao pensar a partir de seu trabalho com pacientes psicóticos, desse trabalho destacamos os elementos beta, elementos alfa e função alfa.

Os elementos beta corresponderiam aos elementos da experiência sensorial e afetiva que não se integram ao psíquico e não estabelecem vínculo ou conexão, “proliferando” de forma caótica, em si mesmos incapazes de se tornarem representação, quer em pensamento ou sonhos. Esses elementos são descarregados (ou evacuados) em forma de agitação motora, choro, somatizações ou na identificação projetiva. Em linguagem junguiana poderíamos compreendê-los como elementos psicóides, proto-simbólicos, não integrados, a “massa confusa” da alquimia.

Os elementos alfa são elementos basais da experiência psíquica, são as primeiras representações, vivências simbólicas basais que abstraem a experiência em si, e que se organizam e podem se manifesfar nos processos oníricos, na memória e demais funções psíquicas superiores. Para Bion, a diferenciação de “dentro e fora” surge a partir dos elementos alfa que geram uma “barreira de contato”, diferenciando o que é consciente e inconsciente. O ego pode lidar e elaborar os elementos alfa.

A função alfa atua no processamento dos dados sensoriais, elementos beta, em elementos alfa. O bebê não possui função alfa, a capacidade de processar os elementos beta, é através da função alfa da mãe que, p.ex., diante do choro, agitação motora, sons lhes atribui um sentido/significado, nomeando como fome -> e o amamenta, sono -> e faz o bebe dormir), incôdomo com excrementos -> troca as fraldas, dores -> dá remédio; possibilita que a criança tolere o incômodo/frustração e abre caminho para a “psiquificação” dos dados sensoriais, nomeados como fome, sono, incômodo, dor, gerando elementos (alfa) que poderão ser ordenados, participar da formação do pensamento, sonhos, ser nomeados e vividos conscientemente. A mãe aberta aos processos da criança acolhe esses dados projetados e devolve como um elemento integrado, simbólico. A criança irá desenvolver sua própria função alfa a partir da experiência materna.

A função alfa materna também é expressa com o conceito de rêverie. Zimmerman explica

Essa denominação foi cunhada por Bion (1962, p. 58) e, tal como a sua raiz francesa mostra (rêve = sonho), designa uma condição em que a mãe (ou o analista) está em um estado de “sonho”, isto é, está captando o que se passa com o seu filho não tanto através da atenção provinda dos órgãos dos sentidos, mas muito mais pela intuição, de modo que uma menor concentração no sensório possibilita um maior afloramento da sensibilidade. Em suma, diz Bion: “a rêverie é um componente da função α da mãe”, capaz de colher as identificações projetivas da criança, independentemente de serem percebidas por esta como boas ou más.

Da mesma forma, o estado de sonho da função rêverie do analista possibilita que dê um livre curso às suas fantasias, devaneios e emoções, em um estado mental que lembra o da “atenção flutuante” preconizada por Freud e que serviu de inspiração ao que Bion veio a postular como um estado do analista em relação com o paciente “sem memória, desejo ou compreensão”. Pode-se dizer que o conceito de rêverie é uma ampliação e complementação da “atenção flutuante”. (…)
A função de rêverie é estudada por Bion como a capacidade da mãe (analista) de fazer a identificação introjetiva das identificações projetivas do seu filho (analisando); ou seja, é a capacidade de fazer ressonância com o que é projetado dentro dela. (Zimerman, 2008, p.231)

O rêverie ou função alfa da mãe é internalizado (introjetado) pela criança, possibilitando o desenvolvimento da consciência (barreira de contato), a formação simbólica. Contudo, o que se torna importante é a relação do rêverie com o processo analítico. Através do rêverie o analista transforma os conteúdos, manifestos na contratransferência em material analítico. Nessa perspectiva, o

Rêverie, por outro lado, foi a ideia que ele aplicou para descrever a atitude do analista durante a sessão, podendo ser alcançada apenas depois que o analista tenha se tornado capaz de abandonar memória, desejo, preconcepções e compreenênção. (…) o analista disciplinado para aguardar a chegada do fato selecionado, elemento que finalmente emerge das associações do analisando e/ou nutralmente a partir do inconsciente do próprio analista sob a forma de “imaginação especulativa”, a qual é então transformada em “raciocínio especulativo” em ressonância intuitiva com o analisando (GROTSTEIN, 2017 p.364).

É possivel compreender que a função transcendente e a função alfa correspondem ao mesmo princípio formador de símbolos, que integram e perminte a nossa percepção da realidade.

Imaginação Ativa, Visão Imaginal e Rêverie

Como atividade imaginativa e intersubjetiva o rêverie apresenta similaridades com as técnicas junguianas imaginativas. Mark Winborn aborda o reverie e a imaginação ativa dizendo que

A postura adotada no rêverie é semelhante à da imaginação ativa de Jung (1916), na qual um relacionamento ou postura é estabelecido com o fluxo interno. A imaginação ativa, que foi descrita como “sonhar com os olhos abertos” (Sharp, 1991, p. 13), é uma técnica desenvolvida por Jung para facilitar o envolvimento e a assimilação de processos inconscientes em um estado relaxado, mas acordado. Entretanto, é importante observar que Jung via a a imaginação ativa como uma atividade envolvida principalmente pelo analisando que, às vezes, pode ser facilitada pelo analista. Não parece que Jung via a imaginação ativa como algo que era praticado com outra pessoa, como o rêverie é tipicamente conceituado. (…)

Em contraste com a imaginação ativa, o Rêverie analítico tem sido um conceito diádico desde o início. Ogden (2017) se refere ao rêverie como um “sonho acordado” (p. 5), mas que é sonhado com outra pessoa e não sozinho. Nesse sentido, Ogden (1997) vê o rêverie como um evento pessoal/privado (ou seja, intrapsíquico) e intersubjetivo. Em outras palavras, ele reconhece a presença de de duas subjetividades que podem experimentar sua interação como sendo tanto individual e coletiva (ou seja, como uma experiência interconectada e emergente) (WINBORN, p. 134)

O rêverie e a visão imaginal são expressões do mesmo fenômeno vivenciado pelo analista que possibilita a construção do “terceiro analítico”, fruto da relação analítica, no espaço potencial entre o analista o paciente, a partir do qual podem ocorrer as transformações. A psicanálise contemporânea tem trabalhado bastante com a conexão e o potencial transformador do processo analítico. Ogden comenta que

A nova subjetividade (o terceiro analítico) permanece na tensão dialética com as subjetividades individuais do analista e analisando. Não considero o terceiro analítico intersubjetivo como entidade estática; ao contrário, compreendo-o como uma experiência em evolução, em fluxo constante na medida em que a intersubjetividade do processo analítico é transformada pelas compreensões geradas pelo par analítico;

O terceiro analítico é vivencidado pela personalidade de cada um, analista e paciente, não sendo, portanto, uma experiência idêntica para ambos. A criação do terceiro analítico reflete a assimetria da situação analítica, pois ele é criado no contexto do setting analítico que, por sua vez, se estrutura por meio do relacionamento dos papéis de analista e analisando (OGDEN, 2013, p.43).

O terceiro analítico, que emerge do campo transferêncial, que sustenta a análise é o vas hermeticum, o vaso alquimico ou o temenos, o local sagrado e protegido onde o sagrado se manifesta. Esse campo simbólico é alcançado, visto e vivido por meio de uma atitude analítica simbólica, que pode ser expressas por diferentes vias como a imaginação ativa em Jung, pela visão imaginal em Schwartz-Salant ou rêverie em Bion.

O rêverie e a visão imaginal possibilita que o analista, em coniuncio com o paciente, possa acessar os conteúdos constelados na relação terapêutica inconsciente e trazer uma interpretação (sobre interpretação veja o texto Pensando a interpretação na Psicologia Analítica). Esta última deve ser compreendida como um ato analítico-simbólico que conecta situação presente/sintoma do paciente, com conteúdos da matriz inconsciente (complexos, defesas, etc) gerando a possibilidade de transformação. Ou mesmo, compreendo o momento para utilizar outros recursos com o paciente como a imaginação ativa ou a técnicas expressivas.

Devemos levar em consideração os casos que os pacientes com dificuldade ou aparentemente incapazes de simbolizar, isto é, com ego frágil, excessivamente defensivos, que Jung e autores de primeira geração falavam de “psicose latente”, e que hoje compreendemos como estados-limite ou pacientes borderline, onde não seria indicado a imaginação ativa. Nesses casos há uma inibição defensiva da função transcendente (ou uma falha da função alfa), assim, o processo interpretativo (por ser um processo simbólico) não é bem sucedido.

Com esses pacientes, é necessário restaurar capacidade de vivenciar a função transcendente e o processo simbólico. Cabe ao analista, fazer a função transcendente/função alfa para o paciente, utilizando a visão imaginal/rêverie, para que ele possa transformar os conteúdos proto-simbólicos/psicóides do paciente, assim como a experiência cindida de si mesmo e da realidade.

o terapeuta que se aventura a recuperar a visão imaginal do paciente não pode dar-se 0 luxo de deixar passar as distorções de realidade que afligem indivíduo limítrofe. (Para isso, e para uma compreensão geral do paciente limítrofe, a literatura psicanalítica é valiosissima(…) A menos que lidemos com 0 modo como 0 mundo esta cindido para o paciente limítrofe (por exemplo, em objetos irreais “bons” e “maus”), nossas tentativas de religar 0 paciente a uma reaIidade imaginal produzirão apenas uma secreta inflação e reforçarão uma abordagem delirante da realidade (SCHWARTZ-SALANT, 1992, p. 18).

Com os pacientes limites a transferência de conteúdos proto-simbólicos gera incômodo e, com frequência, gera contrarrestência no analista – ativando defesas e interrompendo a possibilidade da relação simbólica. Schwartz-Salant sugere que através da visão imaginal, é possível que, em alguns casos, o paciente reintegre sua visão imaginal, restaurando a função transcendente, que fora inibida defensivamente. A retomada da relação com o inconsciente é um processo integrativo, por isso devendo ser compreendida como a restauração da função transcendente.

A função transcendente é um conceito junguiano importante, contudo foi pouco desenvolvido e ampliado em direção aos processos de desenvolvimento e sua função na análise. O paralelo com a função alfa, nos permite vislumbrar e amplificar a percepção da função transcendente, cuja amplitude o campo junguiano intui, mas sem sistematizar. Do mesmo modo, que os estudos psicanalíticos acerca do rêverie temos a amplifição a proposta do Schwartz-Salant, uma contribuição impar no cenário junguiano.


Referências

DAMIAO JR., Maddi. A função transcendente: algumas reflexões sobre o processo de criação. Pesqui. prát. psicossociais [online]. 2019, vol.14, n.4 [citado  2024-03-26], pp. 1-17 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-89082019000400007&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1809-8908.

GROTSTEIN, James S. “… no entanto, ao mesmo tempo e em outro nivel...” Vol I , São Paulo: Blucher, 2017.

JUNG, C.G. A natureza da Psique, Petropolis: Vozes, 2000.

JUNG, A Prática da Psicoterapia,Petrópolis: Vozes, 1999.

OGDEN, T, Rêverie e interpretação, São Paulo: Escuta, 2013.

SCHWARTZ-SALANT, N. A personalidade limítrofe: visão e cura.São Paulo: Cultrix: 1992.

ZIMERMAN, David E. Bion : da teoria à prática : uma leitura didática;. 2. ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.

Publicado em Clinica Junguiana, Conceitos Fundamentais, Uncategorized | Com a tag , , , , , , , , | Deixe um comentário

O Brilho nos Olhos do Analista

Um recorte muito comum na clínica são casos de  jovens mulheres com complexo materno negativo, que leva a sérias dificuldades de auto percepção, auto aceitação e autoestima ( homens também podem apresentar as mesmas características, mas dado nosso contexto social, vemos mais frequentemente em mulheres). Estes se manifestando com frequência com perfeccionismo, ansiedade, a culpa, e um censo de responsabilidade gigantesco e opressivo em relação à mãe. 

As mães, no geral, são mulheres sofridas, muitas vezes vindas do interior, que criaram os filhos sem apoio familiar (da família de origem) e com dificuldades em relação à família do marido – estes últimos, no geral, ausentes, machistas etc ; e com frequência, com dupla jornada, se viam exaustas e fazendo o que lhes era possível no cuidado dos filhos. 

Nessas condições, essas mães cujo sofrimento era invisibilizado,  estavam despotencializadas/desvitalizadas e, assim, impossibilitadas de oferecer o investimento afetivo necessário/demandado pelo desenvolvimento dos filhos. 

Mario Jacoby, do livro “Individuação e Narcisismo”, nos ajuda a entender um pouco desse processo quando diz que   

O senso da autoestima deve ser conservado por ações e reconfirmado constantemente. Ao mesmo tempo, uma autoestima sadia não atribui valor ao indivíduo somente mediante consecução. O “brilho nos olhos da mãe” introjetado também gera um sentimento interior de que a existência inteira de alguém é confirmada. O outro polo, no caso excelente, contém ideais maduros. Estes envolvem questões suprapessoais maiores ou menores, as quais são muitas vezes consideradas doadoras de sentido à existência do indivíduo. (JACOBY, 2023, p.150) 

Jacoby utiliza uma concepção de Kohut sobre a importância do “brilho dos olhos da mãe” como a capacidade de espelhar o Self,  para que o bebê possa internalizar/integrar a experiência de si-mesmo.  O “Brilho nos olhos da mãe” é um investimento narcísico importante, que vitaliza e potencializa o desenvolvimento. Quando a relação mãe-criança é prejudicada, o conjunto de sintomas pode surgir pela não humanização de aspectos fundamentais de autocuidado, autopercepção e sentido de si-mesmo, ou de estar em si-mesmo.  

O sofrimento do paciente aponta para o registro histórico-afetivo que chamamos de complexo materno negativo, contudo, há outro registro tão importante quanto, que é a ferida narcísica  vivenciada pelo ego como elementos de rejeição, indigno de amor e insuficiência e revivida em suas relações. Na relação transferência-contratransferência tanto os conteúdos afetivos negativos (medo, raiva, sentimento de abandono e rejeição) como conteúdos saudáveis que precisam humanizados, para uma relação saudável consigo e com o outro, podem ser elaborados.  Lidar com complexo materno exige atenção, paciência e técnica, mas lidar com a ferida egóica exige o “brilho nos olhos do analista”, para ser capaz de encontrar “o que não tem forma”, o que ficou perdido e cuidar, investir nele, dar continência, forma, contorno aos aspectos ainda sem forma do Self.  Gambini fala da transferência de uma forma muito bonita, ele diz: 

Na esfera psíquica, alguém precisa cuidar do que ainda não nasceu e essa tarefa é do analista. Depois que veio à luz, começa-se cuidadosamente entregar o bebê para a mãe. O trabalho mais importante é na realidade aquele feito com o feto, quando só o terapeuta tem condições de enxergar e valorizar aquilo que ainda não tem cara nem nome. Portanto, aceito sentimento como dependência, gratidão, amor, cobrança, raiva, desejo de exclusividade e de atenção especial, por considerá-los como inevitáveis nessa fase de gestação. O grande teste para um analista é a hora que ele constata que consegue suportar o peso e a responsabilidade da transferência. (GAMBINI, p.111 – grifo meu) 

Assim, é importante pensar que muitas vezes  os componentes maternos mobilizados na contratransferência apontam a criança ferida que, escondida no inconsciente do paciente, busca o brilho nos olhos do analista para que possa vir à luz, para que a reparação do amadurecimento interrompido possa ganhar contorno, forma e direção. Esse processo exige o investimento e consciência ativa do analista, para que não seja levado a “atuar” maternalmente, tutelando o paciente e, assim, prejudicando o desenvolvimento do paciente. 

referências bibliográficas

GAMBINI, R. A voz e o tempo: reflexões para jovens terapeutas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.
JACOBY, Mario, Individuação e Narcisismo – A psicologia do si-mesmo em Jung e Kohut, Petrópolis: Vozes, 2023.

________________________________________________________________

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi


Publicado em Clinica Junguiana | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Sobre o Complexo Materno – uma perspectiva desenvolvimentista

O complexo materno é um pilar fundamental na estruturação da vida psiquica e talvez seja um dos exemplos mais usados quando vamos ilustrar a teoria dos complexos descrita por Jung. Por isso, recentemente fui surpreendido quando questionado se havia algo sobre o complexo materno no blog “Jung no Espirito Santo” e, de fato, não havia nada. Em cerca de 14 anos de blog eu nunca me dediquei a escrever sobre o mesmo. Assim, esse texto é uma forma de reparação, sendo um pouco mais aprofundado sobre esse complexo.

Do Arquétipo ao Complexo – Origens do complexo materno na infancia

Toda vez que falamos em complexo ideoafetivo o qualificamos a partir de seu arquétipo nuclear, isto é, o arquétipo que o estrutura, organiza e qualifica. No caso do complexo materno falamos também sobre o arquétipo materno também chamado de “arquétipo da Grande Mãe”.

O Arquétipo da Grande Mãe condensa a experiência humana do que chamamos de “maternidade” desde os primórdios. Neumann nos chama atenção em seu trabalho “A Grande Mãe” aos apectos elementares desse arquétipo;

No centro do caráter elementar feminino, onde a mulher contém e protege, nutre e dá a luz, se encontra o vaso que é tanto um atributo, como um simbolo da natureza femina.(Neumann, 2003, p.111)
(…) em sua qualidade protetora e acolhedora, congrega em si a vida da familia e do grupo sob o simbolo da casa. Esse aspecto aparece nas chamadas urnas domésticas, vasos moldados na forma de casas. Até os dias de hoje, o caráter vaso feminino, originalmente vinculado à caverna, e depois à casa(no sentido de estar dentro e estar protegido, aquecido ou abrigado no interior da casa), sempre esteve relacionado com a vivência original de ser contido pelo útero (idib, p.125)

Em seu aspecto mais fundamental o arquétipo da grande mãe, representado no vaso, traz as funções positivas basais de nutrição e proteção(contenção) como fundamentos da experiência arquetipica da maternidade. Expressos imagéticamente na mãe-terra, nas deusas-mãe, na fertilidade e segurança.

Em seu aspecto negativo, o arquétipo materno expressa as forças contrárias à relação mãe-filho, isto é, às relações de nutrição e proteção, como a carência, falta e exposição, assumindo o aspecto da mãe terrivel e devoradora, representada nas mitologias nas bruxas, na madrastas dos contos de fadas, assim como no aspecto irado das deusas da fertilidade que fazem sofrer todos os viventes. O aspecto duplo do arquétipo (bom e mau), é uma base fundamental para o desenvolvimento das relações objetais.

Os arquétipos são padrões basais de organização psiquica(pessoal e coletiva) que, em seu aspecto coletivo percebemos através de mitos, rituais, contos de fada. Em seu aspecto pessoal estão na base da possibilidade de desenvolvimento psiquico, tanto do ego quanto dos complexos.

Antes de falarmos de um psiquismo propriamente dito, temos uma fase anterior, a partir da qual o psiquismo poderá se desenvolver. Na fase de gestação, parto e nos meses subsequentes não há, no bebê, uma distinção entre corpo e psique, nem dentro e fora, o “Self-bebê” é como um “todo integrado” (corpo-psique), ao que Fordham chamou de Self primário. A partir do nascimento, o Self primario é invadido dos estímulos sensioriais(auditivos, visuais, táteis), cinestésicos, cenestésicos (que começam antes do nascimento e se multiplicam após o parto) que mobilizam o Self num processo de atualização, trazendo o potencial arquetípico para o tempo histórico num processo contínuo e rítmico que Fordham descreveu como deintegracao-reintegração.

É importante ressaltar que, o início da vida, não há um ego organizado, nem uma consciência diferenciada dos processos fisiológicos, assim ainda não podemos falar de símbolos nesses processos precoces, mas sim de objetos, que mobilizam e possibilitam os processos necessários ao amadurecimento. No inicio da vida o Self primário do bebê está mobilizado pela dinâmica do arquétipo materno, pela experiência fisica proteção/estabilidade por de estar contido na mãe(vida intratureina) e, posteriormente, por ser contido pela mãe – colo, cuidados, manejo. Assim como pela nutrição necessária a vida.

Inicialmente, o bebê não percebe a mãe uma “pessoa” mas como sensações, percepções que afetam, mobilizam e geram transformações no Self primário do bebê. Esse processo foi nomeado por Fordham como deintegração-reintegração. Nessa fase da mãe como “objeto” é descrita por C. Bollas como “objeto transformacional”

(..)chamei o primeiro objeto de objeto transformacional, uma vez que quero identifica-lo com a experiência que o bebê tem dele. Antes de a mãe ser personalizada para o bebê como um obejto total, ela funciona como uma região ou como uma fonte de transformação. (…) (BOLLAS, 2015, p.63)

(…) Uma vez que esta é uma identificação que começa antes da mãe ser representada mentalmente como um outro, é uma relação objetal que não emerge do desejo, mas de uma identificaçao perceptual do objeto com sua função: o objeto como transformador ambiente-somático do sujeito. A memória dessa relação objetal precoce se manifesta na busca da pessoa por um objeto (pessoa, lugar, evento, ideologia) que prometa trasnformar o self. (BOLLAS, 2015, p.50)

A partir da relação primária com o ambiente materno, as experiências arquetípicas do Self do bebê deintegram-se (isto é, como se partes do Self, em estado de prontidão, se desdorassem para receber a experiência atual) e são reintegradas ao self do bebê, fundamentando o caminho do desenvolvimento da experiência pessoal. O processo de deintegração-reintegração ocorre ao longo da infência, através da constância das relações e transformações que do bêbe vive em sua relação com o ambiente (mãe/cuidadores), dessa constância e atualização do potencial arquetípico(deintegrados) desenvolvem-se os objetos do Self que mobilizam e estabilizam a criança em seu amadurecimento e na relação os objetos reais. Dos objetos do self , desenvolvem-se as representações do Self, que são estados parciais de consciência ou “ilhas de consciência”, que virão a formar os núcleos do ego. Os objetos do Self formam a base arquetípica para os complexos.

O arquétipo materno é a dinâmica fundamental que possibilita e sustenta a relação mãe-bebê, que é humanizado, ou seja, se torna acessível à consciência através da vinculação e apego com a mãe. A experiência transformacional do cuidado materno possibilita a transição do somático para o psiquico. Esse processo envolve, especialmente, o que Bion descreveu como a função alfa materna ou revêrie materna.

Acredito que devemos fazer uma breve explicação, Bion postulou que haveria dois elementos basais da psique, os elementos beta – que se seriam relacionados as sensações, emoções e percepções que não estariam disponíveis aos processos superiores da psique (sonho, pensamento p.ex), isto por serem pré-simbólicos, psicódes. Os elementos alfa, por sua vez, que poderiam ser representados na psique, como parte fundamental do pensar, sonhar e experimentar a realidade, por serem representações, sendo elementos simbólicos compatíveis com a consciência do ego.

Na primeira infancia, os elementos beta seriam transformados em elementos alfa pela ação materna mais precisamente pela função alfa materna, que atua quando a mãe percebe seu bebê, suas expressões do bebê, e transforma suas reações fisiológicas em comunicação, como, por exemplo, atribuindo ao choro um signficado, nomeando e seja como fome, dor, frio/calor etc, e assim ao nomear ações, afetos, sons a mãe possibilita o desenvolvimento da capacidade de simbolizar do bebê, tornando conscientes e acessíveis à consciência, processos então inconscientes.

A descrição dos elementos beta e alfa, de Bion, e, especialmente da função alfa ou reverie materna, é importane pois a partir da função alfa materna que se desenvolve a função alfa do bebê, isto é, a capacidade de simbolizar. Esta é uma referência importante para pensarmos o desenvolvimento do que Jung descreveu como função transcendente na infância.

Esse processo de constituição do complexo materno a partir das experiências e transformações que ocorrem na criança se extendem ao longo de toda infância, até o ego maduro ser capaz exercer a função alfa, ou a função transcdente. Esse modelo é fundamental que se estende à prática analítica, deve-se notar que vaso alquimico descrito Jung como uma representação do enquadre analítico, assim como a relação conteudo-continente de Bion, são alusões ao processo fundamental e transformacional relacionado ao arquétipo materno, assim como a possibilidade de imaginativa e intregadora simbólica da função transcendente de Jung e sua correlata bioniana função alfa materna.

Dessa forma, podemos compreender a relação arquétipo materno -> mãe/ambiente-> complexo materno é importante por ser a base para:

1 – A vivência de estar em si-mesmo como experiência de segurança/proteção e nutrição se relaciona diretamente com nos padrões relacionais vinculos e apego (como descreveu Bowlby).

2 – O cuidado materno/cuidadores provendo um ambiente suficientemente bom, possibilita que a partir dos objetos bons internalizados para experienciar-se como bom e assim para o desenvolvimento saudável do ego, tendo uma autoimagem, autopercepção e autoconceito saudáveis.

3 – A função transcendente, isto é, a tendência de integração da consciência e o inconsciente que se expressa na formação de simbolos, está diretamente relacionada a atitude simbólica materna, na revêrie ou função alfa materna.

O Complexo Materno e sua relação com o Ego

Os complexos integram, organizam e disponbilizam nossas memórias signifivativas(isto é, as memórias que podem ser sensações ou representações com teor afetivo), como referências para o Ego. A experiência relacional mãe-criança é de uma complexidade que envolve por um lado a experiência mais própria do Self, como fundamento da experiência individual e, por outro, da experiência da mãe pessoal. Por isso mesmo há um contorno diferenciado ao complexo materno. Desde modo, o complexo materno possui caracteristicas próprias e poderia ser compreendido por duas perspectivas:
– Complexo materno como representação do Self
– Complexo materno como experiência com o cuidado materno pessoal

– Complexo materno como representação do Self

Na infância a imagem/experiência da mãe é asimilada pela criança, criando uma imagem ou objeto interior que não é caracterizado apenas por memórias e afetos relativos a mãe/cuidadores pessoais(isto é, o complexo), mas pela imagem ou projeção do Self. Essa projeção é uma experiência numinosa e transformadora foi descrita pelo escritor britânico William Makepeace Thackeray como a “mãe é o nome de Deus nos lábios e corações das crianças pequenas.” A experiência da mãe, pela identificação projetiva, é a própria vivência de si-mesmo.

A internalização da experiência com a mãe boa o suficiente possilita a experiência de si-mesmo como bom, como Fordham aponta que

“os objetos bons: eles podem ser projetados no seio, que se torna idealizado e pode gerar não apenas satisfação mas uma sensação simultânea de êxtase. O seio bom também pode ser assimilado, introjetado, e isso dá ao bebê a oportunidade, de ter dentro de si mesmo objetos bons, aumentando a vivência de si mesmo como bom, pela identificação com o objeto bom” (FORDHAM, 2001, p.107)

A experiência de si mesmo como bom, possiblita uma formação de ego coeso, baseado numa experiência positiva com o corpo e com o ambiente. Acima nos referimemos ao arquétipo materno, cujo deintegrado é objeto transformacional que promove transformações no corpo e psique. Com o desenvolvimento consciência e da capacidade de simbolizar, a vivência da mãe/cuidadores como um objeto interior assume contornos importantes, como mediador da relação do Ego com o Self. É por isso, que as experiências de perda, abandono, repúdio e desproteção podem ser cruciais na infância.

É a ação primordial do objeto primário que semeia vida no aparelho psiquico em ormação e, com seu investimento, ainda a delinear os contornos da imagem narcísica, estruturante da subjetividade. Se o objeto primário não captar e reconhecer essa existência distinta, nem refletir e significar o que pode divisisar como o sujeito em formação, poderá ficar inscrito no inconsciente um vazio, e o Eu, identificado com o nada, permanece uma “moldura vazia”. Instala-se uma disposição melancólica, um enfraquecimento do Eu de ordem traumática, que reflete uma fixação mortífera no ideal do Eu inacessível, a qual, por sua vez imprime uma desvitalização ao mundo e reflete o domínio de uma patologia de abandono, como relembrou Lambotte(1996). (MARRACCINI, 2021, p. 33)

Assim, a figura materna, atravessada pelo experiência do self, é tão determinante da vida não só das crianças mas também dos adultos. Através do arquétipo materno, temos a expressão da vida, do estar contido, vivo e em segurança. Quando por algum motivo essa relação com a mãe(que recebe essa projeção) é rompida ou vivida negativamente, o ego busca proteger o objeto idealizado, dividindo-o, e identificando-se com seu aspecto negativo. Sobre a perda da relação com o Self, Edinger afirma

O Si-mesmo, na qualidade de centro e totalidade da psique, capaz de concilar todos os opostos, pode ser considerado um orgão de aceitação par excellence. Como inclui a totalidade, ele dever capaz de aceitar todos os elementos da vida psíquica, por mais antitéticos que possam ser. O sentimento de ser aceito pelo Si-mesmo dá ao ego força e estabilidade. Esse sentimento de aceitação é veiculada para o ego através do eixo ego-Si-mesmo. Um sintoma da danificação do eixo é a falta de auto-aceitação. O individuo sente que não merece viver ou ser o que é. (EDINGER, 1992, p.69)

Com isso, aspectos como autoconceito, autopercepção, autoestima e autoimagem passam pela experiência materna/complexo materno. Pacientes com complexo materno negativo com fortes sentimentos de inadequação, vazio e melancolia apontam para uma profunda dissociação interior, com a perda do sentido do Self. Por isso, na clínica, mesmo que as relações com a mãe real sejam trabalhadas na transferência, o sentimento de vazio pode permanecer e a transferância assumir contornos arquetípicos. A transferência arquetípica, possibilita que os aspectos do self que não foram integrados na infância possam ser reparados. Fordham aponta que

a transferência arquetípica tem duas características que a pessoal não possui: as projeções são mais claramente partes do Self que precisam ser integradas. Elas também são progressivas e contêm material através do qual a individuação pode ocorrer. O reconhecimento dessas características é concebido como importante porque a interpretação analítica não pode ser aplicada: as entidades primárias foram alcançadas.” (FORDHAM,1986, p. 84).

O relacionamento humano, para além da técnica analítica, torna-se fundamental como a possibilidade de reparar o que foi rompido na relaçõão primaria, possibilitando a retomada do processo de desenvolvimento e de individuação.

Devemos notar, que quanto mais precoce a desconexão da relação primária(ou alienação do self) maior é risco o prejuízo ao desenvolvimento do ego, podendo ocasionar transtornos de personalidade. Noutras situações, a dinâmica psiquica marcada pelas defesas e fantasias na tentativa proteger tanto ego quanto a memória da sensação de integridade do Self, acabam por fragiliza-lo no interjogo das desfesas e fantasias, tornando a experiência de realidade porosa, atravessada pelo inconsciente, nesse campo temos os pacientes somatizadores, alguns pacientes depressivos graves, transtornos alimentares e casos-limites no geral.

– Complexo materno como experiência com o cuidado materno pessoal

O complexo materno oferece a sensação de cuidado, segurança e organização para que o ego possa se perceber e vivenciar diante da realidade. Guggenbhul-Criag(1978) sugere de deveríamos compreender os arquétipos não apenas pelo seu aspecto qualitativo positivo e negativo, mas como relação.

O arquétipo pode ser definido como uma potencialidade inata de comportamento. O ser humano reage arquetipicamente a alguém ou a algo quando se defronta com uma situação típica e recorrente. A mãe e o pai reagem arquetipicamente ao filho ou filha, o homem reage arquetipicamente à mulher etc. Nesse sentido, certos arquétipos têm dois pólos, por assim dizer. Sua situação básica contém uma polaridade. (…)

(…)Talvez não devêssemos falar de um arquétipo materno, paterno ou do filho, mas de um arquétipo mãe-filho ou pai-filho. (GUGGENBUHL-CRAIG, 2008, P.84-5)

A perspectiva relacional que Guggenbhul-Craig aponta é importante tanto para compreender a dinâmica do complexo como um objeto interno, quanto sua relação com a realidade exterior. Ou seja, há uma relação complexo – Ego, onde o conteúdo arquetípico inconsciente constela seu correlato no ego; e uma relação complexo – objeto externo, onde objetos externos podem constelar o complexo e perturbar a consciência.

Nessa perspectiva temos a relação do complexo materno com o ego, em seu aspecto saudável, oferece as referências de sustentação amorosa ao ego e afetividade em relação a si mesmo e ao outro. Em seu aspecto negativo, o ego se defende do sofrimento e angustia gerada pelo complexo, dividindo-o, atacando vinculos de memórias e afeto para neutraliza-lo. A divisão no objeto também gera divisão no ego, onde seu aspecto ferido é reprimido, negado.

Para manter a experiência “positiva” pode-se idealizar a mãe exterior, assim como introjetar os sentimentos negativos no ego, como se esse o individuo fosse “merecedor” de quais ações negativas (passadas, presentes ou futuras) em relação a mãe, se matendo uma relação de dependência e culpa, mantendo uma atitude infatilizada, isto é, regredida.

Em outra situação, o Ego pode se identificar com o complexo, agindo de acordo maternalmente com amigos, colegas e parceiros amorosos. Na identificação, o individuo repete a forma como vivenciou a experiência de sua mãe, ou a forma idealizada, como uma repetição que visaria compensar as experiências negativas do passado.

Em ambos os casos, a análise redtutiva é importante para retirda da projeção ou da identificação com o complexo materno, para assim poder compreender os processos prospectivos da psique.

Algumas considerações finais

Nosso objetivo foi discutir o complexo materno, contudo é importante lembrar que os complexos são entidades isoladas na psique. O complexo materno está em intima relação com o complexo paterno, complexo de poder, complexo frateno. Muitas vezes, a exeperiência registrada como “mãe agressiva, indisponível, rígida” foi na verdade uma mãe exausta, com dupla ou tripla jornada e sem rede de apoio, e, com frequencia, com o pai da criança ausente e/ou fraco. Não podemos pensar o complexo materno descolado do sistema histórico-familiar do individuo.

Assim, o registro psíquico se manifesta como complexo materno mas, na ausência paterna, a mãe também excerce a função paterna, assimilando aspectos realativos ao complexo paterno, aumentando assim sua carga energética.

A relação com a mãe/materno tá áé fundamental para o desenvolvimento individual, isso se reflete na importância do complexo materno. Direta ou indiretamenente sempre lidaremos com o aspectos do complexo materno quando fizermos uma análise profunda.

Referência Bibliográfica

BOLLAS, Christopher. A sombra do objeto. São Paulo: Escuta, 2015.
EDINGER, Edward F. Ego e Arquétipo, SP, Cultrix, 1989
FORDHAM, Michael, A Criança como Individuo, São Paulo, Cultrix, 2001
FORDHAM, M. Jungian Psychoterapy – A study in analytical psychology, London: Maresfield, 1986. 
GUGGENBHÜL-CRAIG, Adolf, Abuso do poder na psicoterapia, São Paulo: Paulus, 2004.
MARRACCINI, E.M. . O eu em ruína: perda e falência psíquica 2ª. ed. São Paulo: Blucher, 2021.
NEUMANN,E. A Grande Mãe, São Paulo: Cultrix, 2003.

________________________________________________________________

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi

Publicado em Uncategorized | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Encontro “Amplificando Jung”: Você tem fome de quê? A Clínica Junguiana dos Transtornos Alimentares

Nos dicionários amplificar é “tornar(-se) amplo ou mais amplo; tornar(-se) maior (em tamanho, extensão, intensidade etc.); ampliar(-se)”. Na psicologia analítica a amplificação faz parte do método junguiano, onde se estabelece paralelos miticos, culturais, históricos permitindo que o paciente possa ir além de seus conteúdos pessoais, possibilitando uma compreensão mais profunda de seu processo ou sofrimento.

A proposta do Amplificando Jung é trazer temas para a discussão, possibilitando que, através da exposição do tema e a troca com os participantes, passamos amplificar nossa experiência pessoal e nosso conhecimento da psicologia analítica a cada encontro.

osso primeiro Encontro “Amplificando Jung” terá como tema “Você tem fome de quê? Transtornos alimentares na clínica junguiana”. Será um espaço para aprender, trocar e compartilhar conhecimentos e experiências sobre essa temática tão importante e contemporânea, que será apresentada pela profa. Dra. Kelly Tristão, com mediação da profa. Ms. Raissa Rodrigues.

O “Amplificando Jung” é um encontro com dois momentos especiais, no primeiro temos uma palestra que nos aproxima do tema e faz as conexões com a psicologia analítica; no segundo momento, fazemos uma roda de conversa onde os participantes podem tirar suas dúvidas e compartilhar suas experiências!

✅ Datas: 18 de maio de 2024

✅ Horário: das 09 às 11:30.

✅ Endereço: Edifício Centro Empresarial Real Forte
Rua José Farias, 160, Santa Luiza, Vitória – ES

✅ Investimento: R$ 25 reais

✅ Inscrição: https://forms.gle/9g7CuMoq9pTDDVdR6

VAGAS LIMITADAS

Com certificado de participação!

✅ Mais informações: contato@cepaes.com.br ou (27) 99926-7779.

✅ Palestrante: Dra Kelly Guimarães Tristão. Psicóloga Junguiana. Doutora em Psicologia com enfoque em Saúde Mental (UFES)
Especialista em Psicologia clínica e família, e Especialista em Psicologia Analítica.

Especialização em curso em Transtornos Alimentares: obesidade, anorexia e bulimia (PUC-RJ)

Docente de Pós Graduação e da Formação em Psicoterapia Junguiana (CEPAES). Diretora do Centro de Psicologia Analítica do ES (CEPAES). Pesquisadora na área de Saúde Mental.

✅ Debatedora: Raissa Rodrigues
Psicóloga Junguiana. Mestra em Psicologia (UFES).
Especialista em Psicologia clínica e família, e Especialista em Psicologia Analítica.
Especialização em curso em Transtornos Alimentares: obesidade, anorexia e bulimia (PUC-RJ).
Docente do Curso de Psicologia da Faesa e da Formação em Psicoterapia Junguiana (CEPAES).

Publicado em Eventos | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

Sobre o desenvolvimento do Ego – Notas para o grupo de Estudo

No dia 15 de abril, discutimos no grupo de estudos o capítulo “O Eu” do livro Aion, do Jung. Para pensar a complexidade do Ego, optei por apresentar a visão de desenvolvimento do Ego por Fordham

1 – Quando falamos do bebê, quer esteja na barriga da mãe ou logo após o nascimento, ele não possui um ego formado ou mesmo um psiquismo diferenciado. O que há é um self primário, uma unidade psicossomática, com todo o potencial arquetípico para o desenvolvimento físico e psíquico.

2 – Fordham afirma que o Self primário é perturbado pelo nascimento (A criança como individuo, p89) por todos os estímulos envolvidos tanto no parto quanto pelo ambiente que geram a ansiedade “prototípica” que mobiliza o organismo, que depois se estabiliza, e repete-se continuamente num processo de relação com o ambiente. Essa ansiedade prototípica é um estado de prontidão a experiência. 

3 – Fordham nomeou de deintegração ao estado de prontidão, mobilização do self-organismo frente à experiência, isso significa que o self se mobiliza, ativando à área do corpo correspondente ao estímulo, por exemplo, a fome mobiliza a zona oral preparando para a sucção, com a satisfação da fome, o self se estabiliza, reintegra (ou seja, a área ativada retorna à totalidade), trazendo a experiência como aquisição pessoal. 

4 – Nos primeiros meses não há a diferenciação de objeto interno ou externo, não há uma diferenciação entre a boca e o seio, entre o indivíduo e o ambiente. Não há um sistema representacional de imagens conscientes ou linguagem, a experiência é sobretudo sensorial. Sobre esse estado primário, Ogden comenta  

Para começar a entender a experiência do bebê ao fantasiar, deve-se tentar o impossível, tentar imaginar-se fora do sistema de símbolos verbais nos quais os adultos vivem e estão presos e, em vez disso, imaginar-se em um sistema de experiência não verbal, sensorial (incluindo experiências viscerais e cinestésicas). Esse ato de imaginação envolve, em parte, uma tentativa de pensar sem palavras. Apesar da extrema dificuldade que temos em nos imaginarmos no estado psicológico do bebê, não há nada de místico na ideia da fantasia infantil. (…) Como no inconsciente, apenas os derivados da fantasia infantil são observáveis. (Ogden, A Matriz da Mente p. 33-4) 

5 – O Self não é um dado subjetivo, mas um Self-objeto (não há sujeito ou subjetividade nesse momento do desenvolvimento) que não tem atividade reflexiva ou volitiva, o processo de deintegração(a expressão da força motriz para o desenvolvimento) não é um dado intencional, nem desejante; é antes de tudo, um padrão arquetípico que impulsiona ao desenvolvimento, através do manejo e o cuidado afetuoso que a criança recebe mães e cuidadoras , que sustenta o processo deintegrativo-reintegrativo.  

A mãe, nesse momento, é que C. Bollas chama de “objeto transformacional”, ou seja, a mãe possibilita os processos de transformação que ocorrem Self primário. A deintegração e reintegração é uma forma de descrever essas transformações que são somáticas, psíquicas e ambientais. O “objeto transformacional” mobiliza a energia, transforma e integra a existência. Acredito que objeto transformacional seja a experiência mais profunda e primitiva de um “símbolo do Self”. 

5 – Essas transformações no self, que chamamos de  deintegração – reintegração – são processos continuos e rítmicos naturais, Bollas descreve isso dessa forma.   

A dor da fome, um momento de vazio, é transformada pelo leite da mãe em uma experiência de plenitude. Esta é uma transformação fundamental: vazio, agonia e raiva se tornam plenitude e contentamento” (A sombra do Objeto, p. 68) 

A partir da deintegração-reintegração, a experiência biológica se transforma gradativamente em psíquica. Dando inicio ao longo processo de organização psíquica e das relações objetais que levarão ao desenvolvimento do ego  

6 – Com atividade contínua de deintegração-reintegração, a experiência pessoal começa a se firmar e ser estável. Podendo ser reconhecível os objetos do Self como padrões estáveis, básicos de resposta aos estímulos (padrões de movimentos, sorrisos, choro) – ou seja, esses objetos do self envolvem um grau de integração da experiência pessoal (que vão dar origem aos complexos). A partir desses objetos, manifestos entre o somático e o psíquico, começa-se a surgir as representações do self, que se apresentam como ilhas ou núcleos de consciência – que são estados parciais de consciência do Self, que formam os núcleos do ego, que pela atividade organizadora/centralizadora do self integrar-os  e gerando como o ego. A integração do ego emerge como resultado da relação do Self com o ambiente – ao que conduz ao longo processo de amadurecimento que atravessa a vida toda do individuo. 

7 – O amadurecimento do ego na infância necessita de um ambiente bom o suficiente. A experiência positiva dos objetos bons é importante por dar segurança, estabilidade e continuidade nas relações. O objeto mau é identificado como ameaça, como contrário a continuidade da vida,  trazendo ansiedade e instabilidade ao self / ego, que mobilizando defesa para expulsa-los ou neutralizá-los . Forhdam comenta 

O seio bom também pode ser assimilado, introjetado, e isso dá ao bebê a oportunidade, de ter dentro de si mesmo objetos bons, aumentando a vivência de si mesmo como bom, pela identificação com objeto bom. (A criança como individuo, 107) 

Ao longo de todo o desenvolvimento, os processos defensivos visam expelir os objetos maus, garantindo a estabilidade interior que possibilita a continuidade dos processos deintegrativos/reintegrativos, assim como o fortalecimento do ego. É necessário que o ego tenha a vivência de si mesmo como bom, estável, satisfatório, ou seja, tendo a experiência de coesão e segurança – o que possibilitará o desenvolvimento saudável da autoimagem, de autoconceito, autoestima e autoconfiança. 

As defesas primitivas, basais, ou do self são fundamentais nesse momento – pois, o ego imaturo possui poucas(ou nenhuma) capacidades defensivas. A relação objetal inicialmente se dá no prisma do que Melaine Klein descreveu da posição esquizoparanóide, onde não há a reflexão (ou ego reflexivo), a criança ainda não tem a capacidade de suportar com a ambivalência do objeto total, lidando basicamente com processos de defensivos (onde a figura a experiência do ameaçado/ameaçador), por meio de divisões no objeto (bons e maus) como defesa principal. Esses processos se sustentam na onipotência – predominando o pensamento mágico, onde o objeto pode ser destruído e reconstruído, sem dimensão da perda do objeto. 

8 – Com o amadurecimento biológico e psíquico ocorre o desenvolvimento da capacidade do ego em lidar com a ambivalência dos objetos, tomando consciência da perda, entrando para uma dimensão histórica (onde a perda marca o passado, presente e futuro). Esse desenvolvimento faz a passagem da experiência objetiva para subjetiva, isto é, o com desenvolvimento de um ego reflexivo capaz de fazer escolhas, sofrer(com a perda) e cuidar dos objetos(ou buscar formas de reparação).  Essa passagem foi nomeada por klein como posição depressiva, onde emerge um eu subjetivo.  

A posição esquizoparanóide e depressiva não são superadas, mas coexistem ao longo e expressam de modos de organização psíquica.  

9 – Ao longo de todo esse processo descrito, mesmo antes da criança ter a consciência e capacidade de lidar com os símbolos, há a presença simbólica e transformadora da mãe, que através da “função alfa materna” (ou função transcendente materna), que transforma as expressões somáticas, p.ex. choros em algo com significado- o choro é simbolizado como fome, frio, calor etc  possibilitando o desenvolvimento simbólico do bebê. Como dito antes, a relação afetuosa, constante e segura fornece objetos bons que possibilitam o amadurecimento.  

10 – Esses processos descritos, começam desde o nascimento e desenvolvem principalmente ao longo da infância atuando no amadurecimento do ego (mas, podem ser percebidos ao longo da vida). É fundamental o ambiente seguro, suficientemente bom, para que o ego se fortaleça e se estruture de modo coeso e integro, capaz de elaborar símbolos e exercer as funções conscientes e adaptativas de forma adequada. 

Quando há uma falha catastrófica no ambiente imediato (pais familiares cuidadores) ou mediato (escola, igreja etc) – quer por violência, abuso, negligência, hostilidade – o desenvolvimento do ego pode ser prejudicado – podendo gerar uma neurose quanto quadros mais graves que podem levar a transtorno de personalidade – como no caso do trauma precoce. 

Referências Bibliográticas

FORDHAM, Michael, A Criança como Individuo, São Paulo, Cultrix, 2001

OGDEN, T. H. A matriz da mente: relações objetais e o diálogo psicanalítico. Tradução: Giovanna Del Grande da Silva. São Paulo, SP: Blucher; Karnac, 2017

Bollas, Christopher. A sombra do objeto. São Paulo: Escuta, 2015.

——————————————————–

Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Diretor do Centro de Psicologia Analítica do CEPAES. Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  desde 2012 Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

http://www.cepaes.com.br

Publicado em Uncategorized | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário