A Perspectiva Desenvolvimentista

Uma visão geral

A psicologia analítica é uma abordagem plural, com uma diversidade marcante que toca tanto a prática quanto a teoria. Desde os anos 60/70, as diferenças no modo de pensar a teoria quanto a condução analítica deram margem a diferentes classificações tentaram dar forma e delimitar essa pluralidade junguiana. Das classificações a que mais próximo chegou a ilustrar o cenário junguiano foi a do analista britânico Andrew Samuels, em seu livro “Jung e os Pós-Junguianos” (1985/1989) que classificou três grupos majoritários no campo junguiano (não excluindo a existência de outros) aos quais ele nomeou como escolas: clássica, desenvolvimentista e arquetípica.

Alguns anos depois, Samuels, no texto intitulado ” Will the Post-Jungians Survive?” (1998), revisou sua classificação afirmando as “escolas” poderiam ser melhor compreendidas “tendências”, visto que os “pós-junguianos” teriam contato com todas “escolas”, formando assim, tendências em torno de afinidades da percepção teórica e prática. A mudança de “escolas” para tendências foi importante, pois o campo junguiano não se caracteriza por uma afiliação ou alinhamento a uma instituição específica como o “Instituto de Jung de Zurique” ou a “Society of Analytical Psychology” de Londres, mas pelas leituras, estudos e pela identificação com a visão e proposta.

É importante compreender que a classificação de Samuels apesar de ser didática, de ilustrar as característas gerais dos principais movimentos junguianos desde a morte Jung, não representa uma regra, mas sim uma referência importante para se pensar a diversidade campo junguiano. James Astor, analista junguiano inglês, comentou que Michael Fordham, icone da “escola desenvolvimentista” descrita por Samuels não se via numa “escola”, ele diz que Fordham

(…) nunca pensou em seu trabalho como “desenvolvimentista”, no sentido de haver uma distinção entre “desenvolvimentista” e “arquetípico”. Essas distinções se infiltraram no discurso junguiano após um livro de Samuels no qual, escrevendo para um público mais amplo, ele esquematizou as diferenças de ênfase de várias organizações junguianas e seus membros (Samuels 1985). A objeção de Fordham a essas categorias é que elas criam confusão ao afirmar que fazem distinções que o próprio Jung não fez (Fordham, comunicação pessoal, 21 de agosto de 1994). Todo o trabalho de Jung, na visão de Fordham, é desenvolvimentista, pois esse é o núcleo de seu conceito de individuação, que diz respeito ao crescimento da personalidade.(ASTOR, 1995, p.36)

Essas considerações são importantes pois, a perspectiva ou tendência desenvolvimentista não representa uma ruptura com a obra do Jung, tão pouco é um movimento sectário. E, mesmo quando pensado como movimento dentro campo junguiano, este se possui um amplo espectro de possibilidades características como:

  • Ênfase no desenvolvimento inicial da personalidade
  • O papel do Self na constituição pessoal.
  • Compreensão psicodinâmica do sofrimento psíquico.
  • Um olhar atento à dinâmica do ego e dos processos defensivos.
  • Análise da transferência-contratransferência.
  • Diálogo com escolas da psicanálise.
  • Diálogo com a neurociência.

Essas ênfases se sobressaltam na literatura junguiana desenvolvimentista, privilegiando a prática clínica, os processos psicodinãmicos, a compreensão dos processos de saúde-doença. Mas isso não significa uma negação ou rejeição à fenomenologia dos arquétipos, os estudos de mitologia e alquimia, esses estudos são importantes e complementam a compreensão clínica, contudo, não se perde o enfoque no processo analítico, o indivíduo sua história vem em primeiro lugar. A esse respeito, Astor, comenta:

Para mim, o estilo tradicional de análise junguiana tratou a mitologia quase como metapsicologia, buscando os mitos para ilustrar o comportamento. Fordham inverteu essa tradição e usou seu trabalho clínico com pessoas para iluminar nossos mitos contemporâneos. Ao inverter a situação, sem renunciar totalmente ao uso de mitos para elucidar o material clínico, ele não apenas prestou um grande serviço à análise junguiana, mas também forneceu uma base clínica para os próprios mitos, fundamentou-os e, assim, impedindo-os de flutuar como se fossem apenas fragmentos de uma análise à deriva em um mundo mágico. (ASTOR, 1995, p. 9)

Devemos considerar que quando falamos do desenvolvimento da personalidade damos atenção aos processos que envolvem o amadurecimento do ego, os complexos e suas relações com a consciência e o ego, assim como as relações de mediação do ego com a realidade interior e exterior – que poderia ser compreendido como relações com objetos internos e externos.

A diversidade Desenvolvimentista

Na obra “Jung e os Pós-junguianos”, Samuels toma como referência para falar da “escola desenvolvimentista” o trabalho desenvolvido por Michael Fordham e colaboradores da Society of Analytical Psychology(SAP) de Londres, pelo pioneirismo na prática da analise infantil, coerência e amplitude da obra que impactaram gerações de analistas. Contudo, como dito acima, o próprio Samuels apontou não é propriamente correto igualar ou identificar a perspectiva desenvolvimentista com a contribuição de Fordham e da SAP. Assim, podemos considerar o cenário desenvolvimentista por ao menos três caminhos:

  • As contribuições de Fordham e da SAP
  • As contribuições de autores independentes.
  • As contribuições de Neumann

As contribuições de Fordham e da SAP

Michael Fordham (1905-1995) foi psiquiatra infantil e analista junguiano inglês,que iniciou sua prática com crianças em 1935, numa época que posição geral de Jung(que não atendia crianças) era que a criança seria como uma extensão da psique dos pais. Dentre os junguianos, Fordham foi o pioneiro na análise de crianças. A clinica infantil fez com que Fordham se aproximasse da obra de pioneiros da psicanálise de criança Melaine Klein e Donald W.Winnicott, que desenvolviam estudos e teorias naquele mesmo periodo. A ênfase do trabalho de Fordham estava na atividade do Self na infância e na pratica clínica.

Fordham frequentou a sociedade britânica de psicanálise, muitas de suas concepções se aproximavam principalmente com as de Melaine Klein, que fez que sua obra fosse idenificada como um híbrido “jung-kleiniano”. Sendo, inclusive, reconhecido pela Melaine Klein Trust como um autor associado à teoria das relações objetais de Melaine Klein.

Como um dos fundadores da Society of Analytical Psychology, Fordham influenciou a perspectiva e estudos sobre o desenvolvimento que incluía seminários de observação de bebês com suas mães. Astor comenta que

Um dos desenvolvimentos mais interessantes na análise infantil foi a criação de seminários sobre observação de bebês. Os analistas infantis em treinamento observam a interação de um bebê com sua mãe durante uma hora por semana, desde o nascimento até os dois anos de idade. Cada observação era anotada em detalhes, apresentada e discutida em um seminário conduzido por um analista infantil experiente. Essa era uma fonte rica de conhecimento e aumenta nossa compreensão não apenas das crianças, mas de pacientes de todas as idades. A observação infantil é particularmente útil para a compreensão do que Bion chamou de “elementos beta” (Bion, 1977) e do que Jung chamou de “processos psicóides”, que “pertencem à esfera do inconsciente como elementos incapazes de consciência” (Jung, 1954). (ASTOR, 1988, p.12)

A ênfase na clínica, na compreensão psicodinâmica e do desenvolvimento influenciou autores como Donald Kalsched, analista junguiano americano, que desenvolveu uma importante contribuição à teoria do trauma, pela psicologia junguiana; a Jean Knox, analista inglesa, que desenvolve aproximações da psicologia junguiana com a neurociência e teoria do apego; Marcus West que possui um trabalho importante na compreensão do transtorno borderline, dentre outros autores cuja obra busca a compreensão dos processos psicodinâmicos do sofrimento psíquico, assim como uma compreensão mais sistemática da técnica junguiana.

As contribuições de Autores independentes : hibridismo

A liberdade de pensamento é uma marca junguiana. O pensamento independente produz concepções hibridas trazendo importantes contribuições que diminuem as distâncias entre as tendências. Como exemplo dessas contribuições independentes podemos citar Mario Jacoby, com formação em Zurique, que aborda em vários de seus livros a perspectiva do desenvolvimento, diálogo com a psicanálise do Self de Kohut, com uma preocupação com a clínica e processos transferenciais, indicando uma tendência que seria desenvolvimentista mas sem uma relação com as teorias de Fordham e da escola de Londres.

Podemos citar também Nathan Schwartz-Salant, analista suiço, com formação em Zurique, apresenta uma aproximação com noções da psicanálise de Kohut e da teoria das relações objetais. Seus trabalhos em português (“Narcisismo e Transformação de Caráter”e “A personalidade limitrofe”), seu trabalho é de uma riqueza enorme, que aproxima tanto da vertente clássica quanto da arquetípica.

A importancia desses e de outros tantos autores que se comprometem com a verdade da psique, com a verdade do aprofundamento da compreensão sem se ater a um “identitarismo” ou partidarismo de escolas.

A contribuição de Erich Neumann

Erich Neumann foi de longe um dos alunos mais brilhantes de Jung que lamentavelmente veio a falecer precocemente em 1960, aos 55 anos, de câncer renal. Neumann não é “classificado” como “desenvolvimentista” segundo a visão de Samuels, mas o rótulo de “clássico” não faz justiça a sua contribuição criativa e inovadora, que desenvolveu uma forma independente de pensar, chegando a incomodar o círculo mais próximo de Jung – como foi o caso do livro “História da Origem da Consciência” cuja publicação na série “Studies from the C. G. Jung Institute” em 1949 foi rejeitada por outros discipulos de Jung.

De sua obra destacam-se três livros que abordam no desenvolvimento: “História e Origem da Consciência”, “A Grande Mãe” e “A Criança”. São três obras extremamente importantes e complementares na psicologia analítica. Nesses livros, com grande erudição, ele enfoca os estágios arquetípicos do desenvolvimento da consciência e da psique individual. Apesar de não ser baseado em experiência clínica, a teoria do Neumann desempenhou um papel importante de trazer uma alternativa à lacuna acerca do desenvolvimento infantil ao trabalho clássico.

Neumann deixou noções importantes contribuições para a psicologia junguiana como o eixo ego-Self – que foi desenvolvimento do Edinger e os dinamismos arquetípicos que foram trabalhados por Carlos Byington. Podemos citar Ceres Alves Araújo que publicou um livro “O processo de individuação no Autismo” trazendo o pensamento de Neumann para a contemporaneidade e prática.

Samuels faz uma colocação importante acerca da relação dos pensamentos de Neumann e Fordham

É possivel dizer que cada teoria é a metade de um todo. Em uma visão conjunta, os modelos de Fordham e de Neumann permitem que falemos de uma abordagem “junguiana” do desenvolvimento inicial, com importantes diferenças de opinião, que se expressam nas Escolas” (SAMUELS, 1989,p. 193)

Concluindo…

Acredito ser importante pensar a perspectiva desenvolvimentista como uma visão ampla, complementar que possibilita o amadurecimento da diagnóstico, a intervenção clínica e formação do psicoterapeuta, mas sem perder a concepção simbólica, o processo de individuação e transformação da personalidade.

A abertura ao dialogo tanto com outras escolas de psicoterapia, com a neurociência, e outras tendências junguianas fortelece o campo junguiano e o coloca como ator no campo das ciências. marca a perspectiva desevolvimentista. No Brasil, o campo junguiano é formado sobretudo por profissionais e grupos independentes cuja construção do conhecimento se na busca criativa pela compreensão da psique e dos processos que afetam os pacientes. Como perspectiva a compreensão desenvolvimentista visa em primeiro lugar o individuo, sua história e sofrimento e depois o cenário arquetípico, simbólico e o numinoso.

Referências

ASTOR, James, Introduction in SIDOLI, MARA; DAVIES, MIRANDA (Edited by), Jungian Child Psychotherapy, London: Karnac Books, 1988.


Astor, J. Michael Fordham: Innovations in Analytical Psychology. London: Routledge. , 1995

SAMUELS,Andrew. Jung e os Pós-junguianos, Rio de Janeiro: Imago, 1989.

SAMUELS, Andrew.  Will the Post-Jungians Surive in CASEMENT, ANN (ed.). Post-Jungians Today: Key Papers in Contemporary Analytical Psychology. London & New York: Routledge, 1998.

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

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Olhando para trás e para frente: Feliz ano novo!

O final de ano não costuma ser fácil. Para alguns é um turbilhão de euforia, alegria e motivação, para outros de obrigações, desencanto e exaustão.

Em todo caso, o final do ano marca transições que nos leva a refletir sobre o passado e o futuro., sobre as perdas e possibilidades.

E, sabemos que as perdas doem e demoram a passar, mas que nessa transição do ano que termina, possamos reconhecer nossas dores e olhar para o futuro que vem. E Cantar com Belchior,

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”*

Desejamos que 2024 seja um ano de renascimento, fortalecimento e de realizações.

São os votos da Equipe do CEPAES

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Algumas reflexões sobre o sentimento de Abandono

 

O Abandono é um tema arquetípico por excelência. Tanto seu aspecto ativo (abandonar, desapegar) quanto o passivo (ser abandonado) estão presentes em diferentes situações na dinâmica dos heróis, da criança divina, nas migrações, e em todos esses processos podemos vislumbrar a ubiquidade do abandono. Assim, todos nós, em algum momento, nos sentimos abandonados, sendo algo necessário para a diferenciação da consciência, amadurecimento do ego e da relação com o self. Nosso objetivo, porém, não é pensar o sentimento de abandono pelo viés arquetípico ou pelo viés da individuação, mas pelo viés pessoal, onde as relações, complexos e defesas se organizam ao longo do desenvolvimento gerando sofrimento.  

O abandono ou sentimento de abandono é uma realidade psíquica que deve ser sempre considerada. Muitas vezes somos tentados a fazermos a distinção entre o abandono real ou imaginário, mas na verdade, o que importa é o sentimento ou sensação de abandono, o registro interno, pois ele indica uma experiência vivida interna ou externamente. 

De forma geral, observamos o abandono em seu aspecto objetivo, como abandono físico/material. Mas a maior parte dos abandonos se dá de forma subjetiva, vividos desde a infância como abandono “afetivo”, que pode compreendido em menos três aspectos:

  
1o – Envolve mais propriamente o campo afetivo que se dá na deficiência do envolvimento ou investimento afetivo especialmente na relação com as figuras parentais. Esse investimento afetivo seria natural numa relação eu-você (sujeito com outro sujeito), mas nessas situações vividas como eu-isso (sujeito com objeto), nessa relação nos sentimos como “coisa” e não como pessoa. Deixando um profundo sentimento de rejeição e baixa autoestima.    

2o – É o cuidado insuficiente ou mesmo protocolar atendendo às necessidades vitais ou obrigações, mas sem criar uma relação e ambiente suficiente seguro para o desenvolvimento, gerando um movimento defensivo da persona (falso self), que força uma adaptação e um “amadurecimento” para qual a criança não estava pronta – o que tira precocemente a criança da infância. Tal situação pode deixar uma sensação de desamparo, mesmo diante da percepção que “nada faltou”. 

3o – É a desproteção, que traz a sensação constante de insegurança e desamparo.  Muito relacionada às comunicações ambivalentes ou de duplo vínculo, ou seja, conflitante que afirma e nega, valoriza e desmerece; ou às constantes punições e ameaças, deixando a criança numa constante sensação de ansiedade e medo.  

Em todas essas situações o registro interno é de “abandono” (às vezes traduzido como desamparo, insegurança).  Naturalmente, nossa psique tenta lidar ou elaborar essa vivência sofrida, se defendendo e tentando “compensá-la” ou “evitá-la”.  Essas tentativas da psique se refletem tanto nos padrões de apego (inseguro, ansioso, evitativo ou ambivalente), gerando sentimentos contraditórios de si-mesmo,  dificuldade de expressão do afeto, dificuldade relacionar-se consigo mesmo e com o outro.   

Quando o sentimento de abandono é o pano de fundo da experiência do indivíduo, ele se defende na mesma medida em que deseja o relacionamento.  Pode afastar-se das pessoas amadas, rejeita-las para não ser rejeitado (com um peso e sofrimento mortal), se julgando indigno de afeto, revivendo a rejeição e o abandono, mantendo-se abandonado em solidão.  

Outra possibilidade é lançar-se precipitadamente em relacionamentos, abandonando-se no outro, sem reconhecer a si mesmo, nem seus desejos ou necessidades, vivendo à mercê do desejo do Outro. A busca incessante por aceitação ou mesmo por ideal de “perfeição” é uma máscara para o sentimento profundo de rejeição. A música de Jacques Brel “Ne me quitte pas” (1959), expressa bem essa vivência negação de si mesmo, quando diz 

“Deixa que me torne  

a sombra da tua sombra, 

A sombra da tua mão, 

A sombra do teu cão 

Não me deixe”  

A  psicodinâmica do sentimento de abandono envolve complexos parentais e de poder que envolvem o sentimento de impotência e fracasso; o ego fragilizado, identificado com os objetos negativos – que trazem culpa, uma autopercepção e autoestima, distorcidas e defesas que fecham o indivíduo em seu mundo solitário, evitando uma devastação posterior. 

Na análise/psicoterapia, identificar o sentimento (que se manifesta muitas vezes na transferência e na resistência) é o primeiro passo que nos ajuda a investigar a história do paciente, as implicações afetivas e defensivas associadas a seus complexos, permitindo assim a compreensão do sofrimento presente, das relações atuais e avaliar quais as reparações no presente e as possibilidades de desenvolvimento no futuro. 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

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Grupo de estudos junguianos 2024!

A proposta para o primeiro semestre é revisitar textos de Jung visando compreender conceitos fundamentais e amplificá-los à luz da psicologia analítica contemporânea e desenvolvimentista.  

✅ A proposta de textos base para primeiro semestre serão:  

Jung, C.G Sobre o inconsciente – Os arquétipos e o Inconsciente coletivo 

Jung, C.G. Considerações Gerais sobre a teoria dos Complexos – A Natureza da Psique 

Jung, C.G. A Função Transcendente – A Natureza da Psique 

Jung, C.G. O Eu – Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G. A sombra – Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G Sizigia: Anima e Animus – Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G, O si-mesmo Aion – Estudos do Simbolismo do Si-Mesmo 

Jung, C.G, Consciência, inconsciente e Individuação – Os arquétipos e o Inconsciente coletivo 

Obs: Textos poderão ser adicionados ou trocados de acordo com o grupo. 

✅ Como funcionará? A leitura do texto será feita antes do encontro. No encontro será feita uma apresentação geral do texto e será aberto espaço para comentários e dúvidas acerca do texto lido. A partir das dúvidas e comentários serão feitas amplificações. 

✅ Quando nos encontraremos? Nas segundas-feiras, das 20 as 21h30, segundo o cronograma. 

1o. Semestre:  

Fevereiro: 05/02; 19/02 e 26/02 – dia 12/02 é carnaval. 

Março: 04/03; 11/03; 18/03 e 25/03. 

Abril: 01/04; 15/04; 22/04 e 29/04 – em abril 08/04 é festa da penha, feriado em Vitória. 

Maio: 06/05; 13/05; 20/05 e 27/05. 

Junho: 04/06; 10/06 e 17/06 e 24/06 

Totalizando 19 encontros no primeiro semestre. 

Os encontros serão online, pela plataforma zoom. Os encontros serão gravados. 

✅ Investimento/mensalidade (primeiro semestre): 

Estudantes de graduação e ex-alunos da formação do CEPAES: 100 reais ( ou 460 em até 5x no cartão) 

Profissionais: 120 reais. (ou 550 em até 5x no cartão). 

Após o pagamento o participante serã inscrito no grupo do whatsapp

Inscrições: clique aqui!

✅ Coordenação: 

Fabrício Fonseca Moraes – (CRP 16/1257). Psicólogo clínico junguiano graduado pela UFES. Especialista em Psicologia Clínica e da Família pela Faculdade Saberes; especialista em Teoria e Prática Junguiana pela Universidade Veiga de Almeida; Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisas Aplicadas/Faculdade Interativa de São Paulo e com formação em Hipnose Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson do Espírito Santo;  Diretor Clínico do CEPAES, Professor do curso da Formação em Psicoterapia Junguiana. Estuda a Psicologia Analítica desde o ano 2000, e atua desde 2004 em consultório particular.  

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Pensando a interpretação na Psicologia Analítica

“a interpretação psicológica (já preparada pelos alquimistas) conduz à ideia da totalidade humana. Esta ideia tem primeiramente importância terapêutica, porque pretende apreender por meio de um conceito o estado psíquico resultante do lançamento de uma ponte para transpor uma dissociação, a saber, a distância entre a consciência e o inconsciente.”

Jung, Mysterium coniunctionis

Um tema pouco falado na psicologia analítica é a interpretação, para alguns esse tema é quase uma “heresia”, pois insistem de forma quase solene e doutrinal “Jung não fazia interpretações”. Enfim, não entraremos nessa discussão infrutífera, pois nos textos de Jung o termo “interpretação” aparece livre dos preconceitos(como vemos na epigrafe), diferente do que alguns alimentam. Essa “polêmica” tem relação com fato de haver uma separação da clínica com teoria. Isso ocorreu especialmente porque Jung não deixou escritos sobre técnica analítica, frisando basicamente seu método dialetico e fundamentalmente e a amplificação, justamente para evitar que a análise deixasse de ser uma experiência singular entre analista-paciente e se fixasse em perspectivas teórico-doutrinárias. 

Não obstante, muitos analistas buscaram delimitar aspectos da clínica e da relação terapeutica que poderam ser descritos como “técnica analítica junguiana”, na medida que em servem como uma referência geral, um nome que possibilita que o analista compreenda seu trabalho – na medida que o exerce em sua particularidade e na relação com o analisando.

Parte da dificuldade em trabalhar a interpretação na psicologia analítica está em definir o que é a interpretação. Lambert, faz uma referência etimologica importante que nos ajuda a pensar a importância do termo “interpretação” nos diz que 

Partridge, em Origens, demonstra a derivação da palavra interpretação” do latim pretium que significa “preço”, com paralelos em louvar, precioso, apreciar e depreciar (1958, p. 525). Uma interpretação refere-se ao trabalho de um negociador, intermediário ou de um agente comissionado. Presumivelmente, os analistas são, de alguma forma, tudo isso. Eles descrevem e negociam entre as várias partes da personalidade do paciente e, em discussão com o paciente, atribuem-lhes peso ou valor entre, por exemplo, as suas complexidades e as suas simplicidades, o seu ego e o inconsciente, o ego e o self; etc. Isto também se aplica à transferência do paciente e a outras relações interpessoaisi (LAMBERT,1981, p45)  

O papel do analista como um mediador, que observa, que entra em contato com o inconsciente do paciente, auxiliando no reconhecimento e integração de conteúdos importantes – que o paciente julgava sem valor. O investimento de energia do analista, possibilita que o paciente acolha o valor sua história, de seus conteúdos e seus valores para viver a individuação.  Ao interpretar o analista convida o paciente a olhar para si, de modo diferenciado. Promovendo a integração e dialogo interior.  

Michael Fordham foi um importante analista que enfatizou clínica em sua obra, compreendendo a clínica a partir de seus próprios processos clínicos e não pela amplificação mítica/arquetípica. Acerca da interpretação ele afirmou

(…)este procedimento tanto conecta o paciente com seu passado de uma forma significativa e pode iniciar o processo de mudança para libertá-lo de ficar preso nele pelo resto da vida. (FORDHAM, 1974, p.XI tradução nossa)ii  

Nessa perspectiva a interpretação se refere a intervenção feita junto ao paciente que possibilite o paciente integrar sua história, a qual podemos também nomear como passado, complexos, sombra ou inconsciente.  

Com esse intuito a interpretação assume um papel importante no processo analítico por ser capaz propiciar o processo simbólico de transformação da atitude da consciência do paciente. Este processo, contudo, não deve ser compreendido como exercício teórico ou de imposição de uma teoria. Fordham apresenta alguns pressupostos interessantes para se pensar a interpretação, são eles: 

(1) Uma interpretação é principalmente, mas não exclusivamente, um ato intelectual derivado da experiência de um analista.  

(2) Conecta as afirmações do paciente que possuem uma fonte comum desconhecida pelo paciente. Então, quando o analista fala ao paciente sobre a fonte, ele faz uma inferência que vai além do material atual em questão. 

(3) Para ser eficaz, uma interpretação deve ser organizada e foram feitas tentativas para definir a sua estrutura, por vezes de forma muito precisa. Ezrael (1952), por exemplo, propôs que nada poderia ser chamado de interpretação que não incluísse a palavra “porque”, para indicar a inferência do analista. Isso restringe demais o termo e, sem negar o valor de uma definição tão precisa, omite o elemento preditivo necessário ao considerar o efeito que uma interpretação terá sobre o paciente. 

(4) A interpretação deve ter por objetivo ajudar o paciente a controlar a ansiedade, aliviar a culpa excessiva ou outras obstruções ao bom funcionamento da sua vida mental. Faz isso trazendo um processo ou estrutura inconsciente, para a relação com o ego, alargando assim o campo da consciência. Se isso não acontecer com frequência adequada, o procedimento analítico e, especificamente, a e especificamente a aliança terapêutica, será prejudicada e o trabalho contínuo de análise pode cessar.

(5) O valor interpretação está representado no afeto enraizado no inconsciente do analista inconsciente do analista. Isto fornece aquele elemento de espontaneidade que numa interpretação que faz toda a diferença na sua eficácia. 

(6) A validade de uma interpretação só pode ser verificada na entrevista analítica. De acordo com esta proposição, o que o analista comunica ao seu paciente é essencialmente diferente do que ele sabe após a entrevista, ou pensa que descobre sobre um paciente quando fala com um colega, ou quando escreve um artigo ou livro em que o material de uma entrevista está a ser analisado mais do que aconteceu na entrevista. Qualquer descoberta que ele faça nestes contextos não é passível de validação no contexto analista-paciente porque está a ser dirigida a um público diferente; assim, uma interpretação só pode ser verificada em relação em relação aos destinatários. Não quero insinuar que as discussões fora das entrevistas sejam inúteis. não servem para nada; podem esclarecer dados difíceis, mas o que se pensa não pode ser validado em relação ao paciente.iii(FORDHAM, 1986, 113-4 – tradução e grifos nossas) 

A partir desses pressupostos podemos compreender a dimensão da interpretação pela visão de Fordham. Como resultante natural da relação analítica, a interpretação decorre da elaboração dos processos contratransferencias (que explicitam os aspectos afetivos e conteúdos incosncientes projetados no analista). Como a interpretação visa o restablecimento relação da consciencia ou inconsciente, integrando os conteudos que geram sofrimento. A interpretação sempre é validada pelo paciente, em seu processo simbólico e de transformação. Não importa o quão “brilhante” ou original seja a interpretação se não fizer sentido para o paciente, isto é, se não for validada pelo paciente, é inútil.

A interpretação é uma comunicação especial dentro do enquadre analítico. Como dito acima, a interpretação tem uma intenção (integrar processos conscientes e inconscientes), um objeto (que pode ser a transferência, um sonho, resistência, defesas, projeções, fantasias, etc…), um processo (que atende a relação dialética entre paciente e analista) que se manifesta sobretudo na linguagem verbal – mas, pode ter expressões não verbais.

Apesar da interpretação ser um processo racional, a sua expressão não deve ser uma “racionalização teórica ” ou intepretação é uma comunicação simbólica que se ajusta a realidade do paciente. Mark Winborn, falando sobre a interpretação nos diz

Uma boa interpretação, tal como um bom poema, começa muitas vezes com o algo familiar mas, ao longo do caminho, revela algo não visto anteriormente ou não pensado, ao mesmo tempo que cria algo novo na psique do paciente. Esta é a base poética da interpretação.
Uma interpretação eficaz exige que se escute o paciente como se escuta um poema ou uma canção – isto é, ouvir como as palavras se juntam (a sintaxe para além do o significado semântico), a forma como as metáforas são transformadas e manipuladas, e como os poemas e as canções que nos cativam são aqueles que não só nos falam mas também nos surpreendem de alguma forma. (WINBORN, 2019, p.46 – tradução nossa)

A interpretação é uma metafora, um análogo possível ao conteúdo inconsciente que possibilita que a emergência do símbolo. Na interpretação busca-se apresentar o paciente a si mesmo. Dessa forma, é sempre uma sintese, uma criação conjunta. A linguagem da interpretação é uma ponte simbólica do individuo para ele mesmo, sendo essencial que contenha abertura para o novo, não sendo taxativa, racionalista ou teórica.

Como a interpretação emerge na relação analítica, ela precisa ser considerada como muita atenção pelo analista para não gerar interpretações inoportunas, inadequadas ou equivocadas. Winborn sugere que modelo de reflexão

Outro modelo de organização que considero útil são os quatro W’s – [what, where, When, Why] o que, onde, quando e porquê- que é adaptado de um modelo desenvolvido por Riesenberg-Malcolm (1995). A autora propõe três fatores centrais a serem considerados pelo analista durante o processo interpretativo que pode ser resumido como “o quê”, “onde” e “quando “que formam a lógica por detrás de uma interpretação. Considero benéfico considerar o modelo de Riesenberg-Malcolm de forma mais alargada do que ela o apresentou, e acrescentei acrescentei uma área adicional de enfoque – nomeadamente o “porquê”. (WINBORN, 2019, P.90-1 – traduação nossa)

Esses quatro elementos são muito úteis diante da possibilidade da interpretação. Vejamos cada um:

O quê – Segundo Winborn, indica o foco da interpretação, o que será interpretado? Poderia ser a trnasferência, a contratransferência, a relação com um complexo, um processo de defesa, resistência, um simbolo, um sintoma, um sonho, tema arquetípico recorrente.

Onde – Se refere a localização da preocupação do paciente, seja relacionado ao próprio paciente (dentro de si mesmo), ao analista ou na relação entre analista e paciente. Assim, pode partir do ponto de vista subjetivo do paciente, do percepção do analista ou intersubjetivo.

Dependendo do assunto da interpretação, ela pode ser formulada a partir da auto-perspetiva do paciente, a perceção que o paciente tem de mim, a perceção que o paciente tem de outra pessoa importante, ou a preocupação do paciente com o que está a acontecer numa relação, incluindo a sua relação comigo. Por exemplo, um paciente que se sente pouco atraente pode estar mais pode estar mais preocupado com a sua auto-perceção do que com o fato de eu o ver como pouco atraente.Para que uma interpretação que envolva o sentimento de falta de atratividade do paciente seja eficaz, seria importante focar a interpretação apenas na auto-perceção do paciente e deixar de fora outras perspectivas possíveis. Essa interpretação pode focar-se em como surgiu o sentimento de falta de atratividade ou quais os factores que mantêm essa auto-perceção. (Winborn, 2019, p. 91 – tradução nossa)

Quando – Se refere o momento em que se oferece a interpetação, isto é, da disponibilidade ou receptividade do paciente a interpretação. “O tempo de uma interpretação é baseado na experiência, julgamento, intuição, conhecimento do paciente e conexão com a contratransferência.”(ibid, p. 91-2 – tradução nossa) A interpretação pode ser imediata ou levar anos para ser apresentada. Devendo o analista se perguntar quando é apropriado oferecer a interpretação, tanto quando surge para o analista e quando paciente terá recepitividade para receba-la.

O porquê – Este é o elo de ligação entre todos os elementos anteriores. É se questionar se a interpretração é necessária, se atende as questões que o paciente traz para análise e se com ela o processo poderá avançar.

Esses quatros elementos ajudam na reflexão, na organização e na comunicação com o paciente. Naturalmente, o processo de elaboração da interpretação depende da capacidade do analista estabelecer uma relação dialética tanto com o paciente quanto com seus próprios conteúdos internos. A capacidade de estabelecer essa relação de dialética interna, possibilita perceber o que é percebido por seus orgãos sensoriais, atos falhos, emoções, afetos, suas fantasias e imagens que emergem a partir de sua relação com o paciente. Para a tanto é importante abrir um espaço interno, sem julgamento que possibilidade que os processos inconsciente do próprio analista se manifeste como resposta ao paciente.

O processo interpretativo envolve um variáveis que contribuem para o processo: teoria analítica, intuição, sentimento, influências inconscientes influências inconscientes, as personalidades do paciente e do analista, e o campo intersubjetivo constituído pela díade analítica. No entanto, cada uma destas variáveis requer uma metodologia para estruturar a sua utilização.(…) A noção de ciclo de interpretação sublinha igualmente a ideia de que nenhuma interpretação existe isoladamente. Cada interpretação é uma pequena peça de trabalho psicológico psicológica no contexto narrativo mais alargado de uma análise; cada uma delas contribui potencialmente para para o movimento progressivo da psique em resposta à situação analítica. (WINBORN, 2019, p.51-2)

Winborn (2019) sugere compreender que para além de “um ato analítico” a interpretação seja compreendida como o processo interpretativo, que inclusive possa ser compreendido em partes, como fases ou passos, ressaltando os diversos aspectos do processo interpretativo. Os quatro aspectos/fases seriam:

Observação confrontativa – Consiste em indicar ou chamar a atenção do paciente para um ato, padrões de comportamento, afeto, respostas para as quais o paciente possa não estar consciente. O “confronto” nada mais é que colocar esse conteudo diante do paciente. Um exemplo, seria “eu tenho percebido, que sempre que você fala da sua mãe você arregala os olhos e se encolhe na poltrona”. Uma carateriste do confronto é não ir além do que é apontado. é apresenter o objeto, é apresenter e permitir que o paciente sinta, perceba e entre em contato com esse fato que se faz notar ao analista. Uma vez conscientizado, naturalmente haverá um movimento interno no paciente que buscará o sentido/significado dessa vivência apontada pelo analista.

Inferência elucidativa – ou “esclarecimento por inferência” Este é um passo intermediario entre a Observação confrontativa e a interpretação. Seu objetivo não é explicar, mas estabelecer uma possivel relação entre algo manifesto (sintoma, comportamento, afeto, etc…) com algo que vai para além do mesmo, indicando outro movimento interno. Contudo, sem estabelecer uma explicação. Por exemplo, após um paciente, sofria com o execesso de controle dos pais, se dar conta que conseguiu fazer suas primeiras escolhas por si mesmo, pode-se apontar “você parece espantado com a autonomia que você está ganhando”. É importante considerar que as inferências elucidativas assim como as observações confrontativas se sucedem mutuamente, em meio ao dialogo do analista com o paciente, sempre permeada por perguntas que possibilitam essas expressões do paciente.

Interpretação – A interpretação é uma comunicação atribui um significado a algum conteúdo do paciente que antes não era percebido. Ou seja, a interpretação estabelece uma relação entre um conteúdo atual com sua matriz inconsciente – que geralmente está associado um complexo. Para tanto, é necessário compreender a história do paciente, compreender seus padrões, para poder trazer de forma completa, porém suscinta, uma interpretação que integre o momento atual com a história, produzindo um sentido simbólico que integre a vivência atual e sua história até então consciente. Em exemplo avulso de uma interpretação poderia ser “me parece que julgamento tão severo que você tem sobre as pessoas que se aproximam, é uma forma de você se proteger você da uma rejeição ou do sentimento de rejeição que você sentiu na sua adolescência”.

Construção – A construção remente a própria construção do processo anaítico, onde os padrões interpretativos conduzem a uma nova percepção de si, a uma nova expressão de relação interior e do Self. Assim, a construção está intimamente ligada ao processo de transformação e individuação.

A interpretação é uma expressão da função transcendente vivida na relação transferencial. Por isso, em última análise só fará um sentido imediato ao par analítico. Assim, o analista deve se ater a realidade psiquica do paciente, compreendendo que processo se dá no campo intersujetivo (transferêncial) co-criado pelo analista e paciente, sem se fixar em premissas teóricas e significados rigidos.

A análise produz sempre uma certa indeterminação, onde não dá para se fixar numa ideia de “certo e errado”, o foco é a individuação e a transformação da personalidade. Esta transformação só é possivel quando sustentamos a tensão entre o “saber” e do “desconhecido”, vivenciando e integrado o “desconhecido” através da experiência simbólica e afetiva do Self.

A interpretação é um ato analítico fundamental, pautado na ética e no processo de individuação do analista e visando a individuação do analisando.


Referências

FORDHAM, M R. Gordon, J. Hubback and K. Lambert (eds), Technique in Jungian Analysis. London: Heinemann, 1974. 

FORDHAM, M. Jungian Psychoterapy – A study in analytical psychology, London: Maresfield, 1986. 

LAMBERT, K, Analysis, Repair and Individuation, London: Academic Press, 1981. 

WINBORN, M. Interpretation in Jungian Analysis, New York: Routedge, 2019.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi

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