Anima e Animus

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5 de abril de 2010

A Anima e o animus são pólos de manifestação da mesma dinâmica arquetípica, que vai reger as relações entre “Eu-Não-Eu”, isto é, as relações com o mundo externo os “Outros” e as formações do inconsciente que apreendemos como diferentes nós mesmos.

Anima e Animus derivam do mesmo termo latino Anima. Anima em latim significa “alma”.  Jung não compreendia a anima como alma num sentido “teológico”  ou “metafísico”.  A noção de alma estava mais próxima da concepção de Plotino, que compreendia como o principio vital, o principio de movimento e vida,  que organiza o mundo sensível.  A Anima correspondia a um principio de vida, uma dinâmica que mobilizaria e impeliria a ação. Por outro lado, o Animus, seria o género masculino de anima, era utilizado para se referir a “parte pensante” da alma, no inicio da idade média o uso de animus cedeu espaço para o termo spiritus,  já o sendo associado a um principio relacionado a força, ação, racionalidade, intelectualidade e ao sentido.

A diferenciação de anima e animus se manifesta  no processo de formação Ego. Ao longo do desenvolvimento do indivíduo,  no caso do menino, os aspectos do feminino cultural tendem a ser rejeitados, por se demonstrarem incompatíveis com a identidade do ego masculino.  Esses aspectos femininos incompatíveis com o Ego, embora, necessários para a vida humana, são relegados ao inconsciente, onde formarão um complexo funcional, que será composto dos tanto pelas experiências pessoais que o individuo terá com figuras femininas(mãe, professora, irmã etc…) quanto pelo aspectos do feminino cultural, que são impessoais, dando à anima o aspecto feminino complementar à identidade masculina do Ego. O mesmo processo ocorrerá na menina, dando forma ao animus.

Para comentar melhor essas duas polaridades desse arquétipo, devemos vê-los em sua peculiaridade.

Anima

Antes de continuar, devo dizer que a a Anima sempre me soou é poética.  Sempre que leio Vinicius de Moraes, a Anima me salta aos olhos. Assim, eu gostaria de compartilhar uns poucos versos de Vinicius de  Moraes, que certamente nos ajudarão a pensar um pouco acerca da Anima.

Soneto do corifeu

São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.

A  Vida Vivida

(…)

O que é a mulher em mim senão o Túmulo
O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos abraços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?

(…)

Vinicius de Moraes,http://www.viniciusdemoraes.com.br/poesia/index.php

No livro “Os Arquétipos e o Iconsciente coletivo” (p.42)  Jung se refere a Anima como o “arquétipo da vida”.  A Anima é uma configuração do inconsciente,  ou seja, uma forma como o inconsciente se manifesta,  que agrega os elementos fundamentais a manutenção da dinâmica psíquica, ou seja, possibilita que o Ego seja nutrido e estruturado pela dinâmica psíquica.

Jung se referia a Anima como “psicopompo” ou “guia da alma”, por ser a estrutura psíquica que permitiria ou viabilizaria a relação da consciência com o inconsciência, pois Anima fascinaria o Ego.  Esse fascínio Vinícius de Moraes brilhantemente chamou, no soneto acima, de  ”os perigos desta vida ” , pois a Anima, pode mudar drásticamente  a vida de um homem – especialmente quando ela está inconsciente, pois, assim pela pode ser projetada, e geralmente numa figura feminina.  Toda projeção é uma forma do inconsciente se comunicar com a consciência, indicando o que o individuo precisa para seu desenvolvimento.  Nós vemos essas projeções no cinema, na literatura e no dia a dia em relacionamentos que mudam a vida do homem (ora para melhor, ora para pior) gerando uma espécie pode dependência da mulher, muitas vezes são relacionamentos que ninguém consegue compreender como podem ocorrer.

Além dessas situações ou relacionamentos inusitados, a anima também está relacionada com a sensação de completude “ao encontrar a alma gêmea” ou a “cara metade”. Por isso,  a perda de um amor pode se tornar tão dramática, pois, não  representa apenas não só a perda de um relacionamento, mas a perda da própria alma .  É como Vincius de Moraes diz “Aquela em cujos abraços vou caminhando para a morte, Mas em cujos braços somente tenho vida?”.  Ele não fala de  uma mulher, mas, da Mulher que está além de toda mulher.

Quando o individuo foge ou evita ter contato com a anima, mantendo a projeção, pode ocorrer riscos ao relacionamento, pois, o ele terá uma certa idealização (própria da anima) da pessoa com quem ele está. O que pode gerar situações como uma cobrança exagerada (idealizada) com a pessoa com quem ele se relaciona, ou quando a pessoa, quando essa pessoa exige seu espaço para ser ela mesma, tornando a projeção inadequada. A tendência é a se deslocar para um outra pessoa, reiniciando o ciclo de projeção.

A integração da Anima corresponde a integração de uma parte da experiência humana que chamamos de feminino, que é um passo para o desenvolvimento de nosso potencial, e fundamentalpara compreendermos quem somos e para lidarmos com o mundo de uma forma mais plena e integra.

Animus

Jung escreveu muito pouco acerca do animus, se compararmos com o volume de material produzido sobre a anima. sem sombra de duvida a anima era de real interesse para jung. Grande parte dos trabalhos produzidos acerca do animus foram realizados pelos alunos, ou melhor, alunas. dentre as quais podemos citar sua esposa Emma Jung, Toni Wolf, Esther Harding e Marie-Louise von Franz.

Acredito que o entendimento sobre o animus e sua dinâmica seria muito mais fácil se estudássemos a genial da obra de Clarice Lispector. Suas páginas estão repletas de contelaçôes do animus. desde sua forma mais primitiva(projetada) no rato ruivo morto que conduz a experiencia verdadeira de si mesma, na barata que conduz a uma reflexão ética, ao búfalo que com os olhos cheios de odio lhe ensina a força. outros como o homem gordo que chora enquanto come seu macarrão ou cego mascando chicletes produzem um incomodo a ponto levantar questionamentos acerca da vida.

um ponto comum entre anima e animus é a alteridade. eles sempre nos conduzem a experiencia do outro, seja pela busca da “mulher dos meus sonhos” ou na busca do “príncipe encantado”. que nos levará a uma experiencia com o ics como um outro dentro de mim mesmo. clarice demonstra como a experiencia desse “outro externo” se torna a experiência do “outro interno” promovendo um dialogo interior que redimensiona a vida.

É importante considerar, que ao contrário da anima que geralmente se manifesta como “uma mulher misteriosa” nos sonhos, o animus é plural, se manifesta numa variedade de imagens, ou mesmo como um  grupo (juri, conselho editorial), não numa forma fixa.

Jung dizia que, ao contrario da anima que o homem deve buscar, o animus a mulher deve resistir, para não ser dominado por ele. Isso, pois, em nossa cultura há uma valorização do masculino, o que favorece uma identificação com o animus. Assim, a mulher deveria resistir ao ímpeto do animus, mas, dialogar com animus, sem perder a sua identidade feminina.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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