Revisitando o texto “Depressão Preconceito e Elias”

Em 2010 fiz uma breve palestra para a organização “Mulheres Cristãs em Ação”, da Igreja Batista da Praia do Suá em Vitória, com o tema “Depressão, Preconceito e Elias”. Naquela palestra o objetivo era apresentar sucintamente os sintomas da depressão e combater o preconceito que era/é comum no meio evangélico, com um tempo de cerca de 40 minutos não era possível falar muito. Recentemente, num curto período de tempo acabei fazendo várias referencias a esse texto/palestra, o que acendeu o desejo de revisitar e ampliar o texto.

Nesses 10 anos acompanhamos muitas mudanças nesse cenário, vimos líderes religiosos falarem abertamente de sua experiência pessoal com a depressão, ajudando a combater preconceito. Contudo, o crescimento movimento evangélico, especialmente nos ramos pentecostal e neopentecostal, trazem ainda um preconceito com os transtornos psiquiátricos, atribuindo sua causa a falta de fé ou algum pecado. Utilizar da personagem bíblia Elias se torna importante para enfrentar o preconceito em relação a depressão (e outros transtornos), aproximando e contextualizando com Bíblia, que é a referência de fé.

A narrativa bíblica temos personagens possivelmente sofreram de pelo menos episódios de depressão como Jó, Jeremias, Saul dentre outros, mas a situação de Elias é emblemática. Assim, vamos retomar um pouco da narrativa sobre Elias, mas direcionando para uma perspectiva um pouco mais teórica para pensarmos a depressão sob a ótica junguiana.

A Depressão

A depressão atravessa a história da humanidade, com diferentes termos, mas apontando para o mesmo conjunto de sintomas. Hoje, a depressão é uma forma genérica se se referir aos transtornos depressivos que se caracterizam pelo

humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. O que difere entre eles são os aspectos de duração, momento ou etiologia presumida. (APA, 2014, 155)

As características podem ser variadas apontando para uma dificuldade do Ego em manter suas funções. De forma geral, essa dificuldade se nota por uma perda acentuada da energia disponível na consciência. Essa dificuldade geralmente é descrita como:

– Perda de interesse

– Alterações no Sono (dorme demais ou tem insonia)

– Alterações no apetite (come muito pouco ou come muito)

– Dificuldade de concentração

– Lentificação das atividades físicas e mentais (demora a responder aos estímulos)

–  Sentimento de fracasso, inutilidade, culpa e com julgamentos negativos acerca de si.

– pessimismo,

– Indecisão, dificuldade de tomada de decisões.

– Isolamento

– Inquietação, irritação

– Chora sem motivo específico ou não conseguir chorar.

A depressão pode ter causas biológicas ou endógenas (que podem ser de ordem genética, verificadas pelo histórico familiar de depressão e/ou secundárias associada a doenças como hipotireoidismo, apneia do sono etc..) ou por causas externas ou exógena, isto é, a experiências e eventos vividos pelo do indivíduo (no passado ou no presente). A depressão endógena ou biológica tende a ter uma resposta excelente ao tratamento medicamentoso. A depressão exógena ou por causas externas, o ideal é o tratamento medicamentoso e psicoterapia conjugados.

No cenário junguiano não temos material focado da depressão, pois, há uma compreensão que a depressão é uma expressão de processos adaptativos (internos e externos) e defensivos que culminaram numa alienação do ego e no empobrecimento simbólico, o que se percebe na diminuição da energia disponível ao ego. O aspecto descritivo (impessoal) para a psicologia analítica tem pouca relevância frente ao caso individual. Cada depressão é única, pois é a expressão de uma psique em sofrimento e, por mais similares que sejam os sintomas, deve ser compreendida a partir da vida de cada indivíduo.

Depressão e Elias

Nossa proposta é refletir acerca da depressão a partir da personagem Elias, que foi um dos mais importantes profetas do Antigo Testamento. A bíblia dá poucas informações sobre sua história, contudo a riqueza da descrição de seu sofrimento nos permite fazer algumas inferências e amplificações. No capitulo 19 do livro de I Reis, temos um relato interessante sobre a situação dele. Vejamos o que diz o texto,

1 –  Ora, Acabe contou a Jezabel tudo o que Elias tinha feito e como havia matado todos aqueles profetas à espada.

2 – Por isso Jezabel mandou um mensageiro a Elias para dizer-lhe: “Que os deuses me castiguem com todo o rigor, caso amanhã nesta hora eu não faça com a sua vida o que você fez com a deles”.

3 – Elias teve medo e fugiu para salvar a vida. Em Berseba de Judá ele deixou o seu servo

4 – e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. “Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados. ”

5 – Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu. De repente um anjo tocou nele e disse: “Levante-se e coma”.

6 – Elias olhou ao redor e ali, junto à sua cabeça, havia um pão assado sobre brasas quentes e um jarro de água. Ele comeu, bebeu e deitou-se de novo.

7 – O anjo do Senhor voltou, tocou nele e disse: “Levante-se e coma, pois a sua viagem será muito longa”.

8 – Então ele se levantou, comeu e bebeu. Fortalecido com aquela comida, viajou quarenta dias e quarenta noites, até que chegou a Horebe, o monte de Deus.

9 – Ali entrou numa caverna e passou a noite. E a palavra do Senhor veio a ele: “O que você está fazendo aqui, Elias? ”

10 – Ele respondeu: “Tenho sido muito zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos. Os israelitas rejeitaram a tua aliança, quebraram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada. Sou o único que sobrou, e agora também estão procurando matar-me”.

11 – O Senhor lhe disse: “Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar”. Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto.

12 – Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave.

13 – Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: “O que você está fazendo aqui, Elias? ”

14 – Ele respondeu: “Tenho sido muito zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos. Os israelitas rejeitaram a tua aliança, quebraram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada. Sou o único que sobrou, e agora também estão procurando matar-me”.

15 – O Senhor lhe disse: “Volte pelo caminho por onde veio, e vá para o deserto de Damasco. Chegando lá, unja Hazael como rei da Síria.

16 – Unja também Jeú, filho de Ninsi, como rei de Israel, e unja Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá, para suceder a você como profeta.

17 – Jeú matará todo aquele que escapar da espada de Hazael, e Eliseu matará todo aquele que escapar da espada de Jeú.

18 – No entanto, fiz sobrar sete mil em Israel, todos aqueles cujos joelhos não se inclinaram diante de Baal e todos aqueles cujas bocas não o beijaram”. (BIBLIA, I Reis 19:3-18, 2000),

Para entendermos esse capitulo da vida Elias, devemos lembrar rapidamente o que aconteceu no capítulo anterior, nele, Elias fez um desafio a 450 profetas de Baal, o deus que respondesse o holocausto com fogo, seria o Deus verdadeiro, após meio dia de suplicas os profetas de Baal nada obtiveram, Elias ao orar teve uma resposta imediata, onde fogo caiu do céu. Logo após, o povo que estava ali presente ficou maravilhado e matou os 450 profetas.

Mesmo acontecendo esse milagre, Elias não viu a conversão em massa que provavelmente ele esperava. Muito pelo contrário, a notícia que ele teve foi justamente que a rainha Jezabel queria vê-lo morto. Isso desencadeou uma resposta negativa, o que podemos pensar em uma depressão reativa, onde a frustração frente a não conversão do povo e a ameaça fez com que ele internaliza-se uma ausência de sentido em tudo que ele fazia. O sentimento de vazio e inutilidade tomando conta.

A bíblia não faz relatos sobre a vida de Elias antes de seu ministério profético, mas podemos especular, pelo próprio texto, que viveu na ortodoxia da religião num momento onde grande parte do povo estava desviado, provavelmente ele não tinha um sentimento social de pertença, podendo mesmo se sentir o estranho/diferente em meio a seus pares. A esperança de conversão era também de estar inserido coletivamente e protegido pelo sentimento de pertença e identidade com o grupo (considerando que a religião era o cerne da identidade social judaica). A decepção/frustração rompe com a esperança e possibilidade de um futuro possível.

A frustração gera um movimento defensivo/dissociativo com a realidade. Mesmo diante os acontecimentos recentes com os profetas de Baal, ele são suportou a realidade. Podemos compreender essa defesa como uma alienação do eixo ego-self. Ou seja, um distanciamento dessa experiência interior de totalidade, integridade e saúde – geralmente representada como “imagem de Deus”. A experiência do Self, possibilita a sensação de segurança, vivacidade e sentido.

Diante desta situação (externa e interna) Elias teve medo e fugiu, se isolou, foi para o deserto, isto é, foi para uma região árida, infrutífera, vazia, que certamente refletia o que ele estava se sentindo internamente. Esse verso 4 é bem interessante.

4 – e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. “Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados.”

Além do relato do isolamento, temos que ele chega a um pé de giesta (e outras traduções Zimbro – que é mais provável, visto é que uma planta alta e resiliente as intempéries climáticas do deserto, além de ser medicinal – que implicaria também simbolicamente na possibilidade de encontro e proteção, visto que ele senta-se abaixo dele). O fato temos três fatos importantes aqui: 1 – ele ora; 2- ele pede para ter a vida tirada; 3 – ele se sente inferior aos “antepassados”.

1 – Ele ora: mesmo em seu estado depressivo, Elias não deixou de acreditar. Não há uma perda da fé, o rompimento interior ou a descrença em si não implica numa perda da relação com a Deus transcendente. É uma situação interessante, pois, pessoas em estado depressivo quando oram, buscam a espiritualidade fazem com uma fé verdadeira e intensa. Contudo, a perda de contato interior, a fragilidade egoica diante sentimento de vazio e desenraizamento impede a percepção de ser ouvido ou perceber possíveis respostas, de moda a deixar o indivíduo ainda mais desamparado

2- Ele pede para ter a vida tirada: Essa passagem é interessante, pois, fala de uma falta de perspectiva de futuro, a falta de perspectiva não implica na perda da esperança, assim como com dissemos acima, ele ora, ele pede, ele tem esperança, mesmo que tão sutil que só enxerga na morte a possibilidade de cessar o sofrimento. Isso difere do que seria a ideação suicida, pois, Elias não planeja a própria morte, nem tem o ímpeto tentar tirar a própria vida, como foi com Judas Iscariotes, que diante do desespero e da culpa tirou a própria vida. Na maior parte das vezes, pacientes depressivos falam que gostariam morrer, mas, isso implica em mudar, sair dessa situação de sofrimento.  

3 – Ele se sente inferior aos antepassados: Outro sintoma comum é a ideação autodepreciativa onde o indivíduo percebe apenas seus defeitos, e os potencializa. No caso, quando ele fala de não ser melhor que os antepassados dele, certamente, ele fala dos pecados dos antepassados e o quanto ele não merecia viver.

Na sequência, ele dorme – vale a pena ressaltar que um sintoma muito comum na depressão é a alteração do regime de sono (uns dormem demais, outros sofrem de insônia, trocando o dia pela noite). A figura do anjo também muito importante, pois, o anjo o toca por duas vezes trazendo a comida, contudo, essa presença não é assimilada. Isso é importante pois, na depressão o Ego a elaboração simbólica é comprometida, ou seja, os símbolos e eventos simbólicos que seriam significativos não são elaborados pelo ego – ou seja, o ego não se afeta ou se transforma.

Exemplos de fé (4): o profeta Elias - Opus Dei

No caso de Elias, o cuidado divino (o zimbro/giesta para descansar, o alimento e água, a caverna q veremos adiante) estava presente mas ele era capaz de, naquele momento, perceber e elaborar esse cuidado. Esse é um fundamental, é injusto cobrar do paciente deprimido essas percepções e elaborações, simplesmente porque nesse momento são para muitos impossíveis.Na maior parte das vezes, essa elaboração e possível transformação se dá na psicoterapia, onde eventos que deveriam ser significativos são discriminados e apontados pelo terapeuta, possibilitando que o ego vivencie e, gradativamente, se modifique abrindo a possibilidade de transformação.

O sofrimento Elias continuava, e ele caminhou pelo deserto durante 40 dias e 40 noites, até chegar em Horebe ou Monte Sinai, no Egito. É extremamente comum nas mitologias e tradições religiosas haver um ou mais montes sagrados, as montanhas simbolizam uma elevação espiritual, o encontro com a divindade. Na tradição judaica, o Monte Sinai já era conhecido por ser o lugar onde Deus havia revelado os 10 mandamentos a Moisés.

Note-se que há algo bem interessante, chegando a esse lugar sagrado ele entra numa caverna. Simbolicamente isso é muito importante. Mesmo no lugar sagrado, há espaço para a caverna, para a depressão. Não apenas o profeta sofria do mal, mas, no monte sagrado havia um lugar pra preparado para receber o profeta em depressão.

Chegando na caverna para passar a noite Deus fala com ele, propõe uma questão fundamental “O que está fazendo aqui, Elias?”. Ao que ele responde ao drama que via e vivia no reio de Israel.

Na sequência, há uma das cenas mais interessantes descritas na Bíblia, que é essa revelação

11 – O Senhor lhe disse: “Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar”. Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto.

12 – Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave.

13 – Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: “O que você está fazendo aqui, Elias? ”

Há três manifestações de força (cratofanias): tempestade, terremoto e fogo. Na perspectiva de Rodolf Otto, onde o sagrado seria compreendido como o mistério tremendo e fascinante( mysterium tremens et fascinans) essas manifestações corresponderiam ao aspecto tremens ou aterrorizante do sagrado.  É interessante, pois, Deus não se apresentou e como do “Deus Terrível” ou “Senhor dos Exércitos” enquanto expressão de grandeza e força. Mas, a construção do eixo ego-Self, do sagrado interior, não se dá pela força ou ímpeto que a consciência deseja.

Após a manifestação da força, Deus se manifesta no murmúrio de uma brisa suave, pensando no deserto a brisa é um acalento, um afago. A brisa, traz a noção do afeto compassivo e restaurador. Diante deste afeto, da serenidade e da brisa, Elias pode se colocar diante Deus, na saída da caverna.

É interessante essa passagem, pois, quem a pessoa que atravessa a depressão sofre muitas cobranças: que ele tenha coragem, que ele tenha fé, que ele faça isso ou aquilo, como se o processo se desse à força. O tratamento é um caminho suave, como a brisa, com afeto e paciência.

A pergunta “O que você está fazendo aqui, Elias?” Repetida duas vezes é interessante para se analisar. A repetição da pergunta tem mais relação com a forma como se responde do que com o conteúdo em si da reposta (podemos fazer uma analogia, com a repetição da pergunta de Cristo a Pedro, “Simão, você me ama?)”. Essa repetição implica na necessidade de uma reposta profunda, refletida e verdadeira, que expresse o indivíduo em totalidade.      

 Assim, ela assume um caráter existencial, que poderia ser desdobrada em “onde você está em sua vida e o que você faz dela?” Essa pergunta é o desafio subjacente a depressão, compreender a função da depressão, compreender o que ela aponta, ensina e até mesmo para poder responder com segurança e afirmativamente essa pergunta profunda. Sem isso, os eventow simbólicos, a integração da possibilidade de cura não realiza.  Pois, nessa pergunta reside a possibilidade de direcionamento, como vemos no texto bíblico.

Após a reposta de Elias, Deus aponta o caminho que ele deveria seguir, retomar o caminho e ungir a Hazel, Jeú e Elias. Essa ordenação tem um caráter importante, atribuiu um sentido e um propósito a vida. É considerar que esta ordenação, temos a restauração das funções proféticas de Elias, a restauração do sentido e da saúde de Elias.

No último verso, há uma revelação que ainda havia 7 mil que continuaram fieis em Israel. Note, isso atribui um sentido de pertença, um sentido de solidariedade e de não estar só. Rompendo o sentimento de vazio, solidão e isolamento ocasionado pela depressão. Mesmo que Elias tivesse de retornar outros 40 dias, já não se sentiria só.  O tempo atravessa todo o texto, assim é importante perceber a paciência necessária nesse acompanhamento. A sensação de estar em si, de estar inteiro e poder estar genuinamente em relação com Deus marca essa etapa deste longo caminho de volta.

 Depressão e Preconceito

Temos vários preconceitos associados em relação aos transtornos psiquiátricos, contudo, vamos apontar aspectos relacionados a depressão comuns no meio religioso. Nesse sentido, podemos elencar duas categorias de preconceito:

1ª Em relação a natureza da depressão;

Em relação a natureza da depressão, muitos religiosos associam a depressão como falha moral, preguiça, falta de fé, o diabo/demônio na vida do individuo. A narrativa sobre Elias aponta exatamente na direção oposta a esses preconceitos.

James Hollis nos chama atenção “os dogmas religiosos podem tanto sustentar quanto conter os movimento da psique”(HOLLIS, 2005 p.88) Ou seja, a religião/religiosidade pode auxiliar e potencializar os processos integrativos ou curativos da psique ou fortalecer os processos defensivos e dissociativos. Acredito que a informação, compreensão especialmente por parte dos líderes religiosos que possibilitaram que a religiosidade sustentasse o processo de cura.

As narrativas, a imagética e a ritualística ´fornecem símbolos que favorecem a uma continência ao ego necessária a elaboração simbólica, desde que o ambiente seja seguro (isto é, sem cobranças, exigências e acusações).

2ª Ao tratamento

O segundo preconceito é tão complicado quanto o primeiro pois, se dirige ao tratamento. E se manifesta negação (frequentemente coletiva)da necessidade de tratamento psicológico e psiquiátrico, onde se afirma que a oração,  participação em cultos ou acompanhamento pastoral seriam suficientes. Na verdade, o ideal seria um acompanhamento adequado nas três esferas (psicológica, psiquiátrica e religiosa).

As críticas muitas vezes enfraquecem a rede de cuidado ou tratamento do paciente – visto que ele pode interromper um dos tratamentos ou se sentir pressionado ou ainda mais frustrado aumentando o sofrimento. Muitas vezes, as “boas intenções” de membros ou lideres religiosos apenas prejudicam o processo terapêutico desses pacientes deprimidos.  

Outro aspecto peculiar esse preconceito ao tratamento é a ideia de que o tratamento deveria ser com um psicólogo cristão. Nesse sentido, haveria uma certa confusão da função do psicólogo com a função pastoral (que na falta desta, seria projetada no psicólogo). De fato, o ideal seria que o psicólogo conhecesse nunces das principais denominações religiosas de modo a compreender e acolher o paciente sua vivencia religiosa. Em outras palavras, o mais importante é encontrar um bom profissional.

É interessante refletir sobre esse preconceito à luz do texto bíblico que comentamos. Deus mandou Elias ir ungir Hazel, como rei da Síria, que não era do povo de Israel, para ajudar em sua obra, mais adiante vemos que Hazael declarou guerra contra Israel, de forma a combater os inimigos de Elias, segundo a vontade de Deus. Ao longo de toda a bíblia vemos Deus usando pessoas que não eram do povo de Israel para salva-los. Outros exemplos bíblicos, que podemos citar são: Moisés, que Deus usou a filha do Faraó, para protegê-lo de Faraó; Davi que quando perseguido por Saul, ele encontrou abrigo entre filisteus de Gate(I Sm 27), eu seja, Deus usou os inimigos de Israel para dar abrigo a Davi; no período do exílio na Babilônia, Deus usou Ciro, Dario e Artaxerxes reis da Pérsia, para libertar o povo, restabelecer o templo e a reconstruir a cidade de Jerusalém conforme nos narram Esdras e Neemias; outro exemplo, foi o próprio Cristo, quando nasceu, teve de fugir de Herodes e encontrou abrigo no Egito, sendo acolhido numa terra estranha.

É importante termos clareza da necessidade de compreender a depressão apresenta uma complexidade que deve ser o foco do tratamento. Integrando a rede de apoio para que a resposta seja melhor ao tratamento e o paciente possa ter um retorno a uma vida significativa e com qualidade.

Referências Bibliográficas

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). DSM 5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª Edição. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Soc. Bíblica Internacional, 2000.

HOLLIS, J. MITOLOGEMAS, São Paulo: Paulus, 2005.

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Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Diretor do Centro de Psicologia Analítica do CEPAES. Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  desde 2012 Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

http://www.cepaes.com.br

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