Um breve comentário sobre “Teleologia”

 

(24 de julho de 2010)

Teleologia é um termo que as vezes confunde a quem está iniciando os estudos em psicologia analítica. Eu me recordo que há alguns anos, uns alunos de psicologia vieram me perguntar sobre os aspecto “teológico” da psique para Jung, eu estranhei, perguntei mais sobre o assunto, ai verifiquei que não era  “teológico”, e perguntei “vocês não estão querendo dizer ‘teLEológico’?” ai se desfez a dúvida… eles contaram que não entenderam o que era  “teleológico” e acharam que tinha alguma coisa a ver com “Teológico”.

Em sua etimologia teleologia vem de teleios que em grego, significa perfeito, completo, final e logos que significa discurso, estudo. A teleologia visa o estudo/compreensão das causas finais, isto e, visa compreender o propósito ou objetivo de alguma coisa.

A Teleologia está, de certa forma, associada com a noção de enteléquia . O conceito de enteléquia surge com Aristóteles, ele compreendia que todo organismo possui uma finalidade que está presente desde o inicio e que todo desenvolvimento visa essa finalidade. Um exemplo bem simples e ilustrativo é dizer que uma arvore é a enteléquia da da semente. O processo natural faria que a semente se torna-se o que ela sempre foi, em potência. A semente segue o impulso natural de transformação naquilo que lhe é completo, pleno ou perfeito que seria ser “árvore”, assim, uma semente/caroço de manga guarda o potencial de ser uma mangueira, não um abacateiro. Assim, a mangueira e a enteléquia do caroço de manga. 

A idéia de enteléquia se desenvolveu ao longo dos séculos, perdendo um caráter de predeterminação ou predestinação, mas, passou a compreender como um impulso natural/vital que impele os organismos ao desenvolvimento, como exemplo, dessa compreensão contemporânea podemos citar, na filosofia,  as idéias de Bergson e seu élan vital; na psicologia, as idéias do psicanalista D.W  Winnicott, acerca de sua teoria do amadurecimento, e de C.G.Jung com o processo de Individuação. 

Acerca do processo de individuação, Jung afirma,

Este processo corresponde ao decorrer natural de uma vida, em que o indivíduo se torna o que sempre foi. Ε porque o homem tem consciência, um desenvolvimento desta espécie não decorre sem dificuldades; muitas vezes ele é vário e perturbado, porque a consciência se desvia sempre de novo da base arquetípica instintual, pondo-se em oposição a ela. (JUNG, 2002, p. 49)

Todo processo de organização psíquica desde o nascimento (organização do Ego, complexos e etc.) tem como objetivo o desenvolvimento do individuo, ou mais precisamente, do que é mais próprio de cada individuo (selbst).  Mesmo as neuroses,  tem como objetivo reequilibrar o sistema psíquico retomando o processo de individuação, que foi perturbado ou comprometido por algum motivo.

Dessa forma, na psicologia analítica perspectiva teleológica é fundamental para compreender a dinâmica da psique, pois, toda manifestação psíquica(sonho, ato falho, sintoma, etc.) está imbuída uma intencionalidade, ou melhor,  possui um propósito/finalidade que serve a totalidade da psique. Essa perspectiva teleológica nos leva a questionar sempre o “para que?” de uma dada manifestação psíquica, e isso significa considerar o individuo em sua totalidade, para compreender a função/proposito de cada manifestação psíquica.

Referências :

JUNG, C.G. Os arquétipos e o Inconsciente Coletivo , Vozes: Petrópolis, 2002

 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

www.psicologiaanalitica.com

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