O final de ano é um período que inspira sentimentos ambíguos, pois em nossa cultura “compramos a ideia” de que as festas de final de ano é um tempo de luz, alegria, expansão, confraternização e renovação – como se não houvesse lugar para os sentimentos doloridos como a tristeza, saudade, culpa e sentimentos de vazio. O Natal e o Ano Novo podem ser extremamente opressivos.
Há lugar para a dor nessas datas? Sim! É curioso como perdemos o contato com os elementos fundamentais dessas festas: A noite, a vigília e o amanhecer.
A noite, com sua escuridão, é naturalmente um período de incerteza, medo, ansidade. Ao que devemos acrescentar, quando falamos do Natal, um trabalho de parto – que traz as dores do parto, a apreensão sobre a saúde da mãe e do bebê, a incerteza do tempo do parto (e de suas dores). A noite é o desconhecido sempre presente em nossa vida.
A vigilia é o atravessar a noite. É manter-se em prontidão, guardando a luz (fogo) que provê a segurança em meio às inseguranças da noite. A vigilia é o manter-se juntos, atentos na travessia da noite.
O Amanhecer é a segurança, proteção e o calor do sol. É o tranquilidade do fim do parto, com segurança da mãe e do filho. O nascer do sol da esperança e das possibilidades.
Os excessos de brilho, luz e música são formas de controlar a noite (e o que ela representa), assim como de afastar nossas trevas interiores. Mas, nem sempre isso é possível. Muitos de nós temos essa escuridão tão presente nas feridas deixadas pelas experiências vividas, e nessas
horas parece que não temos lugar nas festas.
O Natal é um análogo da noite escura da alma, em que muitos vivem alegremente na segurança de suas casas de suas festas, mantendo a luz e a esperança do novo dia. Outros vivem como a sagrada familia, sem lugar, num curral sem conforto e segurança, vivendo as dores do parto de uma nova vida. E temos aqueles que vagam desde o Oriente e ainda buscam um encontro que lhes dê sentido à vida.
Em todo caso, temos uma longa travessia da noite. O importante é guardar a esperança, como Renato Russo diz na musica, Mais uma Vez,
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Espero que possamos atravessar as festas de final de ano , a noite escura da alma, com paciencia e esperança!
Boas Festas.
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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)
Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Pós-graduando em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.
Contato: 27 – 99316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi