Um Novo Ano: Tempo de Recomeçar

 

25 de dezembro de 2010

Estamos chegando a mais um final de ano. Em toda parte vemos preparativos para saudar a chegada do próximo ano. É uma época interessante, pois, são feitas reflexões(retrospectivas) do ano que passou e planejamentos/desejos para o ano que se inicia. O “dia de ano”, “ano novo” ou “reveillon” são repletos de tradições, festejos e simpatias para se “garantir” um ano melhor.

É interessante pensar que as festividades de ano novo não são peculiaridades de nossa cultura ocidental, muito pelo contrário, as festividades e ritos de passagem de ano são amplamente difundidas pelas mais diferentes tradições e culturas.

O que chamamos de “Ano” é um período de tempo, ou mais propriamente, um ciclo de tempo. Em nossa cultura cristã adotamos um calendário gregoriano, que pois prosposto pelo Papa Gregório XIII, para adequar o calendário romano. Que se baseia na observação do sol, cujo ciclo, isto é, o tempo que a Terra leva para realizar seu movimento em torno do sol, que é de 365,25 dias (os decimais deram origem aos anos bissextos).

O mundo ocidental adota amplamente esse calendário, contudo, convivemos ainda hoje com outros calendários podem seguir outras referencias como as fases da Lua, que são calendários Lunares, como o calendario Islâmico e o Hebraico, o calendário chinês usa tanto as referencias da lua quanto do sol, sendo chamado de calendário lunissolar.

Assim, nós ocidentais cristãos iremos comemorar na proxima semana, dia 31 de dezembro o fechamento do ano (solar), do ano de 2010 (da era cristã). Se fossemos fazer uma equivalencia, os judeus comemorarão em setembro, o inicio do ano 5772. Somente em novembro os muçulmanos entrarão no ano 1433 da Hégira, os chineses festejarão em fevereiro a entrada de um novo ano, o ano do coelho.

Outros povos marcam o ciclo do tempo de forma mais simples, como “as estação das chuvas” e “a estação da seca”.  O “ciclo do ano” tem uma função prática e outra espiritual, a prática está relacionado com os processos da agricultura, das estações, com a organização de todas as atividades humanas. Por outro lado, em muitas culturas o ano está associado as práticas religiosas, isto é, ao (re)inicio das atividades religiosas, como no calendário judaico. Em nossa cultura, a relação do tempo e religião é um pouco dissociada, pois, por exemplo, no catolicismo o ano litúrgico começa com primeiro domingo do advento (cerca de 4 semanas antes do Natal) e termina no sábado anterior ao advento.

O “ciclo de um Ano” expressa um tema mítico importante : a renovação ou regeneração do tempo. Os sistemas religiosos estão amplamente relacionados com a temática da regeneração do tempo, isto é, do reinício. Pois é a partir dessa possibilidade,  é que se pode experimentar a realidade mítica, através dos ritos (são a atualização dos mitos, cf. Eliade, O sagrado e o Profano).

Segundo Mircea Eliade,

Para nós, o fato essencial é que em toda parte existe uma concepção de final e de começo de um período de tempo, baseada na observação dos ritmos cósmicos e que faz parte de um sistema mais abrangente — o sistema de purificações periódicas (cf. expurgos, jejum, confissão dos pecados, etc.) e de regeneração periódica da vida. Essa necessidade de uma regeneração periódica nos parece ser de considerável significado em si mesma. No entanto, os exemplos que deveremos apresentar adiante vão nos mostrar algo ainda mais importante, ou seja, que uma regeneração periódica do tempo pressupõe, de um modo mais ou menos explícito — e, em especial, nas civilizações históricas — , uma nova criação, ou seja, uma repetição do ato cosmogônico. E essa idéia de uma criação periódica, isto é, da regeneração cíclica do tempo, levanta o problema da abolição da “história”, problema que representa nossa preocupação principal neste ensaio. (ELIADE, p.58)

A renovação do tempo é uma renovação da vida. As celebrações de ano novo figuram a possibilidade de se criar possibilidades melhores um próximo ano. Temos o dito popular do “ano novo, vida nova”.

Essa temática arquetípica da renovação do tempo/vida deve ser especialmente observada pelo psicólogo clínico. Pois, essa temática encontra-se justamente nos alicerces da prática da psicoterapia. Pois, a psicoterapia se sustenta somente quando representar(em geral, de modo inconsciente) a possibilidade de transformação e mudança de vida, isto é, se coloca como um rito renovação ou regeneração da vida do cliente. É nesse sentido, que Jung diz que

uma das muitas significações importantes da transferência: por meio dela o paciente se agarra à pessoa que parece lhe prometer uma renovação da atitude; com a transferência, ele procura esta mudança que lhe é vital, embora não tome consciência disto. Para  o paciente, o médico tem o caráter de figura indispensável e absolutamente necessária para a vida”(JUNG, 2000, p. 6)

Há em cada um de nós o potencial de renovação, muitas vezes, imerso em nosso inconsciente. Esse potencial arquetípico pode favorecer o processo de renovação, pode também, se tornar um empecilho pela pressa, medo,  afobação ou mesmo pela confusão características do caos cosmogônico. Esses fenômenos são caracteristicos desse impulso a renovação, caberia ao terapeuta auxiliar o cliente a suportar essa tensão, para permitir o tempo próprio das coisas (lembrando que no mito cosmogônico judaico-cristão, o mundo foi criado em 6 dias.)

O passagem de um ano ou o “dia de ano” é importante e nos afeta de formas diversas (uns esperança e alegria e outros com angústia) pois,  nos confronta com o tempo interior.

Muitas vezes, nos atemos tanto a realidade exterior e esquecemos que nosso tempo interior não é contado pelo calendário comum. E, nos esquecemos que nossas decisões e ações  podem marcar o fim e o inicio de um novo ciclo em nossas vidas. Jung tem uma afirmação que é muito pertinente, segundo o mesmo “A vida tem de ser conquistada sempre e de novo.” (JUNG, 2000, p.5-6)

Acima falamos de vários calendários, onde o “Ano Novo” começa em datas diferentes. O mesmo vale para nossa vida particular. O inicio,  o fim e o reinicio de um ciclo em nossas vida compete cada um de nós delimitar. O Ano Novo de nossas vidas vem se construindo silenciosamente, a tarefa difícil é reconhecê-lo e celebra-lo com nossas ações.

Na próxima semana comemoraremos mais um Ano Novo.  Espero que este novo ano seja repleto de realizações e felicidades! Abraços a todos!

Feliz 2011!

Referencias:

Acerca dos calendários :

WIKIPEDIA, Calendárioshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Calend%C3%A1rios acessado em 26 de dezembro 2010.

_____. Mito do eterno retorno. São Paulo : Mercuryo, 1992.

JUNG, NAtureza da Psique, Vozes: Petropolis, RJ. 2000

——————————————————–

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

www.psicologiaanalitica.com

mandala

Esta entrada foi publicada em Eventos e marcada com a tag , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *