Entre podas e outonos – reflexão sobre envelhecer e viver

O envelhecimento nos impõe perdas e limitações que nos levam à dimensão da incapacidade e improdutividade. O grande desafio nessa etapa da vida é entender que a produção de vida é muito diferente da produtividade no sentido capitalista. A produção de vida na velhice se relaciona com o “como” se produz, que pode passar pela produção objetos e ações mas é, especialmente, o cultivo das relações, dos afetos, nos encontros. Na envelhescência, esta fase que vai dos 40 aos 65 anos, é quando o horizonte da morte se ergue e, na verdade, já estamos em seu domínio.

Na literatura junguiana falamos do “sustentar a descida” ou a “preparação para a morte”, mas esta não é estar em função da morte, é antes de mais nada tomar consciência da vida que se vive.

O que envolve o profundo reconhecimento dos limites e das impossibilidades que é fundamental para vida. Guggenbhul-Craig (1983) trouxe uma critica muito importante sobre a percepção “doentia” ou “inflada” que temos de saúde e totalidade, que se tornam opressivas. Quanto integramos com Eros nossos limites e deficiências, nos humanizamos e podemos conservar nossa energia.

Tenho mexido com plantas ultimamente e descobri algo curioso: as podas são importantes para a vitalidade da planta. É exatamente isso, assim como na natureza, as podas que o outono ou o inverno da vida nos impõem podem ajudar a redirecionar a nossa energia vital para sustentar o que há de mais importante na vida de cada um.

É necessário estarmos atentos na mudança das estações da vida. Para acolhermos as perdas ou podas que sofremos para assim, vivermos o mais amplamente possivel dentro dos limites impostos.

Jung nos lembra:”Do meio da vida em diante, só aquele que se dispõe a morrer conserva a vitalidade, porque na hora secreta do meio-dia da vida se inverte a parábola e nasce a morte. A recusa em aceitar a plenitude da vida equivale a não aceitar o seu fim. Tanto uma coisa como a outra significam não querer viver.” (A Natureza da Psique, p.359)

E você, como tem lidado com as podas da vida?

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Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257). Psicólogo clínico junguiano graduado pela Ufes. Especialista em Psicologia Clínica e da Família pela Faculdade Saberes; especialista em Teoria e Prática Junguiana pela Universidade Veiga de Almeida e especialista em Acupuntura Clássica Chinesa IBEPA/FAISP; com formação em Hipnose Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson do Espírito Santo. É professor e diretor do CEPAES. Atua desde 2004 em consultório particular. .

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