Na psicologia analítica não costumamos falar de estados ou casos limites, limítrofes ou borderline; contudo, esses são casos que cada vez mais se apresentam no cotidiano da prática clínica. São casos cuja complexidade podem gerar dificuldades até mesmo para os psicoterapeutas mais experientes, pois mesclam aspectos psicóticos e neuróticos, apresentando, com frequência, uma perda da autonomia do ego e um estado de indiferenciação ou fusão com objetos internos ou com objetos externos.
A complexidade de diagnóstico e o desafio do tratamento se acentuam por não termos ampla literatura junguiana que abordem esses casos. Apesar disso, os casos-limítrofes foram apontados na obra de Jung, não como “casos limítrofes” exatamente, mas sob a noção imprecisa de ‘psicose latente”.
Assim como as histerias crônicas, que fazem definhar os doentes lentamente nos hospícios não são características da histeria verdadeira, assim tampouco o é a esquizofrenia com relação às suas formas tão frequentemente vistas no consultório e que raramente chegam às mãos do psiquiatra de hospício. “Psicose latente” é um conceito que o psicoterapeuta conhece demasiadamente bem, e teme. (JUNG, 1999, p. 34 – nota 2)
Psicose latente era uma expressão vaga que abordava tanto casos neuróticos graves quanto eram similares à psicose ou esquizofrenia. Para entendermos a relação da psicose latente e os casos limites ou limítrofes, precisamos compreender a evolução histórica do conceito de borderline. DALGALARONDO E VILELA (1999) apresentam uma evolução do conceito de borderline (ou limítrofre), como podemos ver na tabela abaixo,
Jung também menciona em sua obra a expressão “esquizofrenia latente” como era utilizada pelo seu antigo mentor, Eugen Bleuler. Os casos limítrofes são amplos e se restringem ao auto diagnóstico Transtorno de Personalidade Borderline”(TPB) do DSM, mas envolve um amplo espectro com formações que abarcam transtornos alimentares, neuroses obsessivo-compulsivas, adições, algumas somatizações e quadros traumáticos – o TPB seria caso mais acentuado onde as dinâmicas defensivas são predominantes. Nessas situações, o ego encontra-se fragilizado, incapaz de se manter organizado, reflexivo e funcional; e, assim, incapaz de suportar a tensão com o inconsciente ou mesmo com a realidade exterior.
Na literatura junguiana, temos essa perda de funcionalidade do ego fragilizado associada à possessão ou identificação por conteúdos do inconsciente.
Jung e a Possessão pelo Complexo/Arquétipo
Jung adotava uma metodologia mais descritiva do que propriamente psicodinâmica. Dessa forma, descrevia situações onde o caráter impulsivo e/ou compulsivo dos arquétipos e complexos, que geram estados indiferenciados, como possessão pelo complexo ou arquétipo.
Neste caso não se trata de ampliação nem de diminuição, mas de uma modificação estrutural da personalidade. Menciono como forma principal o fenômeno da possessão, o qual consiste no fato de um conteúdo, qualquer pensamento ou parte da personalidade, dominar o indivíduo, por algum motivo. Os conteúdos da possessão aparecem como convicções singulares, idiossincrasias, planos obstinados etc. Em geral, eles não são suscetíveis de correção. Temos de ser um amigo muito especial do possuído, disposto a arcar com as penosas consequências, se quisermos enfrentar uma tal situação. Recuso-me a traçar uma linha divisória absoluta entre possessão e paranoia. A possessão pode ser formulada como uma identificação da personalidade do eu com um complexo. (Jung, 2000,p 127)
Jung tinha uma capacidade ímpar de circunscrever processos complexos em imagens e noções “intuitivas”. A noção “possessão” descreve o aspecto fusionado eu-objeto, havendo a perda da capacidade reflexiva e julgamento acrescido com um comportamento impulsivo ou compulsivo. A possessão indica uma identidade com um objeto interno, quando a identidade ou fusão se dá com um objeto externo como um grupo social Jung falava “participação mística” ou identidade psíquica.
Para a compreender os aspectos psicodinâmicos dos estados de possessão e participação mística, podemos traçar um paralelo com o conceito de posição esquizoparanoide, apresentado por Klein, mas com importantes desenvolvimentos realizados por Wilfred Bion. Antes de falarmos desse conceito, precisamos contextualizá-lo a partir de Klein e Fordham.
Melaine Klein e Michael Fordham
A Posição esquizoparanoide e a posição depressiva foram duas das muitas contribuições originais de Melaine Klein à psicanálise e à percepção do desenvolvimento infantil. No campo junguiano é impossível mencionar Klein sem fazer uma referência direta ou indireta a Michael Fordham, um dos mais originais e brilhantes pensadores junguianos, cujo trabalho abriu o caminho para a análise junguiana de crianças e a perspectiva de desenvolvimento na psicologia junguiana.
Com o trabalho como psiquiatra infantil, Fordham se aproximou do pensamento kleiniano que começava a se desenvolver na Inglaterra. Astor aponta que
Seus empréstimos da psicanálise foram, inicialmente, o método de análise infantil de Klein (mas não sua teoria), que na década de 1930 foi revolucionário, particularmente em sua compreensão de que a brincadeira de uma criança era uma expressão da fantasia inconsciente da criança. Ela lhe deu coragem para falar diretamente com as crianças sobre seus sentimentos inconscientes. E ele reconheceu rapidamente que a fantasia inconsciente de Klein era equivalente às descrições de Jung sobre a experiência arquetípica. (ASTOR, 1995, p.4)
O trabalho de Fordham com crianças e a proximidade com a psicanálise teve (e tem) muita resistência no campo junguiano, Astor comenta que “Carl Meier, um ilustre aluno de Jung e professor de psicologia, referiu-se a Fordham como “carregando a sombra junguiana”, uma frase que dá significado arquetípico à resistência que Fordham encontrou.” (id. p.5). Apesar da resistência no campo junguiano, ele teve reconhecimento kleiniano como pode ser visto no Melaine Klein Trust
Fordham percebeu a correlação entre as concepções de Jung e as posições apresentadas por Klein, acerca da identidade primitiva, próprias a possessão e participação mística, ele apontou que
a identidade primitiva desempenhou um papel importante no pensamento dos psicólogos analíticos. Como uma hipótese que explica a participação mística, ela abriu um campo de estudo. Mas antes que Jung e a maioria de seus seguidores pudessem explorar suas possibilidades psicodinâmicas, Melanie Klein fez exatamente isso. Ela desenvolveu o conceito da posição esquizoparanoide. Essa posição foi associada, especialmente por Segal (1957), à não diferenciação entre sujeito e objeto (equações simbólicas), um evento que Klein também desenvolveu em seu artigo sobre identificação (1955). Nesse trabalho, ela diferenciou um tipo especial de identificação e deu a ele os nomes de identificação projetiva e introjetiva.
O outro conceito importante foi a posição depressiva. Se a posição esquizoparanoide elucida a identidade primitiva, o resultado da deintegração, a posição depressiva elucida a integração e a individuação. (FORDHAM, 1985, p54)
A participação mística ou identidade psíquica foram termos de Lévy-Brühl que Jung utilizou para descrever o estado indiferenciação entre o indivíduo e o objeto – mas, sem considerá-lo do ponto de vista do desenvolvimento. Esse estado de fusionamento/indiferenciação entre indivíduo e objeto, próprio ao desenvolvimento inicial do bebê, foi delineado, na perspectiva junguiana clássica, no final dos anos 40, com o trabalho de Erich Neumann, que descreveu como estágio urobórico.
Acredito ser importante tornar mais claro o termo “posição” utilizado por Melaine Klein, para podermos nos aproximar melhor dessa conceituação.
A noção kleiniana de posição designa um momento organizador decisivo nas produções, nos processos, nas relações de objeto, nas angústias e na mentalização, no decorrer da estruturação do psiquismo (1932, 1952). Esse momento não é uma etapa propriamente dita, um estágio ou uma fase na psicogênese, é uma configuração de base recorrente, ele se refere a uma situação que diz respeito à totalidade da vida psíquica. (KAES, 2016)
A posição indica a organização psíquica num dado momento. Em Melaine Klein, a posição esquizoparanoide se refere aos processos iniciais da infância, no início da vida extrauterina com um ego incipiente não teria condições de lidar com a ansiedade e das relação com os objetos, o modo de relação se daria por meio das defesas primitivas divisão (bom-mau, satisfatório-insatisfatório) e projeção (identificação projetiva), assim como em uma relação de ameaçado – e ameaçador.
Fordham compreendeu que a posição esquizoparanoide se referiria ao momento em que a relação com o objeto transformacional seria mais intensa operando mudanças profundas no Self(somático-psíquico-ambiental), que corresponderia aos processos deintegrativos-reintegrativos, nos quais o Self expandiria como se “desdobrasse” atualizando-se na experiencia vivida, através das experiências com os objetos /ambiente/mãe/cuidadores. Nesse processo, a atividade do self (deintegração-reintegração) desenrola-se na identidade primeira, na díade mãe-bebê. As diferenciações estão associadas à experiência que pode ser positiva, satisfatória ou “boa” ou, por outro lado, negativa, insatisfatória ou “má”. A experiência qualifica os objetos como “bons ou maus”.
O processo de deintegração expande ou impele a atividade do Self em direção aos processos adaptação, que serão reintegrados como a experiência que fornecerá a base relacional para a formação do ego. O processo de individuação na infância tem como meta o desenvolvimento do ego maduro, com capacidade reflexiva e de distinção, similar posição depressiva. Por isso,
Estou predisposto a aceitar essas formulações porque elas correspondem à identidade primitiva (Ps) e a um primeiro passo na individuação (Dp). Essa proposição foi desenvolvida em meu livro The Self and Autism e, portanto, não vou me aprofundar nela. Nesse livro, não apresentei a fórmula de Bion, que está mais próxima dos estados mentais que podem ser descritos, mas também relativiza, expande e torna as concepções mais flexíveis. (Fordham, Explorations, p.59)
Fordham cita a fórmula de Bion” que compreende que as posições esquizoparanóide (Ps) e depressiva(Dp) como estados de organização psíquica que se sucedem ao longo vida e não apenas um estágio do desenvolvimento. Esses estados da mente que poderiam ser expressos na relação Ps <-> Dp, onde todos entramos e saímos de um ou outro.
A compreensão da posição esquizoparanoide nos auxilia a compreender o modo de funcionamento dos estados indiferenciados da possessão/participação mística e, assim, os processos indiferenciados dos casos-limítrofes.
A posição esquizoparanoide
A posição esquizoparanoide, no bebê, se refere a um estado de organização do self, onde não há sujeito ou ego reflexivo, não há distinção entre eu-outro, ação-pensamento. Ogden (2017) comenta que
Nesse estágio inicial do desenvolvimento, tais atividades defensivas são reações, em vez de respostas. A automaticidade biológica foi transformada em automaticidade psicológica. Apesar de Klein não se referir especificamente à questão da subjetividade, parece implícito em sua teoria e prática clínica que não há um intérprete mediador entre a percepção de perigo e a resposta na posição esquizoparanoide. O fato de esta ser uma psicologia sem um sujeito é o paradoxo básico da posição esquizoparanoide. (Ogden, 2017, p. 54)
Na ausência de um “Eu” ou ego, logo, de uma capacidade reflexiva, o self não é um sujeito da ação, da compreensão ou pensamento, mas é um self-objeto. No desenvolvimento infantil, a posição esquizoparanoide se refere a indistinção de sujeito-objeto, do tempo – não havendo uma perspectiva de temporalidade, estas são aquisições que ocorrem com a posição depressiva onde a historicidade e a subjetividade se desenvolvem. Essa a base para compreensão desse modo de organização primitiva que abarca os indivíduos de qualquer idade. Segundo Ogden,
a posição esquizoparanoide é um modo gerador de experiência impessoal e automático. Perigo e segurança são gerenciados através da descontinuação da experiência (por meio da clivagem) e da expulsão para dentro da outra pessoa de aspectos ameaçados e inaceitáveis do self (por meio da identificação projetiva). A posição esquizoparanoide envolve um estado não reflexivo do ser; os pensamentos e sentimentos do sujeito são eventos que meramente ocorrem. (p.78)
Essa posição envolve uma forma de geração e organização da experiência, onde essa é de natureza predominantemente impessoal e não reflexiva (isto é, a experiência do self que tem poucas características de “eu-dade”). Pensamentos e sentimentos não são criações pessoais; eles são eventos que acontecem. O sujeito não interpreta suas experiências; ele reage a elas com um alto grau de automaticidade. Os símbolos do sujeito não refletem uma disposição de significados pessoais a serem interpretados e compreendidos; os símbolos são o que eles significam. Este é o domínio das coisas-em-si-mesmas. (Ogden, 2017 p.73)
A posição esquizoparanoide é estado de organização psíquica primitiva, defensiva caracterizada pela descontinuidade (não há uma percepção histórica de causa-consequência), a fantasia/delírio (a experiência da realidade é moldada defensivamente), a divisão do objeto (em bom e mau), impulsividade e compulsividade. a posição esquizoparanoide é relacionada aos processos psicóticos, de fusão ou indiferenciação ego-objeto, e relação com a realidade exterior. Esse processo nos auxilia a entender a possessão, descrita por Jung, como um processo defensivo, que toma o ego sem dilacerá-lo no processo da esquizofrenia.
Com predominância dos processos defensivos primitivos, a dificuldade de manejo da transferência, as defesas psicóticas da personalidade que se manifestam nos processos limítrofes desafiam ao clínico.
Estados limites, Trauma e Psicologia Analítica
Os estados limites, limítrofes ou borderline indicam uma forma de organização psíquica própria, diferente dos desenvolvimento cujos processos podem conduzir a estados psicóticos ou a estados neuróticos. Schwartz-Salant comenta que “0 psicanalista francês André Green sugeriu que a categoria “limítrofe” deveria corresponder uma identidade própria (1977, p. 17) e que ela pode exigir um modelo que não seja baseado na psicose ou na neurose. Concordo inteiramente com este ponto de vista.” (SCHWARTZ-SALANT, 1992, p18)
Esse é um aspecto importante, pois no pensamento junguiano tradicional temos poucos recursos para pensar os estados limites. Isso porque o eixo fundamental do desenvolvimento psíquico, o processo de individuação, compreende os processos integradores do Self, a compensação do inconsciente visando o equilíbrio da relação com a consciência.
A neurose surge a partir de um conflito entre a tendência natural à individuação e as condições e escolhas conscientes, sendo uma tentativa da psique se autorregular. Por outro lado, a psicose indica a incapacidade do ego em suportar a tensão e mediar a relação entre o inconsciente-consciência-realidade exterior sendo tomado pelas imagens e manifestações mitopoéticas da psique,e no caso mais específico, a esquizofrenia, o ego se fragmenta. Em todo caso, a compreensão tradicional junguiana tomando o processo de individuação como modelo de saúde psíquica, oscila entre a catástrofe psíquica (psicose/esquizofrenia) ou a tentativa de reparação psíquica (neurose).
A possibilidade de compreensão dos casos-limites no campo junguiano foi construída lentamente através da obra de autores como Fordham, Jacobi, Schwartz-Salant, Knox, Wilkinson (dentre outros), mas ganhou nitidez através do trabalho de Donald Kalsched, ao delinear as defesas arquetípicas(ou do Self) diante dos processos de traumatização na infância, nomeado como trauma precoce, Marcus West é um autor que consolidou a compreensão do trauma precoce associado aos estados limítrofes.
A necessidade de uma perspectiva própria para esses pacientes se deve ao processo de individuação ser interrompido pela vivência traumática. O processo defensivo rompe os vínculos internos e externos restringindo a capacidade simbólica desses pacientes (devido à inibição defensiva da função transcendente). O ego fragilizado se torna incapaz de mediar e sustentar suas funções adequadamente, sendo atravessado pelas defesas primitivas e pelas fantasias que o imobilizam, vivendo na contínua evitação da vivência traumática.
Para essas pessoas, não há um “Self” que nutra simbolicamente o ego ou que sustente processos integrativos. Schwartz-Salant faz uma importante diferenciação entre o Self Transcendente, arquetípico e numinoso e o Self imanente, isto é, como Self encarnado na experiência pessoal, e descreve esse último como
0 self imanente traz coesão aos muitos selves parciais (complexos) de que se compõe qualquer personalidade. Cada um desses selves parciais dá origem a uma sensação particular: somos todos diferentes em diferentes momentos. O self imanente é um destes, mas é singular pelo fato de também atuar para fornecer uma experiencia de totalidade em que todas as partes se integram.
O self imanente esta funcionalmente morto para 0 paciente limítrofe, porque 0 numinoso experimentado como parte da vida cotidiana se manifesta em geral de uma forma fortemente negativa, enquanto a sua natureza positiva não consegue se manifestar. Em vez disso, ela se mantem no limbo entre a realidade exterior e um mundo interior conhecido, em grande parte, através de identificações tortuosas com os arquétipos. O resultado desta identificação é, como sempre, um desmembramento psíquico. A beleza potencial do sagrado se converte no o seu oposto e abundam os sentimentos de feiura do corpo e da alma. (SCHWARTZ-SALANT, 1992, p.71)
Em função disso, com um “self funcionalmente morto” o paciente vive uma experiência contínua de desamparo e sofrimento, que podem desenvolver defensivamente processos de compulsivos, ataques ao corpo, abusos de substâncias para lidar com os afetos negativos e de alguma forma ter a sensação de estar vivo. O self encontra-se encapsulado em processos defensivos e profundamente arraigado aos processos psicoides e somáticos. O fato é que pacientes limítrofes possuem um grande sofrimento psíquico, um grande sentimento inadequação e abandono, dos quais têm dificuldade de acessar e expressar.
Dessa forma, processos de fusionamento com pessoas de seu convívio com processos de identificação projetiva e idealização delirante (positiva ou negativa), sobrecarregando as relações. O mesmo ocorre na relação terapêutica, exigindo uma compreensão profunda da transferência-contratransferência para ser capaz de lidar com os conteúdos pré-simbólicos e defensivos que atravessam a relação terapêutica.
Considerações Finais
A clínica junguiana é rica em técnicas e possibilidades de manejo, mas se vê extremamente empobrecida quando se fecha aos processos psicodinâmicos. E, infelizmente, vemos uma certa resistência no campo junguiano, apesar da publicação de obras que ampliam a compreensão do desenvolvimento e das relações intersubjetivas e ambientais. James Astor, faz um importante apontamento quando afirma que “o estilo tradicional de análise junguiana tratou a mitologia quase como uma metapsicologia, buscando os mitos para ilustrar o comportamento. Fordham reverteu essa tradição e usou seu trabalho clínico com pessoas para iluminar nossos mitos contemporâneos.”(ASTOR,1995, p9) Os mitos e contos são importantes como amplificação, como possibilidade de produzir uma ponte de integração simbólica, mas não substituem a compreensão psicodinâmica.
Os estados limites indicam uma forma de organização psíquica, não um diagnóstico. Por isso, reforçamos o que foi dito anteriormente, podemos encontrá-lo nas mais distintas manifestações, pode se apresentar na depressão, transtornos alimentares, quadros compulsivos, somatizações dentre outras, que incluem o transtorno de personalidade borderline.
A relação entre a possessão/participação mística e posição esquizoparanoide, que há muito foi apontada por Fordham, nos auxilia a compreender a psicodinâmica desse estado de indiferenciação do ego quanto tomado pelos processos defensivos inconscientes. Contudo, a posição esquizoparanoide em si mesma, aponta para um modo de organização psíquica que pode ser fixada nos casos limítrofes e compreendida a partir da perspectiva do trauma.
A diversidade de manifestação dos estados limítrofes nos desafia a um estudo aprofundado da psicodinâmica , da relação transferência-contratransferência, dos processos traumáticos e defensivos. Para tanto, precisamos pensar a clínica junguiana na contemporaneidade.
Referencias Bibliográficas
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DALGALARRONDO, P.; VILELA, W. A.. Transtorno borderline: história e atualidade. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 2, n. 2, p. 52–71, abr. 1999.
Fordham, M Explorations into the Self, Library of Analytical Psychology, Volume 7, London: Academic Press, 1985.
Fordham, M., The self and autism. The Library of Analytical Psychology Vol. III. William
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JUNG, C.G. Simbolos da Transformação, Vozes: Petropolis, 1999.
JUNG, C.G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Vozes: Petropolis, 2000.
KAES, René. A ideologia é uma posição mental específica: Ela nunca morre (mas se transforma). J. psicanal., São Paulo , v. 49, n. 91, p. 207-224, dez. 2016 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352016000200019&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 26 jul. 2024
OGDEN, T. H. A matriz da mente: relações objetais e o diálogo psicanalítico. São Paulo, SP: Blucher; Karnac, 2017
SCHWARTZ-SALANT, N. A personalidade limítrofe: visão e cura.São Paulo: Cultrix: 1992.
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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)
Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.
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