Considerações sobre o “Eficaz”no texto “Os objetivos da Psicoterapia” de C.G.Jung

(18 de maio de 2013)

Recentemente, estávamos discutindo no Grupo Aion[1], o texto “Os Objetivos da Psicoterapia” de Jung. É um texto realmente interessante para quem quer conhecer um pouco mais acerca da psicoterapia junguiana. Nesse texto Jung apresenta uma noção importante para a prática da psicoterapia que é explicitada no termo “eficaz”. Apesar de aparecer poucas vezes no texto, acredito que valha a pena pensarmos a psicoterapia com a perspectiva desse termo.

Jung afirma que

“Não é preciso provar que minha maneira de interpretar o sonho está correta. Não teria sentido. Mas, o que é preciso fazer é procurar, junto com o paciente, o fator eficaz – quase ia dizendo, a coisa verdadeira”(JUNG, 1999, p. 42, §94)

Um tema recorrente aos textos de Jung acerca da prática da psicoterapia é a sua insistência em afirmar a impossibilidade de “determinar” ou “delimitar” o “método junguiano” propriamente dito, no máximo, poderia-se indicar seus fundamentos. Nesse fragmento, Jung esclarece um ponto fundamental (e que justifica a impossibilidade de estabelecer um “método”), sua prática não visa justificar uma teoria ou método mas, buscar o “fator eficaz” ou a “coisa verdadeira”.

Poderíamos perguntar: Mas, “eficaz” em que? Primeiramente, devemos lembrar que a psicologia junguiana compreende que o sofrimento psíquico está relacionado a uma unilateralidade, isto é, um direcionamento equivocado, excessivo da atitude da consciência que gera prejuízo ao individuo. Assim, quando se fala em “fator eficaz” Jung se refere ao fator que tenha como efeito uma renovação ou transformação da atitude da consciência. Mas, como encontrar esse fator eficaz? Jung afirma que

“O que viso é produzir algo de eficaz, é um produzir um estado psíquico, em que meu paciente comece a fazer experiências com seu ser, um ser em que nada mais é definitivo nem irremediavelmente petrificado; é produzir um estado de fluidez, de transformação e de vir a ser.” (Jung, 1999, p. 43-4§99)

É interessante observarmos que o “fator eficaz” relaciona-se com o ”fazer” do paciente. Quando o paciente se permite fazer novas “experiências” com seu ser, ele se abre para o futuro, para as possibilidades de “transformação e vir a ser”. Essa possibilidade de abertura, está relacionado com os “deveres de casa” sugeridos pelos terapeutas junguianos aos pacientes.

A ”abertura a novas experiências” é sem dúvida um dos maiores desafios que encontramos no consultório, pois, muitas vezes, o paciente está tão fixado nas experiências passadas, que não percebe que a mudança em sua vida, que a melhoria seu estado psíquico, está na mudança de atitude e de ações realizadas no presente. Não se pode mudar o passado, mas, pode-se fazer um futuro muito melhor.

Devemos considerar que a busca pelo “fator eficaz”, não se aplica apenas ao paciente, mas, também ao terapeuta. De imediato, podemos identificar que escolha de uma abordagem já é o indicativo que esta se apresenta para o terapeuta como um “fator eficaz”. Na psicologia junguiana a possibilidade de buscar este “eficaz” se faz perceber pluralidade de técnicas que se colocam disponíveis aos terapeutas junguianos.

Devemos notar que as técnicas expressam profundamente o “fator eficaz” de cada terapeuta. Algumas se tornaram mais difundidas como a “analise de sonhos”, a “imaginação ativa”, o desenho e pintura – que são defendidos pelo próprio Jung como técnicas importantes para se dialogar com o inconsciente. De fato, quando lemos biografias de Jung, assim como o livro vermelho, podemos entender o quanto essas técnicas eram de fato “eficazes” pessoalmente para ele.

Do mesmo modo, outras técnicas expressam o fator eficaz de cada terapeuta, como o sandplay (ou caixa de areia) que foi desenvolvido por Dora Kalff, a calatonia e técnicas corporais desenvolvidas por Petho Sándor, as várias possibilidades de oficinas terapêuticas desenvolvidas por Nise da Silveira. O “fator eficaz” se revela quando nos permitimos a experiência, os autores, acima citados, deram nova forma a possibilidades que já haviam sido utilizadas ao longo da história humana – e ainda continuam eficazes.

No belíssimo trabalho “Jung & Sándor”, realizado por ex-alunas de Sándor, encontramos que

Quando perguntado sobre como elaborou tais técnicas, o professor Sándor, sorrindo, dizia: “Isso é muito antigo, do patrimônio da humanidade.” Ele inspirou-se nos recursos e rituais usados pela humanidade para sua sobrevivência e evolução, adaptando-os ao momento atual. (HORTA et al.. 2012, p.16)

A psique de fato nos oferece uma infinidade de possibilidades “eficazes”, a questão é adapta-las ao momento atual. A afirmação de Sándor encontra eco na próxima menção ao fator eficaz realizada por Jung, que nos diz,

“De fato, a regra que sempre sigo é nunca ir além do significado contido no fator eficaz; esforço-me apenas para que o paciente tome, o quanto possível, consciência desse significado, a fim de que ele perceba que o mesmo também tem uma dimensão que ultrapassa o nível pessoal. ” (Jung, 1999, p. 43-4 §99)

Como o “fator eficaz” é um símbolo vivo, racionalizá-lo, fixar um exclusivo significado ou mesmo retira-lo da experiência emocional, significaria destrui-lo. A experiência do símbolo possui aponta tanto para a realidade individual quanto a coletiva. A dimensão coletiva é fundamental por enraizar o individuo nos mistérios da humanidade, na matriz criadora de símbolos, possibilitando a abertura e confiança para que o individuo possa enfrentar a si mesmo e ao mundo.

No Grupo Aion, fizemos algumas considerações interessantes, pois, acabamos por assumir uma postura “otimista”, contudo, em nenhum momento afirmamos que esse processo é rápido, fácil, simples ou indolor. Muito pelo contrario, pode ser longo, difícil, e dolorso. Mas, a cada passo dado, a segurança e autonomia geradas possibilitam o desenvolvimento posterior.

Obviamente, o percurso terapêutico de cada um é singular, devendo ser observado e respeitado o desenvolvimento de cada um. Em seu texto, Jung aponta que

“Enquanto o paciente necessitar a minha ajuda para descobrir os momentos eficazes dos seus sonhos, eu tiver que me esforçar-me por mostrar-lhe o sentido geral de seus símbolos, ele ainda não saiu do estado psíquico infantil.” (Jung, 1999, p. 44 §101)

Os recursos técnicos, a sugestão de atividades visam propiciar que o paciente saia desse estado de dependência, isto é, este estado infantil. Deve-se notar que nesse estado infantil a dependência não é apenas do terapeuta, pois, muitas vezes, ele estabelece relações inconscientes de submissão com outros, a repetição desse padrão na transferência ocorre como uma tentativa de reparação ou superação desse problema no amadurecimento. Na transferência o inconsciente projeta no terapeuta a confiança (e com a ela a capacidade de mudança) que não foi possível integrar na consciência. Cabe ao terapeuta, possibilitar que esta confiança seja integrada pelo individuo.

Jung apontou como o caminho para o amadurecimento ou desenvolvimento psíquico a atividade criativa. Quando o paciente se permite fazer experiências consigo mesmo, quer pela pintura, pela escrita, por suas ações, enfim,

Nessa fase, passa a ser ativo. Passa a representar coisas que antes só via passivamente e dessa maneira elas se transformam em um ato seu. Não se limita a falar do assunto. Também o executa (…) Sua atividade também vai liberta-lo progressivamente da dependência doentia: com isso, vai adquirindo firmeza interior e renovando sua autoconfiança. Estas ultimas conquistas, por sua vez, vão reverter em novos benefícios para a vida social do paciente. Pois uma pessoa interiormente segura e autoconfiante está mais bem preparada para suas funções sociais do que alguém que não está bem com o seu inconsciente. (JUNG, 1999, p. 46-8)

Na medida do possível é importante que o paciente possa aceitar e integrar a sua história. Isto é, aceitar que a fase que superou é um patrimônio seu. Por isso, a seriedade com a qual o terapeuta lida com a relidade psíquica do paciente é fundamental. Mesmo, a realidade patológica do paciente, pois,

“Aquilo que chamamos de “ilusão” é, talvez, uma realidade psíquica de suprema importância. A alma, provavelmente, não se importa com nossas categorias de realidade. Parece que para ela é real tudo o que antes de mais nada é eficaz. (…) No domínio psíquico, como na experiência geral, realidade são fatores eficazes. Não importa quais os nomes que o homem lhes dê. O importante é entender essas realidades como tais, dentro da medida do possível, não se trata em substituir um nome por outro.” (Jung, 1999, p. 43-4 §99)

A história de vida de cada um é sempre sagrada, ou seja, precisa ser profundamente respeitada, até mesmo em seus aspectos mais sofridos. Em certas situações a dificuldade do paciente em se permitir novas experiências se deve ao fato, de sua referencia ou realidade estar calcada num fator eficaz que deixou de ser funcional, mas, ao qual a consciência se apega obstinadamente. Compree nder este fator eficaz, ou símbolo, é importante para auxiliar na passagem ou transformação de uma realidade para outra. Assim, não podemos rotular ou mesmo tentar enquadrar em teorias a realidade psíquica do individuo. O que podemos é auxilia-lo na busca das respostas, do “fator eficaz”, quando necessário mediando a relação dele com o próprio inconsciente.

Por conseguinte, os meus pacientes têm razão preferem as imagens e as interpretações simbólicas, como o que há de mais adequado e eficaz.” (Jung, 1999, p. 43-4 §113)

Em última análise, sempre será o paciente que determinará o que é eficaz em seu processo. Muitas vezes, alguns aderem a racionalizações, teorias psicológicas que caíram no senso comum ou em diagnósticos como sendo sua realidade, no geral, isso gera apenas mais estagnação. As imagens e as interpretações simbólicas unificam o individuo, colocando-o em contato com sua totalidade.

O texto “Os Objetivos da Psicoterapia” nos permite várias reflexões sobre a prática da psicoterapia.

Referencias bibliográficas

HORTA, Eliete Villela Pedroso; MINICUCI, Maria Cristina; PASCHOA, Vera Lúcia Furtado; Jung & Sandor – Trabalho Corporal na Psicoterapia Analítica, São Paulo: Vetor Editora, 2012.

JUNG. C. G, A Prática da Psicoterapia, Petrópolis: Vozes, 1999.


[1] Atualmente o Grupo Aion é formado pelos psicólogos Fabrício Fonseca Moraes, Raissa Módolo Rodrigues, Giuliana de Paula Oliveira, Helena Cruz Tamiasso e a estudante de psicologia Lilia Lavor.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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Algumas considerações acerca dos Sonhos na Abordagem Junguiana – Parte I

A psicologia dos sonhos é uma área fundamental dentro da psicologia do inconsciente. Dessa forma, compreender os sonhos e o seu papel na psique é fundamental para todo aquele que se interessa pelo inconsciente, seja por motivos profissionais ou por motivos pessoais, como autoconhecimento. O que chamamos de “psicologia dos sonhos” se refere ao estudo ou a ocupação científica com os sonhos, contudo, não podemos perder de vista que em todos os tempos os humanos sempre se ocuparam dos sonhos, compreendendo neles a possibilidade de descobrir a vontade dos deuses ou mesmo para compreender e tratar doenças.

A psicologia dos sonhos se configura efetivamente no contexto científico com Freud, através de seu impressionante trabalho “A interpretação dos Sonhos” (1900). Com esse trabalho, Freud inaugurou, por assim dizer, a psicanálise. A importância da teoria dos sonhos era tamanha que, em 1932, em suas novas conferências introdutórias ao falar acerca de sua teoria dos sonhos Freud afirmou que Esta ocupa um lugar especial na história da psicanálise e assinala um ponto decisivo; foi com ela que a psicanálise progrediu de método psicoterapêutico para psicologia profunda. (FREUD, 1996, p.17)

A concepção de Freud acerca dos sonhos estava intimamente relacionado com sua teoria sexual. De tal forma que, para Jung, se tornava impossível sustentar o método freudiano de interpretação dos sonhos. Assim, concepção acerca dos sonhos começou a se configurar com a após a ruptura com a psicanálise. Segundo Jung,

Depois da ruptura com Freud, começou para mim um período de incerteza interior, e mais que isso, de desorientação. Eu me sentia flutuando pois ainda não encontrara minha própria posição. O que mais almejava nesse momento era adquirir uma nova atitude em relação aos meus doentes. Em primeiro lugar decidi confiar incondicionalmente naquilo que contassem de sobre eles mesmos. Pus-me, então à escuta do que o acaso trazia. Constatei logo que relatavam espontaneamente seus sonhos e fantasias; eu apenas formulava algumas perguntas, tais como “o que pensa disso?” ou: “Como compreende isso? De onde vem essa imagem?” Das respostas e associações apresentadas por eles, as interpretações decorriam naturalmente. Deixando de lado qualquer ponto de vista teórico, apenas os ajudava a compreender por si mesmos suas imagens.

Logo percebi que era correto tomar, como base de interpretação, os sonhos tais como se apresentam. Eles são o fato do qual devemos partir. Naturalmente meu “método” engendrou uma variedade de aspectos quase inabrangível. A necessidade de um critério tornou-se cada vez mais premente, ou melhor, a urgência de uma orientação inicial pelo menos provisória. (JUNG, 1975, p.152)

Assim, como veremos, a concepção de Jung acerca dos sonhos não deriva da psicanálise ou da relação com Freud, muito pelo contrario, foi justamente o afastamento da psicanálise que permitiu Jung ter uma compreensão dos processos oníricos a partir dos próprios pacientes. Neste texto, procurarei discutir, em linhas gerais, o desenvolvimento a concepção junguiana do sonho assim como alguns aspectos a compreensão dos símbolos e análise dos sonhos.

Os sonhos

No geral, não há uma conceituação ampla e unívoca acerca dos sonhos. Os conceitos ou definições variam de abordagem, ou mesmo de autor para autor. Dessa forma, para nortearmos nosso texto, gostaria de usar duas noções acerca dos sonhos que considero fundamentais.

“o sonho é uma vivência impressionante que ocorre durante o sono(…) ele é uma vivência que provoca mudanças”(KAST, 2010, p.35)

“sonho é uma auto-representação, em forma espontânea e simbólica, da situação atual do inconsciente”(JUNG, 2000, p. 201).

Essas duas noções nos servem de norte para pensarmos os sonhos, pois, o sonhos são vivencias interiores, que provocam mudanças, justamente por nos colocar diante de nossa verdade mais profunda. Assim, os sonhos nos oferecem uma possibilidade de olharmos para nossa vida por uma outra perspectiva, sem as limitações da consciência.

O enfoque de Jung sempre esteve relacionado com a aplicação prática da analise dos sonhos, assim, não foi realizada uma sistematização geral dos sonhos. Assim, indicaremos algumas tentativas realizadas por Jung para clarear a teoria que fundamenta a analise dos sonhos. De forma geral, apresentarei elementos que nos auxiliam como pano de fundo para o processo de analise dos sonhos.

O que causa os Sonhos?

Em seus “seminários sobre sonhos de crianças”, Jung propõe alguns fatores que podem causar sonhos, esses fatores não são exclusivos ou definitivos, mas, nos permitem ampliar, avaliar e direcionar nossos questionamentos acerca do sonho. Assim, segundo Jung, os sonhos podem ter sua origem relacionados a:

1- Fontes somáticas: “percepções corporais, estados patológicos ou indiposições físicas. Pode tratar-se de manifestações corporais que, por sua vez, são ocasionadas por processo psíquico totalmente inconsciente.”(JUNG, 2011, p.20).

Eu me recordo de ter lido há alguns anos uma matéria num jornal local, um história de um homem que sonhou que havia caído e ferido a cabeça, o sonho o deixou tão impressionado que ele buscou um médico, solicitou exames e verificou que ele possuía um tumor no cérebro, que estava em fase inicial, e pode realizar o tratamento. Na antiguidade os sonhos eram considerados como fonte de diagnósticos e indicavam o tratamento para problemas somáticos. Assim, não podemos perder de vista que não há separação entre corpo e a psique, esses sonhos são especialmente importantes quando trabalhamos com uma perspectiva psicossomática.

2- “Outros eventos físicos – que não ocorrem no próprio corpo, e sim, no meio ambiente – podem influenciar o sonho: ruídos, estímulos luminosos, frio e calor.” (JUNG, 2011, p.21)

Passei por uma experiência recente que ajuda a pensar nessa afirmação de Jung, há alguns dias tive um sonho com meu filho recém nascido, e, em meio a este sonho, acordo e vejo que ele estava chorando. Não estamos querendo que os sonhos são condicionados pelos eventos físicos, mas, que determinados sonhos podem ser infuenciados pelos estímulos externos justamente por que o inconsciente não dorme. Assim, esses estímulos podem se associar aos conteúdos inconscientes produzindo um sonho. Alguns sonhos podem parecer longos, mas, de fato pode durar alguns segundos.

3 – Acontecimentos psíquicos externos ao paciente –

“Os sonhos não são causados somente por fatores físicos, e sim, também, por fatores psíquicos. Por vezes ocorre de determinados acontecimento psíquicos no meio ambiente serem percebidos pelo inconsciente.

Entre os sonhos que colecionei, há um caso onde uma criança de três a quatro anos onde sonha com a vinda de dois anjos e que levantavam algo do chão e o transportavam para o céu – Na mesma noite um irmãozinho dessa criança morre.

Outra criança sonha que a mãe deseja suicidar-se. Entra gritando no quarto da mãe que já está acorda e prestes a cometer suicídio.

Desse modo acontecimentos psíquicos importantes no meio ambiente podem ser percebidos. Certas atmosferas, certos segredos também podem ser plenamente farejados de maneira inconsciente. Nesses casos não sabemos como o inconsciente consegue absorver algo assim.(JUNG, 2011, p.25)

A capacidade do inconsciente entrar em sintonia com o inconsciente de outra pessoa, já era conhecida e discutida por Jung desde 1909, quando apresentou uma preleção na Universidade Clark, nos EUA, depois publicada sob o titulo de “Constelação Familiar” (OC II) , nesse trabalho ele apresenta o resultado de um estudo com teste de associação de palavras com famílias, onde foi observado em alguns casos as associações de membros da família, apresentavam um índice elevado de similaridade, que indicavam uma identidade psíquica, p.ex., a filha estava identificada com a mãe que repetiria as escolhas e comportamentos da mãe, vivendo os complexos da mãe, numa verdadeira maldição familiar. Para dar um exemplo, certa vez, atendi um rapaz que me procurou com alguns sintomas de depressão, contudo, a rotina e as atividades e sua disposição para enfrentar e realizar mudanças não condiziam a depressão, na verdade, a questão estava com a mãe do paciente que possuía uma depressão servera e crônica. O paciente era filho único, responsável pela mãe, assim, inconscientemente ele era “contaminado” pela mãe. Apos trabalharmos essa relação inconsciente com a depressão da mãe o paciente melhorou. Por isso mesmo, que pessoas que convivem ou mesmo cuidam de pessoas com doenças como depressão e Alzheimer (dentre outras), devem ficar atentos com sua própria saúde, pois, correm franco risco de adoecerem.

Assim, a faculdade do inconsciente “absorver” a realidade circundante nos coloca diante da relação do individuo frente ao meio externo. Assim, o sonho ofereceria chaves de compreensão da realidade atual, objetiva e externa a esfera psíquica do sonhador. Deste modo, alguns sonhos permitem ao sonhador ver contexto psíquico no qual ele se encontra inconscientemente imerso.

4 – Acontecimentos passados :

Acontecimentos passados, porém, podem igualmente entrar nos sonhos. Caso os senhores se deparem com algo assim , deverão leva-lo a sério. Quando um nome histórico que pode ter algum significado maior surge nos sonhos, costumo pesquisar o real significado do nome. Pesquiso que tipo de pessoa foi designado por este nome e em que contexto vivia, pois desse modo podemos explicar o sonho.

Os acontecimentos passados, personagens históricos, podem não estar claramente relacionados com o cotidiano, quando examinados, verificadas a relações poderemos ter as associações necessárias para compreender a mensagem sonho. Os arquétipos constituem padrões basais de comportamento que podem se representar através de imagens universais.

5 – Causas futuras

O último grupo de causas, os senhores encontraram entre os sonhos que antecipam conteúdos psíquicos futuros da personalidade que não são reconhecidos tais no momento presente. Trata-se desse modo de acontecimentos futuros que ainda não passíveis de serem reconhecidos no momento presente.

Estes conteúdos apontam para ações ou situações futuras do sonhador que não se baseiam em absoluto na psicologia atual do paciente. (JUNG, 2011, p.29)

Este último grupo é interessante por apontar a tendência natural do inconsciente em se direcionar para o futuro ou a etapa posterior do desenvolvimento. Jung já afirmava que “não é apenas o passado que nos condiciona, mas também o futuro, que muito tempo antes já se encontra em nós e lentamente vai surgindo a partir de nós mesmos.(JUNG, 2006, p.115) Esses sonhos indicam possibilidades futuras ou mesmo intuições que acerca do futuro. O inconsciente, até onde podemos compreender, não é condicionado pelo tempo.

Uma classificação dos Sonhos

No texto “Aspectos Gerais da Psicologia do Sonho” Jung faz uma discussão acerca da possibilidade de classificar os tipos de sonhos, de fato, não devemos considerar como uma classificação definitiva, mas, um esboço que nos permite compreender algumas diferenciações entre os tipos de sonhos.

Segundo Jung, teríamos,

sonhos típicos ou arquetípicos:

Mas estes sonhos não são muito frequêntes e, sob o ponto de vista final, perdem muito de sua importância que a interpretação causal lhe atribui em razão de sua significação simbólica fixa. Parece-me que os motivos típicos nos sonhos são de capital importância, porque eles permitem comparações com os motivos mitológicos. (JUNG, 2000, p. 185)

Os sonhos arquetípicos, isto é, cujo conteúdo é essencialmente marcado pelos arquétipo, de tal modo, que as associações pessoais não são suficientes para compreende-los, nem mesmo o ponto de vista final ou causal, justamente, por possuírem um fundo coletivo, isto é, impessoal. Os chamados “motivos típicos” são referentes às temáticas oriundas das experiências universais humanas, por isso mesmo, podem ser reconhecidas (e compreendidas) nas mitologias, nas narrativas religiosas, nos contos de fadas.

Geralmente, os sonhos arquetípicos possuem um carga energética superior, de tal forma, que tendem a promover mudanças significativas na atitude da consciência.

– sonhos compensatórios: Na verdade, esta “categoria” corresponde a grande maioria dos sonhos. São denominados compensatórios por visar a correção ou mudança da atitude da consciência.

É verdade que, na minha opinião, todos os sonhos têm um caráter compensador em relação aos conteúdos conscientes, mas longe de mim pensar que a função compensadora se apresente com tanta clareza em todos os sonhos como neste exemplo. Embora o sonho contribua para a auto-regulação psicológica do indivíduo, reunindo mecanicamente tudo aquilo que andava recalcado, desprezado, ou mesmo ignorado, contudo, o seu significado compensador muitas vezes não aparece imediatamente, porque apenas dispomos de conhecimentos imperfeitíssimos a respeito da natureza e das necessidades da psique humana.(JUNG, 2000, p.188)

A compensação caracteriza-se pelo confronto da atitude da consciência com os conteúdos do inconsciente. Desde modo, para compreender a função compensatória do sonho faz-se necessário compreender a atitude da consciência e qual aspecto pode estar sendo compensado. A compensação pode ser,

a) Redutora: Esta compensação se característica por ser uma função negativamente compensadora, isto é, sua manifestação visa reorientar a consciência explicitando os aspectos negativos opostos a consciência. Um exemplo, seria um individuo que leva uma vida notadamente religiosa, tem sonhos onde se encontra bêbado em prostíbulos.

O sonho redutor tende, antes, a desintegrar, a dissolver, depreciar, e mesmo destruir e demolir. Evidentemente, isto não quer dizer que a assimilação de um conteúdo redutor tenha um efeito inteiramente destrutivo sobre o indivíduo como um todo. Pelo contrário este efeito é muitas vezes altamente salutar, porque afeta apenas a atitude e não a personalidade total. (JUNG, 2000, p.195)

b) Prospectiva : Esta forma de compensação se caracteriza pela capacidade do inconsciente em retornar à consciência todos os elementos que passaram desapercebidos pela consciência ou mesmo, não conseguiram retornar a consciência. Essa compensação complementa na consciência.

em primeiro lugar, que o inconsciente, na medida em que depende da consciência,acrescenta à situação consciente do indivíduo todos os elementos que, no estado de vigília, não alcançaram o limiar na consciência, por causa de recalque ou simplesmente por serem demasiado débeis para conseguir chegar por si mesmo até à consciência. A compensação daí resultante pode’ ser considerada como apropriada, por representar uma auto-regulação do organismo psíquico. (JUNG, 2000, p.193)

Dessa função compensatória, temos como exemplo o célebre sonho do químico alemão Kekulé (Friedrich August Kekulé Von Stradonitz) . Kekulé estava pesquisando a formula do benzeno, em especial acerca de sua representação gráfica, e o trabalho não estava progredindo. Ele adormeceu e sonhou com uma cobra que engolia o próprio rabo, a partir desse sonho ele considerou a formula hexagonal do benzeno.

Esses sonhos reintegram a consciência elementos que complementam e possibilitam uma reorganização da percepção, assim como a resolução de questões.

– sonhos reativos: Estes sonhos são frutos de situações traumáticas ou de grande violência. São sonhos que expressam uma tentativa inconsciente de lidar com tal situação. A principal característica é que esses sonhos são refratários a análise e a interpretação.

“os mesmos sonhos reativos, sobretudo, em condições físicas patológicas, em que dores violentas influenciam decisivamente o desenrolar do sonho. Em minha opinião, os estímulos somáticos só excepcionalmente têm uma significação determinante. Geralmente esses estímulos se integram completamente na expressão simbólica do conteúdo inconsciente do sonho, ou, dito de outro modo: são utilizados como meio de expressão.”(JUNG, 2000, p.199)

Sonhos telepáticos : são sonhos onde um “acontecimento particularmente afetivo é antecipado “telepaticamente” no tempo e no espaço” (JUNG, 2000, p. 200) p.ex. uma mãe sonha que acontece algo como filho, acorda desesperada. Mas, tarde chega a noticia da morte do filho. Jung considerava que os sonhos telepáticos apontavam para peculiaridades do inconsciente, como o fato do mesmo, aparentemente, não ser determinado pelo tempo ou mesmo espaço – estes são determinantes fundamentais para a consciência. O inconsciente, por sua vez, não faz distinção entre passado, presente e futuro, como notamos por nos sintomas, memórias e nos sonhos. Acerca desses sonhos, Jung afirma

Naturalmente, nunca professarei que as leis que os regem sejam alguma coisa de “sobrenatural”. Apenas afirmo que eles escapam ao alcance de nosso saber meramente acadêmico. Assim, os conteúdos telepáticos contestáveis possuem um caráter de realidade que zomba de qualquer expectativa de probabilidade. Embora sem me arriscar a uma concepção teórica a respeito desses fenômenos, creio, todavia, que é correto reconhecer e sublinhar sua realidade”(JUNG, 2000, p.201)

Sonhos e a Dinâmica Psíquica

Os sonhos desempenham um papel importante no processo de autorregulação psíquica, Jung especificou quatro possibilidades de significação dos sonhos na dinâmica psíquica, seriam elas,

“1) O sonho representa a reação do inconsciente frente a uma situação da consciência(…)” (JUNG, 2011, p. 18) – No primeiro caso o sonho expressa o inconsciente, podendo ser favorável a postura da consciência, onde, o sonho complementaria a realidade vivida, ou poderia ser desvarável a posição do inconsciente, sendo . Assim, frente a uma escolha ou ação da consciência, o inconsciente pode se expressar por meio do sonho, este podendo ser complementar ou compensatório a atitude da consciência. Estando intimamente ligado aos acontecimentos recentes.

“2) O sonho representa uma situação que é fruto do conflito entre a consciência e o inconsciente(…)”( Ibid) Neste caso, independente o acontecimento recente da consciência, o sonho expressa a ação espontânea do inconsciente, que difere de tal modo da atitude da consciência.

3”) O sonho representa a tendência do inconsciente cujo objetivo é uma modificação da atitude da consciência(…)”(ibid) Esses sonhos indicam o movimento do inconsciente em direção a consciência. Esses sonhos são significativos, pois, muitas vezes, indicam o curso para onde o desenvolvimento “deve seguir.

4) O sonho representa processos inconsciente que não evidenciam uma relação com a situação inconsciente ” (Ibid) – Neste caso, os sonhos emergem do inconsciente apresentando um caráter numinoso. São chamados de “Grandes Sonhos”, por serem experimentados como uma iluminação. Indicam um processo de desenvolvimento psíquico a partir do inconsciente arquetípico, contudo, sem ser condicionado pelos processos da consciência.

Neste texto, apresentamos alguns aspectos teóricos importantes pensarmos a analise de sonhos, por constituírem um pano de fundo importante. Em breve, estaremos publicando a segunda parte deste texto, onde discutiremos alguns aspectos da interpretação dos sonhos.

Referências Bibliográficas

FREUD, S. Conferência XXIX: Revisão da teoria dos sonhos. In: Obras completas. Rio de Janeiro: Imago. v. XXII, 1996.

JUNG, C. G., Memórias Sonhos e Reflexões, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975

JUNG, C.G., Natureza da Psique, Petrópolis:Vozes, 2000.

JUNG, C.G. Seminários sobre sonhos de crianças, Petrópolis: Vozes, 2011.

 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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Discípulo e Dissidente: Repensando algumas distorções

(17 de janeiro de 2013)

Recentemente eu estava relendo algumas partes do livro de “Em busca de Jung” de J.J.Clarke, acerca da relação entre Jung e Freud e as distorções realizadas ao longo da história, que são amplamente divulgadas em livros de teoria da personalidade. Bem, lendo o texto do Clarke, me lembrei de uma situação onde essas “distorções” falaram alto, foi numa conversa com um grupo, em dado momento fiz algumas críticas a Freud e a psicanálise, quando uma pessoa que participava na conversa, que estudava Jung a pouco tempo, me censurou dizendo: “ Você não deveria falar assim, afinal, Jung foi aluno de Freud”, seguiu dizendo que Jung devia muito a Freud e coisas assim. Ao longo deste texto, discutirei justamente os apontamentos que fiz nessa conversa.

Acredito que devemos começar por uma consideração histórica importante, considerando a questão “quem era Jung, antes de conhecer Freud?” Esta questão é fundamental para compreendermos as distorções acerca da relação entre de Jung e Freud.

Logo após se formar, em 1900, Jung se tornou médico e foi contratado no Hospital Psiquiátrico Burgholzli, como médico-assistente do diretor dr.Eugen Bleuler, que um dos principais nomes da psiquiatria do século XX, responsáveis por importantes pesquisas acerca da demência precoce/esquizofrenia. Entre 1904/1905 Jung desenvolve seus estudos sobre associação de palavras, que o projetam internacionalmente. Em 1905, promovido a Médico Chefe da Clínica do Burgholzli e indicado a conferencista em Psiquiatria da Universidade de Zurique. Em 1907, quando ocorreu o encontro com Freud, Jung já possuía muitos artigos publicados e livros, e já utilizava da teoria psicanalítica em seus estudos tanto sobre os complexos quanto sobre a demência precoce(1906), e, desde 1904 ele já utilizava da psicanálise em tratamentos no Burgholzli (a primeira paciente foi Sabina Spielrein). Em 1909, Jung e Freud foram convidados e igualmente homenageados com o doutoramento honoris causa pela Universidade Clark nos EUA, Freud por seus trabalhos com psicanálise e Jung por suas pesquisas em psicopatologia experimental, com seus testes de associação de palavras. 

Um colaborador

De fato, esses dados são importantes para começarmos a pensar a idéia de que Jung foi apenas “discípulo ou aluno” de Freud. A relação de respeito e projeções paternas que Jung nutria em relação a Freud, é explicitada nas cartas que trocaram. Deve-se notar que grande parte da relação deles foi por correspondência, pois, não foram muitos os momentos onde eles se encontraram pessoalmente, sendo que o principal momento foi em 1909, na viagem aos EUA, contudo, Jung relata que nesta viagem de sete semanas teve origem a ruptura com Freud. Ao analisar o período a relação entre Jung e Freud, Clarke aponta que,

Durante todo o período em que foram amigos, Freud certamente nunca o tratou como aluno, vendo-o, isto sim, como um respeitado e altamente valioso parceiro menor, esforçando-se para estabelecer as credenciais profissionais da psicanálise. (CLARKE, 1993, p. 23-4)      

Não estamos dizendo que Jung não aprendeu nada com Freud, mas, que apesar do aprendizado e da relação de amizade, Jung era um pensador independente, profícuo, bem relacionado, a tal ponto que Freud em pouco tempo o elegeu seu “príncipe herdeiro”. Peter Gay, um importante biógrafo de Freud, afirma que

Em cartas a amigos íntimos judeus, ele[Freud] elogiava constantemente Jung por fazer um trabalho “esplêndido, magnífico”, publicando, teorizando ou investindo contra os inimigos da psicanálise. “Agora, não fique com ciúmes”, Freud espicaçou Ferenczi em dezembro de 1910, “e inclua Jung em seus cálculos. Estou mais convencido do que nunca que é o homem do futuro”. Jung era a garantia de que a psicanálise sobreviveria depois que seu fundador tivesse abandonado o palco, e Freud amava-o por isso. (GAY, 1989, 194-5)

A importância de Jung naquele momento era tal, que, em 1909 foi confiada a ele o cargo de redator chefe do “Jahrbuch für Psychoanalytische und Psychopathologische Forschungen”, a primeira revista internacional de psicanálise, assinavam como editores Freud e Bleuler. Já em 1910, Jung foi eleito o primeiro presidente da Associação Internacional de psicanálise.

Como propusemos, reduzir Jung a um “discípulo” não condiz a realidade e a relação entre Jung e Freud naquele momento da psicanálise.

O Dissidente

De fato, Jung protagonizou uma das maiores dissidências da psicanálise. Contudo, eu gostaria apenas de lembrar que ser dissidente implica basicamente numa discordância ou divergência e o afastamento de um grupo. Digo isso, pois, é comum vermos o uso desse termo como se fosse “traição”. Mas, para entendermos a aplicação desse termo, e seu peso, devemos recorrer ao “Dicionário de psicanálise” de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, nos informa,

A palavra dissidência tem outra significação. Designa a ação ou o estado de espirito de quem rompe com a autoridade estabelecida, mas não implica a idéia de separação e divisão que está presente no termo cisão. Por isso ela é empregada em psicanálise para designar as rupturas ocorridas durante a primeira metade do século XX, numa época em que o freudismo não ainda se havia tornado um verdadeiro movimento de massa, como aconteceria depois da morte de Freud. A dissidência, portanto, é um fenômeno historicamente anterior ao das cisões, contemporâneas da expansão maciça da psicanálise no mundo, e, por conseguinte do advento da terceira geração psicanalítica mundial (Jacques Lacan, Heinz Kohut, Marie Langer, Wilfred Ruprecht Bion, Igor Caruso, Donald Woods Winnicott). Instruídos pelos representantes da segunda geração, os membros da terceira só tiveram acesso a Freud através da leitura dos textos. Considerando que a IPA já não era uma instância legítima e inatacável, eles questionaram não apenas a interpretação clássica da obra freudiana, mas também as modalidades de formação didática, às quais não mais queriam se submeter, arrastando consigo as gerações seguintes.

De modo geral, emprega-se o termo dissidência para qualificar as duas grandes rupturas que marcaram os primórdios do movimento psicanalítico: com Alfred Adler, em 1911, e com Carl Gustav Jung, em 1913. Essas duas rupturas conduziram seus protagonistas a fundar, ao mesmo tempo uma nova doutrina e um novo movimento político e institucional: psicologia individual, no caso do primeiro e psicologia analítica, no que tange ao segundo.

Essas duas dissidências concerniram, na verdade, a questões teóricas. Nesse aspecto, há entre a dissidência e a cisão a mesma distância que separa o cisma da heresia. O cisma (religioso), assim como a cisão(leiga), é a contestação da autoridade legítima da instituição que representa a doutrina a ser transmitida(a igreja, na religião e a IPA, na psicanálise), ao passo que a dissidência (leiga), tal qual a heresia (religiosa), é uma crítica da doutrina transmitida, que tanto pode conduzir à ruptura radical quanto ao rearranjo ou reformulação internos da doutrina radical.

As dissidências de Wilhelm Steckel e Otto Rank, sob esse aspecto, são diferentes da adleriana e da junguiana, portanto dizem respeito a certos aspectos da doutrina e não à sua totalidade. Trata-se, pois, de dissidências internas à história da teoria freudiana, da qual conservaram quer o essencial, quer uma parte. A dissidência de Wilhelm Reich é da mesma ordem, tendo sido acompanhada, como a de Rank, de uma expulsão da IPA.(ROUDINESCO, PLON,1998 , 118)

Acredito que este texto, do dicionário de psicanálise, nos ajuda a entender a aplicação do termo dissidência, e, como que Jung passa a ser compreendido no contexto psicanalítico. Confesso que achei bem interessante a explicação utilizando termos de origem religiosa (cisma e heresia), poderíamos utilizar outro termo religioso para compreendermos valor dado a palavra dissidente, o termo seria apostata. Esta é uma distorção, muitas vezes, inconsciente feitas por simpatizantes da psicanálise, que simplesmente hostilizam a Jung e seu corpo teórico sem conhece-lo, apenas por ele ter rompido com o pensamento freudiano.

A psicanálise como pré-requisito?

Ao pensarmos sobre a dissidência de Jung, o texto do dicionário de psicanálise nos permite pensarmos outra distorção comum nos currículos acadêmicos, que consiste em colocar a psicologia analítica como “descendente” da psicanálise, isto é, colocar a psicanálise como pré-requisito para se estudar a psicologia analítica.

A ruptura com Freud, nos primórdios do movimento psicanalítico, não representou uma influência decisiva na construção junguiana, de tal forma, que não há qualquer necessidade de ter conhecimentos de psicanálise para se compreender o pensamento junguiano. Peço ao leitor que me não me tome por extremista ou fundamentalista, na verdade, o que afirmo aqui é a independência da psicologia analítica em relação a psicanálise. Não há necessidade de passar por Freud para chegar a Jung, pois, a psicologia analítica não descende da psicanálise.  Mesmo que tenhamos termos similares (libido, transferência etc) são utilizados de forma própria.

Acredito que superar essas distorções é fundamental para termos uma consideração realista acerca da psicologia analítica.

Referências Bibliográficas

CLARKE, J.J. Em busca de Jung. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993

GAY, P. Freud, uma vida para nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.  

ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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Algumas reflexões acerca do chamado “otimismo junguiano”

 

(28 de dezembro de 2012)

Há alguns anos atrás, quando ainda fazia a graduação em psicologia, uma colega fez uma crítica ao pensamento junguiano dizendo que este era de um otimismo ingênuo. Na época, nem me incomodei com essa crítica, pois, era motivada pela ideia psicanalítica da pulsão de morte. Contudo, nesses últimos dias eu tenho sido questionado acerca do dito “otimismo” junguiano, e, essa lembrança acerca do “otimismo ingênuo” me fizeram pensar um pouco mais.

De fato, acredito que podemos começar a pensar o “otimismo” junguiano, nos perguntando, se ele é apenas um otimismo? Acredito seja necessário primeiro considerarmos alguns aspectos epistemológicos. Isto porque, a postura junguiana não está calcada apenas numa premissa qualitativa ou numa simples aposta que “vai dar tudo certo”, mas, sim numa postura epistemológica, pois, Jung compreendia que a realidade não era um dado objetivo, mas que se constituiria na relação com o sujeito. Desta forma, ao observar um objeto a percepção do sujeito é condicionada tanto por seu sistema sensorial quanto por sua história. É justamente nesse sentido, que Jung a afirma “Nosso modo de ser condiciona nosso modo de ver” (JUNG, 1989, p.324).

A realidade ou mesmo a psique não é dada de forma objetiva ou integral, cada um de nós perceberemos os fenômenos de acordo com nossa perspectiva. Por isso, que na psicologia possuímos tantas abordagens diferentes, que abordam o mesmo fenômeno por perspectivas diferentes, uns focam no comportamento, outros no corpo, outros no sentido da vida, outros nas relações sociais, nas relações sócio-históricas, outros nos aspecto patológico da psique. Através de uma comparação com a perspectiva diametralmente oposta, isto é, a de Freud, Jung expõe sua perspectiva afirmando que

Eu prefiro entender as pessoas a partir de sua saúde e gostaria de libertar os doentes daquela psicologia que Freud coloca em cada página de suas obras. Não consigo ver onde Freud consegue ir além de sua própria psicologia e como poderá aliviar o doente de um sofrimento do qual o próprio médico padece. (JUNG, 1989, p.325)

Jung afirma que “prefere” olhar pelo viés da saúde, isto é, ele escolhe a perspectiva que prioriza a saúde e os processos autorregulatórios da psique. Afirmar a saúde não significa negar a doença e os aspectos patológicos, mas, compreende-los numa perspectiva onde a doença integra e compõe o processo de saúde. É justamente nesse sentido que Jung afirma que “O importante já não é a neurose, mas quem tem a neurose. É pelo ser humano que devemos começar, para poder fazer-lhe justiça.”(Jung, 1999, p. 80). Assim, podemos compreender que mais que a neurose não possui uma existência em si mesma, mas, compõe o cenário da vida e realidade do individuo.

De fato, devemos compreender que a psique possui todo instrumental necessário para se reorganizar e promover o desenvolvimento do individuo. Por isso mesmo, Jung afirma,

Não se deveria procurar saber como liquidar uma neurose, mas informar-se sobre o que ela significa o que ela ensina, qual sua finalidade e sentido. Deveríamos aprender a ser-lhe gratos, caso contrario teremos um desencontro com ela e teremos perdido a oportunidade de conhecer quem somos. Uma neurose estará realmente “liquidada” quando tiver liquidado a falsa atitude do eu. Não é ela que é curada, mas ela que nos cura. A pessoa está doente e a doença é uma tentativa da natureza de curá-la. (JUNG, 2000, p. 160-1)

Acredito que o chamado otimismo junguiano, também esteja relacionado a compreensão que a realidade psíquica é orientada, não apenas pela causa, mas, para um fim. A perspectiva finalista nos possibilita pensar o “para quê” de um dado fenômeno psíquico, isto é, pensar qual a intencionalidade ou para onde o processo está apontando. Através da neurose, eu poderia compreender não só quais os caminhos ou escolhas eu tomei que me trouxeram aonde estou, mas, quais caminhos ou escolhas devo tomar para mim vida. De fato, compreender que “não é apenas o passado que nos condiciona, mas também o futuro, (…).” (JUNG, 2006, p.115) nos abre para uma dimensão da possibilidade, onde o individuo é efetivamente um agente, um construtor de sua própria história.

No filme de animação “Kung Fu Panda 2”(2011), temos uma excelente expressão dessa compressão, a Velha Cabra diz a Po ;“Sua história pode não ter tido um começo muito feliz, mas não é isso que define quem você é. É o restante da sua história, quem você escolhe ser.” Nossa história vivida nos permite compreendermos qual caminho que percorrermos, mas, não somos condenados a vivermos nesses caminhos. A psicoterapia visa possibilitar que o individuo realize novas escolhas a partir de sua própria história.

Por mais que a realidade da neurose possa nos fazer sofrer, devemos compreender que há sempre uma possibilidade, pois, “o fundo da psique é natureza e natureza é vida criadora. É bem verdade que a própria natureza derruba o que construiu, mas vai reconstruir de novo” (JUNG 2000, p.89). A vida gera vida. Mesmo na psicose, como muito bem demonstrou a Dra. Nise da Silveira, sendo tratado com respeito e dignidade, o paciente pode ter qualidade de vida e viver criativamente!

O pensamento junguiano é orientado para a vida e seus processos criativos, isto, já nos permitiria chama-lo de “otimista”. Mas, como expomos acima, este otimismo não seria “ingênuo” nem mesmo “romântico”, mas, sim um otimismo fundamentado, baseado numa perspectiva que prioriza a vida e os processos naturais de desenvolvimento.

De fato, o otimismo, uma postura afirmativa ou positiva frente a vida e aos processos psíquicos pode ser compreendido como uma marca junguiana.

Referências bibliográficas

JUNG, C. G.. Freud e a Psicanálise Petrópolis: Vozes. 1989.

JUNG, C.G. A pratica da Psicoterapia, Petrópolis: Vozes, 1999.

JUNG, C.G O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE, Petrópolis: Vozes, 2006.

JUNG, C.G Civilização em Transição, Petrópolis: Vozes, 2000.

KUNG FU PANDA 2. Produção de Guillermo del Toro. EUA: Paramount Pictures,. Animação (90 min.), 2011.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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Algumas palavras sobre o Curador-Ferido

(19 de outubro de 2012)

(Este foi o texto base para da  apresentação realizada no II Congresso Estadual de Psicologia Analítica, realizado em Vitória, 19 de outubro de 2012)

É com muito prazer que  participo desta mesa, juntamente com a profa. Isabele Santos Eleotério, para pensarmos e contribuirmos com a psicologia junguiana no ES. Neste congresso já tivemos o prazer de ouvir o Prof. Maddi, Profa. Kathy e a Profa. Elizabeth, aliás é sempre um prazer ouvi-los. A minha contribuição é uma breve reflexão acerca da representação arquetípica que denominamos curador-ferido.

O “arquétipo do curador-ferido” é facilmente reconhecido e intuitivamente compreendido em suas representações. Para ilustrar, vou citar três representações que nos tocam diretamente.

A primeira é também a mais conhecida e “reverenciada”, vem da mitologia grega, que é o Chiron, o centauro meio-irmão de Zeus. Digo que nos toca, pois, nossa herança intelectual nos liga ao pensamento grego. Assim, Chiron e a mitologia grega nos possibilitam acompreensão de forma tão clara dos arquétipos. No caso, Chiron que era detentor das artes de cura, sendo inclusive mestre de Asclépio, o deus da medicina. Num dado momento, Herácles, que passava pelo Monte Pelion, entrou numa confusão com centauros, nesse conflito acidentalmente Héracles alvejou Chiron, com uma flecha embebida pelo sangue da hidra de Lerna, causando uma ferida mortal. Contudo, por ser imortal, Chiron passou a sofrer dores monstruosas, pois, toda sua habilidade de cura não era suficiente contra o sangue da hidra.

A segunda representação nos toca diretamente, pois, somos atravessados pela tradição judaico-cristã, quer professemos ou não a fé cristã. Assim, temos Jesus Cristo como representante do curador ferido. Suas feridas já faziam parte das profecias do antigo testamento. “Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.” (Isaias 53:3- NVI). No novo testamento temos outras referências a seu caráter curador “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados”.( I Pedro 2:24 – NVI).

O terceiro também é presente na nossa cultura, vindo da tradição afrobrasileira, que nos toca sutilmente e compõe nossa forma de ser.  Na tradição do candomblé e da Umbanda temos o orixá Xapanã, também chamado de Omulu ou Obaluae.    Em seus mitos, verificamos que quando esse orixá era criança, teve seu corpo tomado pela varíola, motivo pelo qual foi abandonado por sua mãe Nãnã. Ele foi encontrado e tratado por Yemanjá, mas, ficou com o corpo com as terríveis marcas da varíola. Conta-se também, que quando Olodumaré foi dividir seus bens, essa divisão ocorreu quando Xapanã estava ausente, os orixás pegaram os “bens”, restando para ele somente a peste. Posteriormente, ele se tornou um orixá muito temido e respeitado justamente por ser o senhor das doenças e da cura das mesmas.

(eu poderia até citar um outro curador-ferido, que expressa a crença e a fé na ciência. Que é o personagem Gregory House, que representa bem o curador ferido).

O arquétipo do curador-ferido nos é especialmente atraente por se referir à dinâmica do processo de cura e, por conseqüência, por nos permitir pensar a dinâmica que envolve a relação terapêutica. Especialmente pela perspectiva de Guggenbuhl-Craig(1978) que amplia a compreensão desse arquétipo, que afirma que se a consciência se identifica com um pólo do arquétipo, o contrario é constelado no inconsciente. Isto é, numa situação de doença, se constela na consciência a dinâmica da doença e o pólo de “curador”  se constela no inconsciente.  O fato de ser inconsciente, propicia que o polo curador possa projetado seja na figura do médico ou do terapeuta. Guggenbühl-Criag aponta a necessidade de integrar o pólo de cura, justamente para  mobilizar todo potencial de cura do individuo.

Mas, eu gostaria de pensar o arquétipo sob outra perspectiva, pois, quando vemos essa imagem arquetípica temos dois aspectos:  “cura” ou “curador” que se opõe à “ferida”. As imagens citadas (Quiron, Cristo, e Obaluae) distinguem-se justamente por possuírem um limite, o qual denominamos “ferida”, que se torna tão próxima ou mesmo, necessária aos seres humanos. Assim, poderíamos associar ao curador os seguintes elementos:

Curador

Ferida

Saúde

Doença

Possibilidade

Limite

Total

Parcial

Imortal

Mortal

Divino

Humano

Se pensarmos que o pólo curador, expressa a “possibilidade de possibilidades”, o potencial de vir-a-ser, o impulso heroico de expansão. A ferida é um limite. Assim como doença, a velhice também constituem limites ao homem. A Possibilidade-Saúde-Cura e o Limite-Doença-Ferida são opostos refletem o aspecto autorregulatório da psique. De fato, os mitos sempre apontam para a necessidade integrarmos os limites, para não incorrermos na “desmensura” ou na hybris, o erro muitas vezes fatal dos heróis gregos.

É interessante que notarmos que vivemos numa cultura que ainda tem dificuldades de lidar com os limites, isto é, mais propriamente feridas. Não estou advogando em prol da doença, mas, chamo atenção ao Guggenbuhl-Craig nos alerta acerca dos perigos da fantasia da saúde como força, totalidade (como pleno funcionamento fisiológico e mental) que pode ocultar na verdade a ideia de perfeição, que nos leva a uma busca por algo inatingível. Essa busca se manifesta por diferentes vias. Seja excesso de cuidados, ou pela negação dos limites. Lidar ou aceitar com os limites não significa resignação, mas, uma consideração adequada da realidade e do que é a saúde para o indivíduo nesse momento.

Eu já ouvi de pessoas/pacientes religiosos dizerem que não podem ter essa ou aquela doença/limitação por serem tementes a Deus, ao eu respondo, “olha, vc já ouviu falar no apóstolo Paulo que tinha um “espinho na carne” que Deus se recusou a tirar, ou mesmo se conhece o profeta Elias que nos dias de hoje seria diagnosticado estando com depressão”.

Por outro lado, nós que trabalhamos com as “artes de cura”, devemos considerar as feridas do curador como um limite a cura, ou melhor, um limite ao desejo de curar. Pois, “o desejo de curar” muitas vezes expressa esse “ideal de saúde ou perfeição”, onde o terapeuta impõe uma realidade estranha a realidade ou a verdade do paciente. A busca incessante pelo ideal de saúde pode ser mais opressivo que a limitação e a doença. Jung aponta que o que terapeuta nao suporta o paciente também não vai suportar.

Por isso mesmo, integrar as feridas-limites significa aceitar nossa humanidade, como uma forma de possibilitar a quem atendemos integrar tanto o pólo “curador” quando o pólo “ferida”. É, como o prof. Maddi disse ontem, aceitar que a vida gera vida, tanto pela possibilidade quanto pelo limite. Pois, é através da integração dos dois que podemos experimentar “quem somos”.

O arquétipo do curador-ferido expressa o processo de individuação. Acredito que em outras oportunidades poderemos falar mais sobre o processo saúde-doença que é expresso por essa imagem.

Textos utilizados:

GUGGENBHÜL-CRAIG, Adolf, Abuso do poder na psicoterapia, rio de janeiro: achieamé, 1978.

GUGGENBHÜL-CRAIG, Adolf. O Arquétipo do Inválido e os limittes da Cura ,in JUNGUIANA – Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 1983.

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2000

BÍBLIA. Português. BÍBLIA SAGRADA: Nova Versão Internacional. Tradução da Comissão de Tradução da Sociedade Bílbica Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2000.

BRANDÃO. J. DICIONÁRIO MÍTICO-ETIMOLÓGICO, Vol. I, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1991.

GROESBECK, C.J. A IMAGEM ARQUETÍPICA DO MÉDICO FERIDO,inJUNGUIANA – Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 1983.

Cf. JUNG, C.G. Ab-Reação, Análise dos Sonhos, Transferência, Petrópolis, RJ : Vozes, 1999.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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