XXIII Congresso da Associação Junguiana do Brasil -“A Práxis Junguiana”

congrsso

Mcong2ensagem da Presidente do Instituo C. G. Jung de MG
O Instituto C. G. Jung de MG tem o prazer de anunciar o XXIII Congresso da Associação Junguiana do Brasil, “A Práxis Analítica”.
Nosso objetivo é proporcionar um amplo debate sobre a prática clínica analítica, com suas técnicas e intervenções, desde a escuta analítica clássica aos métodos projetivos, que se desenrolam no Mundus Imagnalis do setting analítico, visitado pelos fenômenos da transferência e contratransferência.
Nosso encontro será no período de 17 a 20/11/2016, em Ouro Preto, cidade histórica mineira, que em 1980 tornou-se a primeira cidade brasileira a ser reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. Antiga Vila Rica, Ouro Preto é considerada uma das maiores riquezas do estado de Minas Gerais, por sua história, arte e arquitetura barroca.

Jussara César e Melo
Presidente do Instituto C. G. Jung de MG”

Em breve as informações no site http://congressoajb2016.com.br

Essas informações foram divulgadas no facebook do Instituto C.G.Jung de MG, responsável pela organização do evento. Quando tivermos mais informações estaremos divulgando aqui no site!

Publicado em congresso | Com a tag | Deixe um comentário

Problemas Técnicos

Prezados,

Ontem tive uns problemas no site (probelmas de atualização do sistema) que me fizeram refazer todo o site. Assim, levarei alguém tempo para reorganizar o conteudo, pois, muitas imagens e fotos se perderam assim como alguns links se quebraram. Conto com a paciência e colaboração de todos para apontar erros ou se precisarem de algo.

Abraços,

Fabrício Moraes

Publicado em Uncategorized | Com a tag | Deixe um comentário

“Brincar de Boneca”: Reflexões sobre o desenvolvimento da personalidade, misoginia e psicopatia

(Por Fabricio F. Moraes)

Esse último mês de outubro de 2015 foi marcado por uma ampla discussão nas redes sociais sobre assédio/abuso sexual, machismo, sexismo e misoginia. Acompanhando essas discussões, me deparei com um texto que chamou atenção com o título “’Sou homem e meu filho não brinca de boneca.’ Ou ‘Como criar um machista’” de Dr.Leonardo Sakamoto http://goo.gl/bZUqno , nesse texto ele discute a gênese do machismo e misoginia associado ao sexismo dos brinquedos e das brincadeiras das crianças.

Tal temática é fundamental, especialmente porque, na atualidade, o estado do Espirito Santo lidera as estatísticas de violência contra a mulher em nosso país. Assim, como Dr. Sakamoto muito bem apontou no texto acima citado e em outros textos, sob certo aspecto o brincar é um veículo ideológico do sexismo, do machismo e da misoginia que tanto violenta e mata mulheres em nosso país e no mundo. As expressões “de menino” ou “de menina” na boca das crianças trazem todo o peso de séculos de uma divisão social de trabalho, poder, e determinações possibilidades de futuro que desqualificam as mulheres. Essas situações não podem ser ignoradas.

Neste texto, pretendemos desenvolver um pouco da visão de desenvolvimento na psicologia junguiana, pelo viés de Fordham, do brincar e suas implicações na personalidade. Para assim, posteriormente, voltar as questões que envolvem a discussão da misoginia e o machismo.

Desenvolvimento e o Brincar

Um dos principais teóricos junguianos do desenvolvimento foi o analista inglês Michael Fordham (1905-1995), psiquiatra que, ao longo de sua carreira trabalhou com crianças, sendo responsável por um abrigo de crianças evacuadas na segunda guerra. Seus estudos com crianças, o aproximaram do middle group da sociedade britânica de psicanálise, especialmente de Winnicott, de quem foi amigo. Desta maneira, sua forma de pensar o desenvolvimento é importante por unir tanto aspectos da sua percepção clinica com crianças, a teoria de Jung e a psicanálise inglesa.

Em seu modelo de desenvolvimento, Fordham(2001) defende que a criança quando nasce já possui uma unidade psicossomática, a qual ele chamou de “Self primário” a partir da qual, toda a experiência do psiquismo (incluindo o ego) se desenvolveria. Haveria, assim, uma organização preexistente na criança que direcionaria o processo de amadurecimento. Este processo já começaria desde a vida intrauterina, onde este Self primário passaria por um processo ao qual Fordham denominou de “deintegração e reintegração”.

Como unidade psicossomática, o self primário está diretamente relacionado com o corpo e os processos psicofisiológicos que, de acordo com as relações com a mãe/ambiente (toque, cuidado, suporte, alimentação, proteção, etc.), se manifesta, ativando partes especificas (relacionadas com o estimulo) que naturalmente vão deintegrando (ou dividindo-se). Desta forma, o self primário se “dividiria” em partes menores chamadas “deintegrados”. Essa divisão espontânea não deve ser confundida como uma desintegração ou algo similar negativo, pelo contrário é um processo positivo de ativação e atualização de determinadas partes do self.

Esses “deintegrados representam a prontidão à experiência, prontidão a perceber, a prontidão para agir instintivamente, mas, não uma ação ou percepção real”[1] (Fordham, 1957, p. 127, tradução nossa). Essa “prontidão”, seja percepção, ação ou experiência é a característica mais fundamental dos arquétipos[2]. O processo de deintegração corresponde a uma ativação dos processos arquetípicos inatos necessários ao desenvolvimento naquele momento. Que será seguido pelo processo de reintegração, onde este conteúdo será reintegrado ao Self, seja por meio do sono ou outros meios de elaboração. Com o tempo, o processo continuo e rítmico de integração-deintegração compondo e atualizando o substrato que dará origem ao núcleo do Ego.

É importante compreender que o processo de integração-deintegração não termina no estabelecimento do ego. Muito pelo contrário, ao longo da vida esse processo de repete continuamente através da formação de símbolos. Especialmente na infância esse processo desempenha um papel importante no processo de constituição ou desenvolvimento da personalidade.

O Self e seus processos representam o conceito-chave para Fordham, segundo o mesmo,

Dei muita importância ao self definido como a totalidade organizada dos sistemas consciente e inconsciente. A concepção aplicada à criança trata-a como uma entidade em si mesma, da qual se podem derivar os processos maturativos. Ela não inclui a mãe nem a família. A significação deste postulado de uma unidade primária ficará evidente, mas talvez possa dizer desde já que ela é concebida como a base sobre a qual repousa a noção de identidade pessoal e da qual procede a individuação.

A partir daí, o objetivo ideal dos pais pode ser definido como o de fomentar o amadurecimento do self e, assim, facilitar a sensação de autoconfiança da criança em relação a eles, a seus irmãos e ao ambiente extrafamiliar, no qual ela se irá engajando com o passar do tempo. (Fordham, 2001, p. 22)

Desta forma, o processo de desenvolvimento ou amadurecimento é inerente a dinâmica do Self, que necessita de condições mínimas para possibilitar esse desenvolvimento – sejam elas, o toque, fala, manejo etc. – pois, “o amadurecimento só pode se dar-se em toda plenitude num ambiente bom o suficientemente” (ibid, p.120). Nos primeiros meses de vida, a unidade mãe-bebê é importante por garantir a vida e o desenvolvimento dos processos deintegrativos. O ego da criança ainda não consegue se relacionar com a integralidade da mãe (objeto total), mas, como um objeto parcial (seio, pele, olhar, etc). Com o processo de amadurecimento da criança e, naturalmente, com as ausências da mãe desenvolvem-se os fenômenos e objetos transicionais – estes são, para Winnicott, uma importante expressão do amadurecimento. Os fenômenos e objetos transicionais só podem se desenvolver a partir do espaço potencial que, segundo Avellar (2004) é uma zona intermediária que resulta do fim da relação fusionada mãe-bebê, devido ao desenvolvimento de um sentimento de “eu” que possibilita a delimitação de uma realidade interior e exterior. Essa delimitação possibilita o afastamento da mãe, “o primeiro espaço que se abre entre na separação da unidade mãe-bebê para ser mãe-e-bebê é o espaço potencial”(Avellar, 2004, p. 60). Nesse espaço intermediário, transicional o bebê pode encontrar substitutos para os objetos parciais, de modo a suportar a ansiedade de separação e lidar de forma criativa e espontânea.

O objeto transicional, como o chama Winnicott, tem sua origem nos períodos em que a mãe está por perto e o bebê se sente seguro e a vontade. Ele pega o seio, ou um pedaço de pano que entre em contato com a boca para brincar e criar ilusões (ou delírios) que se tornam carregados de sentido. (…)ele é antes uma tentativa inicial de representação do self e, assim, pode ser a primeira de todas as simbolizações. (Fordham, 2001, p. 109)

É no espaço potencial, na experiência dos objetos transicionais, que se situa o brincar. Ao longo do desenvolvimento, o brincar se configura como uma experiência fundamental para a constituição da personalidade e para a experiência da realidade.

O brincar, quer na infância ou ao longo da vida, é uma oportunidade de integração e reparação dos processos de amadurecimento que por algum motivo foram prejudicados. Assim, o brincar possibilita que as representações do self (deintegrados) sejam atualizadas, humanizadas e integradas à estrutura da personalidade. Isto é, no processo de brincar, conteúdos arquetípicos que foram eliciados (deintegrados) pelo ambiente (família, relações sociais) e que o ego ainda não tem condições de assimilar possam ser elaboradas no brincar, de forma, a introduzir de forma aceitável ao mundo das crianças esses conteúdos.

Ao brincar as crianças não só reencenam a realidade que vivem, mas, podem integrar essa realidade como participantes ativos, produzindo no brincar – que como já dito, se constrói num espaço de segurança psíquica – a possibilidade do amadurecimento. Segundo Avellar (2004, p. 62) “é no brincar que o indivíduo pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral. É com base no brincar que se constrói totalidade da existência humana”. A experiência do brincar é possibilita essa experiência de integração ao longo da vida. Winnicott em seu livro “Brincar e Realidade” afirma

Em outros termos, é a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros. (Winnicott 1975, p. 63)

O brincar com bonecos, isto é, brinquedos com formas humanas possibilita que a criança possa não só elaborar a realidade que ela vivencia, mas, também integrar os conteúdos relacionados com essa realidade à sua personalidade. Com essa integração, a criança pode lidar com o medo e ansiedade relacionado às figuras parentais e às situações ambientais novas que surgem para as quais ainda não está preparado. Através do brincar a criança se torna ativa e internamente resolver as situações-problema que se apresentem.

Devemos considerar que quando falamos acerca do “brincar com bonecas”, isto é, brincar com bonecos que representam o feminino, falamos da atividade que permite a integração e a assimilação de características humanas que historicamente foram associadas ou identificadas com feminino (como receptividade, flexibilidade, cuidado, delicadeza e afetividade dentre outras). O mesmo vale para as meninas que integram características que foram historicamente identificadas com o masculino (como a agressividade, objetividade, rigidez, ênfase na lógica, dentre outras) tendo a possibilidade de brincar com os mesmos brinquedos ou brincadeiras que os meninos.

Com todo sexismo histórico, a integração e assimilação desse potencial é parcial. Isso se estabelece pois, as crianças que não tem a possibilidade de integrar naturalmente os aspectos do gênero oposto através de uma relação direta e criativa, sendo estes integrados a partir das relações com figuras parentais, familiares e colegas. Todavia esse contato com outro é limitado – seja pelo desejo, interesse e limitações físicas – fazendo com que o interagir das crianças com outras pessoas não corresponda a imaginação e ao brincar criativo. Dessa forma, esses os conteúdos terão maior dificuldade para ser integrados a personalidade da criança, ficando, assim, reprimidos ou subdesenvolvidos no inconsciente. Podendo podem oferecer dificuldades ao indivíduo ao longo da vida até serem finalmente integradas.genero

Assim, podemos questionar: qual seria o brinquedo mais adequado para a criança? O brinquedo mais adequado para a criança é aquele que ela deseja e que seja seguro para sua idade.

Para além das bonecas: misoginia e psicopatia

Para as crianças, brincar com bonecos ou bonecas é apenas brincar. É para os adultos que o brincar assume uma outra dimensão. Brincar se torna instrumento ideológico, no caso, o patriarcado que atravessa nossa constituição psíquica e social. A divisão sexista dos brinquedos de “menina” e de “menino” tem por objetivo estabelecer um modelo do que viria a ser “adequado” ou “próprio” para um cada gênero, numa tentativa de estabelecer um “local” masculino ou feminino, baseado (em nossa cultura) na tradição judaico-cristã, que durante séculos subjugou as mulheres baseado no mito do “pecado original”.

Não podemos negar que essa ideologia patriarcal também influenciou a psicologia. Em outro texto (Entorno da anima e animus – algumas reflexões sobre machismo e atualidade) foi discutido acerca do machismo na psicologia analítica, tendo expressão nos conceitos de anima e animus. Os conceitos não são em si “machistas” mas, são atravessados pela cultura machista. Esse atravessamento cultural é sentido na configuração das representações arquetípicas, cuja expressão se dá na dicotomia anima-animus.

Na teoria junguiana, esse atravessamento pode ser compreendido por diferentes persepctivas. Em Neumann temos uma noção de fragmentação de arquétipos, onde “ocorre uma fragmentação no sentido de que, para a consciência, o arquétipo primordial se decompõe num amplo grupo de arquétipos e símbolos inter-relacionados” (1995, p. 232). De modo semelhante, Guggenbhül-Craig retoma a mesma temática, em “Abuso do Poder…”, falando sobre as polaridades do arquétipo e cisão do arquétipo,

Não é fácil, para a psique humana, suportar a tensão das polaridades. O ego ama a clareza e sempre tenta erradicar a ambivalência interior. Essa necessidade de situações inequívocas pode acarretar uma cisão dos polos arquetípicos. Um pólo poderá ser reprimido e continuar operando no inconsciente,(…) A parte reprimida do arquétipo poderá ser projetada sobre o mundo exterior.(Guggenbhul-craig, 1979,p.99)

A dinâmica que Neumann e Guggenbhul-Craig descrevem nos indicam de uma dificuldade do ego e da cultura para lidar com a ambivalência natural dos arquétipos. A fragmentação ou a cisão do arquétipo não se dá ao acaso, mas, é condicionada pela consciência coletiva. Nesse sentido, podemos considerar que o masculino e o feminino são pólos de uma mesma dinâmica arquetípica, representada na teoria junguiana pela sizígia “Anima-Animus”, que, em outro texto, discutimos como sendo os polos do arquétipo da alteridade (cf. Anima, Animus e Alteridade – Revisão do texto de 05/04/2010 ), esse arquétipo pode ser expressado pela relação “Eu-Outro” que, em aspecto de maior diferenciação ou oposição, pode ser representado como masculino e feminino.

Poderíamos nos questionar acerca dessas cisões, pois, e “se essa cisão for radical? E, se não houver a reintegração?” Por mais que a psique seja um sistema autorregulador nem sempre encontra os meios necessários para reparar as falhas no desenvolvimento. Assim, quando um elemento não é adequadamente integrado pode formar uma lacuna na psique, isto é, um vazio na alma, que faz com que o indivíduo será incapaz de lidar adequadamente com as situações relacionadas com o conteúdo “não integrado”. Guggenbhul-Craig foi um pensador junguiano que trabalhou a ideia do “vazio na alma”, ele nos ajuda a pensar essa imagem,

“Imagine, se você quiser, uma geografia da psique, um imenso continente povoado por diferentes tribos (habilidades e capacidades), cada uma vive e se desenvolve adequadamente. Seguindo um pouco mais esta analogia, aquelas áreas que não foram habitadas ou são inabitáveis, como desertos, áreas estéreis, ou lacunas(lacunae) representariam as psicopatias. Todos temos traços psicopáticos, cada um de nós tem algo faltando ou aspectos que são marcadamente subdesenvolvidos. (Guggenbhul-Craig, 1986, p.68 – tradução nossa)[3]

Na lacuna, no deserto estéril não há produção simbólica, não há vida simbólica. Esta “vida simbólica” é representada por Guggenbhul-Craig como eros, a força psíquica, criativa, que une tanto os elementos de nosso mundo interior quanto nos liga ao mundo exterior. Nesse sentido, a psicopatia compreendida por Guggenbhul-Craig como um vazio ou lacuna na alma, no psicopata há uma “ausência de eros” ou a “deficiência de eros”, que impede o desenvolvimento adequado da personalidade. Guggenbhul-Craig afirma, “a falta de crescimento e de desenvolvimento é, como a falta da moralidade, o resultado de um fraco ou deficiente sentido de Eros: sem Eros não há desenvolvimento.”[4] (ibid, p.90) As relações humanas se estagnam, assim como relações consigo.

Para além do machismo, temos a misoginia, onde o feminino e a mulher não é apenas inferiorizado, mas, desprezado e objetificado. Na misoginia vemos um deserto de eros, onde o feminino não foi integrado a personalidade. A mulher não é compreendida em sua totalidade e dignidade numa relação de igualdade, mas, como uma posse, como uma relação inadequada.

Essa falta de Eros nos psicopatas encontra expressão nas dificuldades encontradas nas relações interpessoais. Em vez de Eros, nós frequentemente encontramos manipulação. Jung disse que quando o Amor se retira, o Poder avança, o Poder sendo um sinal de importância em indivíduos com tendências psicopáticas. Onde Eros está faltando, manipulação, controle, dominação e intriga dominam. Muitos pesquisadores têm reconhecido a “diminuição do Eros” como qualidade da psicopatia. (ibid. p.80- tradução nossa)[5]

Acredito que poderíamos equiparar a misoginia a psicopatia. Mas, faço isso como uma provocação. Uma provocação ao nosso próprio traço psicopático, nossa própria deficiência de Eros, que nos incapacita na relação com alteridade. Começamos esse texto discutindo o desenvolvimento, o processo de deintegração e reintegração – e o quanto o ambiente (mães/pais/família) são importantes para o desenvolvimento e falamos do brincar de boneca como ícone do sexismo de nossa cultura. Falar do “brincar de boneca” é falar de nosso sexismo íntimo, de nosso traço psicopático que cultivamos em silêncio, racionalizando, categorizando como “politicamente correto” todo movimento que visa a igualdade – seja ele de gênero, étnico-racial ou de orientação sexual. Na aridez do politicamente correto, construímos um deserto sem Eros, sem implicação.

Jung afirmava que “a pessoa que não tem o coração mudado, não mudará o coração de ninguém”(Jung, 2000, p. 186). Por isso mesmo, chamo atenção para o cuidado com o “politicamente correto”, pois a mudança de linguagem não é uma “mudança de coração”. É importante salientar que, no texto do Sakamoto citado no início deste texto, ele usa o “brincar de boneca” para chamar atenção aos hábitos machistas e sexistas que atravessam nossa formação deste a mais tenra idade. A mudança não se dá de forma mecânica, automática ou por adesão ao “politicamente correto”, a mudança se dá pela experiência, pela ação e vivenciar a realidade do outro.[6]

Acredito que enquanto não tivermos o coração mudado – que implica em ações e afetos – não mudaremos nada. Enquanto não nos permitirmos a experiência da alteridade – que nos identifica na relação como outro, compreendendo-o como igual – continuaremos a ter uma sociedade hostil e violenta contra as mulheres. Enquanto escondermos nosso machismo e sexismo sob os “panos quentes” do politicamente correto, viveremos no deserto da alma, acalentando, silenciosamente, nossos próprios traços psicopáticos.

Referencias Bibliográficas

Avellar, Luziane, Z.. Jogando na análise de crianças: intervir-interpretar na abordagem winnicottiana. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2004

Guggenbühl-Craig, Adolf. O abuso do poder na psicoterapia e na medicina, serviço social, sacerdócio e magistério. RJ, Achiamé, 1978

Guggenbühl-Craig, Adolf. Eros on crutches – on the nature of the psychopath, Dallas, Spring Publications, 1986.

Fordham, Michael. New Developments in Analytical Psychology, Londres: Routledge and Kegan Paul, 1957.

Fordham, Michael, A criança como individuo: Rio de Janeiro, 2001.

JUNG, C.G. Vida Simbólica Vol. II, Petrópolis: Vozes, 2000.

Neumann, Erich. História da Origem da Consciência, São Paulo: Cultrix, 1995

Winnicott, D.W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro, Imago, 1975


[1] The deintegrates represent a readiness for experience, a readiness to perceive, a readiness to act instintively, but not na actual preception or action.

[2] Cf. Instinto e Inconsciente(1919). In JUNG, C.G. Natureza da Psique, Vozes, 5ª Ed., Petrópolis, RJ, 2000.

[3] Imagine, if you will, a geography of the psyche, na immense continente peopled by different tribes (the abilities and capabilities) which live and develop accordingly. Following the analogy further, those áreas wich were uninhabited or uninhabitable, the deserts, barren areas, or lacunae would represent psychopathies. Everyone has psychopathic traits; each of us is missing something or has some aspect that is markedly underdeveloped.

[4] The lack of growth and of development is, like the lack of morality, the result of a weak or deficient sense of Eros: without Eros there is no

[5] This lack of Eros in psychopaths fids expression in difficulties encountered in interpersonal relationships. Rather than Eros, we frequently find manipulation. Jung said that when Love retreats, Power advences, Power being of signal importance in individuals with psychopathic tendencies. Where Eros is lacking, manipulation, control, domination, na intrigue take over. Most researchers have recongnized the Eros-less quality of psychopaths.

[6]No cinema dois filmes que eu indico que abordam essa experiência são: Inimigo Meu (1985) e Irmão Urso (2003)

——————————————————–

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

www.psicologiaanalitica.com

mandala

Publicado em Conceitos Fundamentais, textos temáticos | Com a tag , , , , , , , , | Deixe um comentário

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA ANALÍTICA

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA ANALÍTICA
Início em março/2016

O curso destina-se a psicólogos e profissionais com formações nas áreas humanas, estudiosos da teoria junguiana. O curso tem por objetivos analisar os princípios fundamentais da teoria Analítica de C.G.Jung e situar-se frente os seus próprios paradigmas, fazendo uso dos procedimentos, métodos e fundamentos da Psicologia Analítica, aplicando adequadamente os conhecimentos adquiridos, dentro da ética profissional e do digno de ser trabalhado. Além disso, o curso visa proporcionar conhecimentos para a pesquisa teórica-prática em Psicologia Analítica.

PROGRAMA DO CURSO:
– Introdução a Psicologia Analítica
– Bases e Fundamentos de Psicologia Analítica
– Construção, Desconstrução e Reconstrução em Análise
– Procedimentos e práxis da Psicologia Analítica
– Raízes filosóficas, epistemológicas, científicas e religiosas na obra junguiana
– Aspectos clínicos da análise junguiana
– Psicopatologia e a mitologia como ferramenta simbólica
– Objeto, Imagem e Corpo
– Didática do Ensino Superior
– Técnicas Expressivas e Vivências em Psicologia Analítica I E II
– Metodologia da Pesquisa
– Psicopatologias e Psicologia Analítica I E II

PÚBLICO ALVO: Psicólogos e profissionais das áreas de humanas.

DURAÇÃO: 12 meses (mais o período de entrega do TCC)

CARGA HORÁRIA: 420 horas/aula

PERIODICIDADE: Um final de semana por mês (sábado e domingo de 8h às 18h)

LOCAL DAS AULAS
Centro de Formação Martim Lutero
Rua Engenheiro Fábio Ruschi, 161, Bento Ferreira – Vitória/ES

INVESTIMENTO
Taxa de matrícula: 200,00
Mensalidade: 24 parcelas de R$324,00

PARA OS ALUNOS INSCRITOS ATÉ O DIA 30/11 VALOR PROMOCIONAL DE 24xR$249,00.

Certificadora: UNIFIA – CENTRO UNIVERSITÁRIO AMPARENSE – Mantenedora – UNISEPE – O Centro Universitário Amparense credenciado pela Portaria 195, de 23.01.2006, publicada à pág. 12 , Seção I do DOU nº 17, de 24.01.2006.

INSCRIÇÕES
cognitiva@institutocognitiva.com
www.institutocognitiva.com
(27)99696-8478

Publicado em curso | Deixe um comentário

Lançamento do Livro: A VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE: o olhar da psicologia Junguiana

Acaba de ser lançado mais um livro de grande interesse para a comunidade junguiana “A VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE: o olhar da psicologia Junguiana”. Organizam esse livro Sandra Amorim e Marcelo Moreira Neumann. Sandra Amorim já vem de um percurso organizando trabalhos importantes como “A Psicologia Junguiana entra no Hospital” e ” Jung e Saúde – Temas Contemporâneos” ambos com a parceria de Fernanda Aprile.  Acredito que esse novo trabalho com Marcelo Neumann pode ser uma grande contribuição ao pensamento junguiano. Abaixo eu apresento os dados oferecidos pela editora.

Sumário:
– Resiliência e Trauma: Experiências de um trabalho com crianças e adolescentes na abordagem analítica. (Amana Perrucci Machado Comfort, Camila Parducci, Cassia Frankenthal Quinlan, Mariana Cancoro de Matos, Renata Alexopoulos)

-Violência em Estados Borderline (Marcelo Niel)

– O Olhar sobre a violência contra a pessoa idosa: Reflexões a partir do filme ” A balada de Narayama” ( Adriana Leopold)
– Violência Sexual à Luz do Mito de Persérfone: Contribuições da Mitanálise (Sandra Amorim)

– O Processo de Representar o corpo do Ego com novas Roupagens : Considerações sobre Vítimas de queimadura (Karina Toledo Souza Silva).

– Arte e Cultura X Conflito com a Lei: resquícios de violência(Ester de Souza Santos, Guilherme Scandiucci)

– As Filhas de Lilith: Reações frente à violência contra a mulher e o feminino arquetípico( Ana Lúcia Ramos Pandini; Raul Alves Barreto Lima)

-Violência Psiquica: o poder da palavra no processo de individuação (Renata Lang Stapani, Roberta Souza Mattos)

– Contratransferência e Violência ( Fabiana Haddad Kurbhi)

– Adicção e Violência emocional: o prazer que destrói (Karina Simão)

– Desenho-Lazer-Desenho: analise de desenhos de crianças abrigadas através da psicologia analítica (Tiago André Alves da Rocha)

– Bullying: Os descaminhos do herói ao ingressar na adolescência(Pedro Carvalho Santos)

– A Violência Emocional – Sutil, devastadora e Silenciosa (Anyara Menezes Lasheras)

-Contribuições Acadêmicas para estudos do trauma e violações dos direitos humanos com enfoque na psicologia analítica (Marcelo Moreira Neumann).

 

Compre no site da editora: http://goo.gl/fzPuIR

A VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE: o olhar da psicologia Junguiana
Autor(es): Sandra Amorim – Marcelo Moreira Neumann (Orgs.)
ISBN: 978-85-444-0519-2
Editora: EDITORA CRV
Distribuidora: EDITORA CRV
Disponibilidade: 5 Dia(s)
Número de páginas: 270
Ano de Edição: 2015
Formato do Livro: 16×23
Número da Edição: 1

“Olhar o presente, dentro de uma determinada cultura, apoiando-se em uma teoria tão consistente como a que embasa esta obra é um ato intelectual ousado. Se a teoria proposta por Carl Gustav Jung se destinou, especialmente à intrincada técnica para integrar os diferentes estados da personalidade, buscando que o inconsciente pessoal e o coletivo se afinassem a fim de que fosse alcançado um estado de individuação, imagine a dificuldade em estender esta discussão para as realidades grupais vividas num país como o Brasil e suas formas particulares de violência.
É um livro de duras realidades, no qual a seriedade do escopo teórico se faz presente de maneira tão bem estruturada, que chega a derramar, sobre o leitor atento, expectativas e esperanças para árduas situações do cotidiano de mulheres, crianças, adolescentes e idosos em situação de violências de naturezas diversas.
Os autores colocam com clareza a mão, o fazer e o pensamento de psicólogos analistas que se dispuseram a penetrar estes meandros das dores humanas; portanto, se destaca pela descrição da experiência e nela reside seu valor humanista, ressaltado nas reflexões e propostas de ações, que os autores oferecem ao leitor”.

Autor(es)
MARCELO MOREIRA NEUMANN
Psicólogo, Formado pela UMESP – Universidade Metodista de São Paulo, 1992; Coordenador do CRAMI- Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD – de 1993 a 2003; Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, pelo LACRI-IPUSP- 1996; Mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, 2002; Membro-fundador do Projeto Caminho de Volta – Busca de Crianças Desaparecidas da Faculdade de Medicina da USP e colaborador desde 2004; Doutor em Serviço Social pela PUC-SP pelo Núcleo da Criança e do Adolescente, 2010; Professor e Supervisor de Psicologia Jurídica e de Políticas Públicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2005; Pesquisador do IPUSP – Laboratório de Estudos sobre o Preconceito desde 2009; Supervisor de CREAS de vários municípios do Estado de São Paulo. 

SANDRA AMORIM
Psicóloga, Formada pela PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1989; Especialista em Psicologia Hospitalar pelo HC-FMUSP – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1991; Especialista em Psicoterapia Junguiana de Abordagem Corporal pela EPPA – Escola Paulista de Psicologia Avançada, 1992; Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP-EPM – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, 2006; Integrante da equipe multidisciplinar no ambulatório especializado na assistência a vítimas de violência sexual do CRSM – Hospital Pérola Byington, de 2006 a 2011; Professora no Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2007; Psicóloga Clínica de orientação junguiana em consultório privado desde 1990.

Publicado em divulgação, Livros | Com a tag , , , | Deixe um comentário