O Livro Vermelho de Jung

 

(16 de julho de 2010)

Na próxima semana, está previsto o lançamento do “LIVRO VERMELHO” de Jung, uma obra lendária, pode-se dizer que é verdadeiro um sonho de consumo dos estudiosos em psicologia analítica. Apesar de toda festa que está sendo preparada para receber essa pérola, eu confesso que minha preocupação é maior que minha ansiedade. Isso porque  penso que se o livro em inglês vem gerando criticas mordazes, e já vemos isso matérias extremamente depreciativas em algumas revistas e jornais, em português a coisa deve ser muito pior…

Não me incomoda a  critica em si (todo junguiano já está acostumado com essas críticas), mas, a desinformação que essas criticas geram no publico em geral. É interessante como as criticas que eu tenho lido são tão infantis e pecam por uma coisa básica, esquecem que o livro vermelho foi uma tentativa de elaborar as experiências de imaginação ativa  de Jung. O que ele fez de forma cuidadosa e atenta, produzindo imagens belíssimas, e as narrativas (em algumas partes) em  caligrafia gótica, ao longo de 16 anos.E não podemos perder de vista, que as experiências da imaginação ativa devem fazer sentido para quem as vive, logo, é inútil criar conjecturas e julgamentos acerca de Jung e sua “sanidade” a partir do livro (que na realidade estava mais para diário), pois que a “chave de compreensão” do livro vermelho deixou de existir em 1961.

Por outro lado, muitos ignoram (ou preferem ignorar) que o inicio da psicanálise foi traumático para grande parte do circulo psicanalítico – próximo de Freud – segundo o levantamento histórico feito pelo dr. Isaias Paim (2001) 13(treze) dos pioneiros da psicanálise cometeram suicídio (foram eles: Wilhelm Stekel, Victor Tausk, Paul Federn,  Herbert Silberer, Otto Gross, Max Kahane, Karl Schrötter, Eugénie Sokolnicka, Karin Stephen, Tatiana Rosenthal, Monroe Meyer, Martin Willian Peck, Johann Jakob Honegger), outros tiveram destino tragico, como Karl Abraham que insistiu em fazer uma cirurgia da qual sabia não haveria chance de sair com vida, Hermine von Hug-Hellmuth, foi assassinada por um ex-paciente (que também era seu sobrinho do qual foi analista); Ruth Mack Brunswick se tornou dependente de morfina, e outros 8(oito) desses pioneiros terminaram a vida em surto psicótico (foram eles Sándor Frerenczi, Wilhelm Reich, Otto Rank, Gregory Zilboorg, Jenö Harnik, Ernest Jones, Otto Finichel e Horace W. Frink).

Muitos dos pioneiros da investigação do inconsciente sucumbiram, Jung por sua vez, suportou e pode ser produtivo, e viver uma vida longa (86 anos). Eu gostaria de citar duas outras pessoas que conheceram Jung, e nos possibilitam uma visão acerca dele. Em conversa com Miguel Serrano, acerca de símbolos e falando de Jung,   Hermann Hesse (premio Nobel de literatura, autor do “O jogo das contas de Vidro”, “ O lobo da Estepe”, “Sidarta”, “Demian” dentre outros) disse

“(…) Mas, voltando a Jung, creio ele tem o direito de interpretar os símbolos. E sabe por quê? Por que Jung é uma montanha ime’’nsa, um gênio extraordinário…Ele esteve doente recentemente… conheci-o através de um amigo comum que também se interessava pela interpretação dos símbolos. Faz anos que não o vejo. Se voltar a encontra-lo, dê-lhe lembranças do Lobo da Estepe.

E sorriu alegremente”  

(SERRANO, 1973,.p28)

Outra fala que me chamou a atenção, foi de Mircea Eliade, no livro de entrevistas “ A prova do Labirinto”, ele diz

—Sinto uma grande admiração pelo Jung, pelo pensador e pelo homem que foi. Conheci-lhe em 1950, com motivo das «Conferências Eranos» de Ascona. depois de meia hora de conversação, parecia-me que estava escutando a um sábio chinês ou a um velho aldeão da Europa oriental, ainda enraizado na Terra Mãe, mas já muito perto do céu. Fascinava-me a admirável simpatia de sua presença, sua espontaneidade, a erudição e o humor de sua conversação. Na época tinha setenta e cinco anos.
Depois voltei a ver-lhe quase todos os anos, em Ascona, ou em Zurique; a última vez, um ano antes de sua morte, em 1960. A cada encontro sentia profundamente impressionado pela plenitude, a «sabedoria» atrevo-me a dizer, de sua vida.

Acredito que o livro vermelho mostra, sobretudo, a seriedade com qual Jung lidava consigo mesmo. O trabalho que teve com o próprio inconsciente – e o cuidado de elaborar suas experiências no livro vermelho, mostra sua coerência, pois, o que ele sugeria aos clientes ele mesmo fazia. Apesar de classificarem as experiências de Jung como doentias ou fruto de uma psique doente, ele nos dá uma perspectiva fundamental para compreendamos suas experiências, ele diz “ o que o médico não suporta, o paciente também não vai suportar”(JUNG. 1999. p.122) O livro vermelho é uma testemunha do que Jung suportou, e nos ajuda a compreender porque  ele é tão respeitado.

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abaixo estão os dados da vozes para quem quiser compra-lo.

“O livro inacabado de Jung, que apenas os amigos mais próximos tiveram acesso,conta com um caderno iconográfico com imagens do manuscrito original,assim como pinturas feitas pelo próprio Jung, e tradução com referências e notas do editor.

404 páginas / acabamento com capa dura e sobrecapa.
Lombada de 5 cm / peso: 4.200 gramas

Preço normal: R$ 480,00
Preço promocional de pré-venda : R$ 384,00

www.universovozes.com.br

Referências:

SERRANO,M. O circulo Hermético, Brasiliense: São Paulo, 1973

JUNG, C.G., Ab-reação, análise de sonhos, transferência, Vozes: Petrópolis, 4 ed. 1999

PAIM, I. Luz e Trevas,  Editora UFMS: Campo Grande., 2001.

 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

www.psicologiaanalitica.com

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